Na estrada desde o início dos anos 1970, Alceu Valença, de 76 anos, foi o homenageado do prêmio da UBC (União Brasileira de Compositores) que ocorreu no Rio de Janeiro na última terça-feira. Alceu também lançou ontem, no Espaço Unimed, em São Paulo, o projeto Valencias II, ao lado da Orquestra Ouro Preto, regida pelo maestro Rodrigo Toffolo.
Gravado em Portugal, na Casa da Música, no Porto, o álbum foi lançado recentemente em CD e DVD, 12 anos após seu primeiro volume.
"Valencias II" tem em seu repertório músicas como Tomara, Borboleta, Táxi Luna NILO CASALETTI r, Na Primeira Manhã e Solidão.
Parte de uma obra que, de acordo com a UBC, já soma 311 composições registradas - feitas, segundo Alceu, sempre em surtos criativos e com alta dose de rebeldia.
Em conversa com o Estadão, Alceu lembrou o difícil começo de carreira e falou sobre sua música, que classifica como universal: "Ela é brasileira (não apenas nordestina), da mesma maneira como a feita por Zeca Pagodinho, Caetano Veloso ou Chico Buarque".
Você é o homenageado do ano pela UBC. Partindo do ofício de compositor, você faz parte de uma geração que também atua como cantores e músicos. Como foi buscar seu espaço?
Difícil. Eu me lembro que conheci Geraldo Azevedo, que é de Pernambuco, no Rio. Começamos a tentar aparecer e o pessoal do Rio dizia que a gente deveria ir para São Paulo. O de São Paulo dizia que a gente devia voltar pro Rio. Até que um dia um produtor convenceu a diretoria da gravadora a gravar um disco nosso (Quadrafônico - Alceu Valença & Geraldo Azevedo, de 1972). Gravamos, e não aconteceu nada! Participamos do Festival Internacional da Canção e, de novo, não deu em nada. Depois, um integrante da TV Globo falou com o João Araújo (da Som Livre à época) e eu fiz meu primeiro disco, o Molhado de Suor (1974). Nada, mais uma vez. Em seguida, participei do Festival Abertura com Vou Danado Pra Catende, e criaram um "prêmio pesquisa". Minha figura ficou marcada. Minhas canções, de fato, eram complicadas de colocar nas rádios.
O sucesso chegou com 'Coração Bobo', em 1980. Foi você que encontrou o público ou o público que entendeu seu trabalho?
Nunca ninguém me disse o que tenho de fazer. Nem meus professores, nunca gostei de imposição. O artista não pode perder sua rebeldia infantil. Ouço os produtores - um deles, genial, é Guto Graça Mello, com quem fiz dois discos. Mas sempre faço do meu jeito.
Você nunca se afastou muito da música nordestina?
Crio o que está no HD da minha memória, sobretudo a infantil. Minha memória está no canto dos vaqueiros da caatinga, na feira de São Bento onde tem o sanfoneiro de oito baixos, o violeiro fazendo desafio, a literatura de cordel. Como é a música nordestina? Não sei. Quando você toca uma música de Tom Jobim, ela é universal. Coração Bobo, então, também é universal. Minha música é brasileira, assim como a feita por Zeca Pagodinho, Caetano ou Chico Buarque.
Já tem novos projetos?
Estou compondo algumas músicas. Em casa, na rua, na estrada. Só coloco a letra na hora que eu quero, são surtos criativos. Sou compositor só na hora de fazer a música. Só me sinto cantor quando estou no palco. Gosto de andar na rua, mas agora tem esse negócio de selfie. Só não consigo entender que sou famoso.
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