A banda Skank desembarca no Recife neste sábado (15) para a última passagem por Pernambuco, após anunciar a separação "por tempo indeterminado". Sucessos de 30 anos de carreira serão embalados em apresentação no Classic Hall, em Olinda.
A decisão do grupo foi tomada em novembro de 2019, antes da pandemia de Covid-19. Samuel Rosa (guitarra e voz), Lelo Zanetti (baixo), Henrique Portugal (teclados) e Haroldo Ferretti (bateria) anunciaram que haviam decidido optar "por experimentar caminhos individuais".
A turnê, adiada pelo coronavírus, é a forma de se despedir ao som dos hits que embalaram trilhas sonoras, namoros e festas desde o início dos anos 1990 no país. Referência do rock nacional, o Skank tem nove álbuns de estúdio e mais de 5 milhões de unidades vendidas, além de três álbuns gravados ao vivo e 25 inserções em trilhas sonoras de novelas.
Entre os mais de 40 singles do grupo, o repertório do show também conta com os destaques "Garota Nacional" e "Vou Deixar", além de hits recentes como "Algo Parecido" e o single dedicado à turnê de despedida, "Simplesmente".
Em entrevista ao JC, Henrique Portugal comentou sobre as emoções da despedida, possível retorno e o papel do rock no cenário político atual. Confira:
Entrevista - Henrique Portugal, do Skank
O Skank já fez muitas turnês. Qual a sensação de fazer essa, antes de uma pausa sem retorno previsto?
Tem sido das melhores. A sensação é de muitos momentos emocionantes dos shows tem sido muito fortes, muito cheio, a gente tocando muita música conhecida, então tem muita participação do público. É uma turnê inesquecível.
Por que anunciar esse "fim" de uma vez e não um "até logo", depois que os membros se dedicassem aos seus possíveis trabalhos solos?
A gente não parou para pensar num depois. Só sentamos e conversamos para não parar. Ninguém quando anuncia uma separação já define uma volta. A gente tá buscando curtir esse momento. Buscando celebrar com todas as pessoas que fizeram parte da nossa carreira. O Skank foi a trilha-sonora na vida de muita gente. É uma celebração muito grande. Talvez um dia a gente volte, mas deixa mais pra frente. O mais importante é a gente celebrar os momentos maravilhosos, com grandes shows, emoções fortes. Sempre que algo está terminando, você tem sempre uma reflexão em cima disso. Estamos preocupados com isso: celebrar com as pessoas que sempre estiveram do nosso lado.
Acredita que o Skank ainda pegou a influência do B-rock e da redemocratização da década passada em suas composições?
Eu acho que o rock brasileiro, é muito mais um pop-rock brasileiro. Tem muita coisa que aconteceu. Estamos falando dessa definição do que é b-rock, que começou muito nos anos 1980 e se estendeu com características diferentes nos anos 1990 e no início dos anos 2000. É legal sempre você ter a liberdade. É uma forma de questionar a sociedade. O rock já fez muito isso. Atualmente, essa liberdade pertence muito mais aos estilos urbanos, principalmente o hip hop. O rock fez a sua parcela de questionamento. O princípio de questionar a sociedade é que autorregula a sociedade. A música tem esse papel importante. O que procuramos fazer neste ano de carreira foi falar um pouco sobre isso.
Muitas bandas do rock nacional seguem juntas e na ativa. Por que acredita que existe essa longevidade?
Eu acho que é difícil falar sobre outras bandas. O Skank ter 30 anos é uma longevidade muito grande, procuramos ser criativos, lançar alguns álbuns, e chegamos na decisão de que agora cada um deve seguir sonhos individuais, que a nossa agenda não possibilita. A vida de uma certa forma é um grande cotidiano. O grande desafio é você tornar o cotidiano interessante. Acho que nós do Skank sempre buscamos isso, tanto que a gente mudou bastante de referências musicais.
O Brasil vive um momento de muitas tensões políticas. Poderia o rock registrar isso, como fez durante o final do século passado?
O Brasil está num momento difícil, complicado, com muita polarização. Essa é uma característica da sociedade atual, pois o empoderamento das pessoas com o acesso ilimitado às informações deu voz a todo mundo. Eu acho que a gente ainda não entendeu como usar todo esse poder que nós ganhamos. Não basta só a gente saber falar, a gente tem que voltar a escutar. Sermos mais tolerantes. Vivemos em sociedade, onde a gente compartilha muita coisa, espaços comuns nas cidades e vários outros valores. O rock teve uma força muito grande, principalmente nos 1960, 1970 e depois nos 1980. Isso foi mudando e tal. Acho que foi isso. O ser humano de uma forma geral precisa repensar isso. Diríamos que estamos na adolescência desse empoderamento global que a gente ganhou de graça com a chegada da internet e todas essas ferramentas digitais.
Acredita que o rock ainda voltará a ser tendência no mundo do streaming/redes sociais?
Eu digo que o Brasil não é muito do rock, ele é mais do pop rock. Alguns países latinos como Chile, Argentina, principalmente a Argentina, tem o rock mais forte na sua cultura. A Argentina é um país mais europeu, tem uma conexão mais forte com a Europa. O rock não é uma ferramenta muito forte, pois o Brasil é muito rico em ritmos. A nossa música tem um outro jeito de pensar. Não tô falando que a gente não questione a sociedade: a gente tem o samba e a MPB, que questionaram a sociedade, principalmente os anos 70. Atualmente, pra mim, o grande questionador é o hip hop. Quando falamos de rock, penso que seja sobre pensar diferente. Acho que você pode pensar diferente, não só através de um estilo musical: que seja na sua postura, na hora de analisar as coisas e fazer sua escolha nas urnas. O que mais precisamos neste momento é de tolerância, acho que a gente perdeu muito isso. A palavra tolerância talvez seja muito boa para voltar a entender o que significam as coisas.
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