‘A literatura está viva e se movimentando’, diz Raimundo Carrero em debate com Flávia Suassuna e Fábio Lucas
Imortais da Academia Pernambucana de Letras (APL) comentaram sobre desafios e novas movimentações da cena literária em programa da Rádio Jornal
O desafio contemporâneo da propagação da literatura, o estímulo aos novos leitores e o alvorecer de uma nova cena literária pernambucana foram alguns dos principais temas abordados durante uma conversa entre os imortais da Academia Pernambucana de Letras (APL) Raimundo Carrero, Flávia Suassuna e Fábio Lucas, titular da coluna Literária no JC, na Rádio Jornal, nesta sexta-feira (5).
O debate "Literatura Pernambucana: Histórias, Tradição e Curiosidades", realizado no programa Super Manhã, contou com a apresentação de Natália Ribeiro. "A literatura não é uma coisa morta, não. É uma coisa viva, que está se movimentando", frisou Carrero, um dos escritores pernambucanos de maior destaque no cenário da literatura brasileira.
Todos participantes convergiram para a necessidade da realização de oficinas e leituras em grupo para superar o desafio da formação de novos leitores interessados no texto literário. "A pesca não é de rede, é de anzol", comparou Suassuna.
Formação de leitores
O Centro Cultural Raimundo Carrero, por exemplo, terá como principal objetivo promover conversas sobre literatura. "Queremos levar autores inéditos e recitar poemas. Será escolhido um poema por mês. Esse poema será levado ao YouTube junto com uma ilustração, para tornar a obra mais complexa e aberta", explicou o escritor.
"Então, são essas iniciativas que fazem as coisas circularem mais. É muito bom para a gente saber que muitas pessoas estão também pensando, questionando e recebendo a literatura."
Sobrinha de Ariano, Flávia Suassuna reforçou que é necessário fazer um esforço para levar a literatura adiante. "Na APL, existe um planejamento com Cícero Belmar para que a gente tenha conversas sobre literatura uma vez por mês, aos sábados. Às vezes, sinto um pouco de falta disso, de pessoas que gostam de poemas e os compreendem, por exemplo. Acho que essa partilha nos traz mais textos e compreensões."
Nova cena literária
Fábio Lucas comentou da importância da própria APL na busca de novos autores e leitores. "Qualquer academia literária precisa ter portas abertas para a sociedade e para qualquer pessoa que trabalhe com livros, e janelas abertas para ver o que está ocorrendo."
O escritor afirmou que vem acompanhando um movimento interessante de lançamento de livros e contos literários em Pernambuco. "Em Caruaru, por exemplo, existe uma editora nova e um pessoal que faz muitos eventos relacionados ao cordel".
"Vivemos um momento muito estimulante do ponto de vista do mercado editorial local, até por conta da facilidade tecnológica de hoje, quando é possível fazer pequenas tiragens e vender para amigos, gerando encontros e leituras."
Um exemplo de novo nome é Karina Asth, fluminense radicada em Pernambuco que venceu o Jabuti de romance de entretenimento com "Dentro do nosso silêncio". A escritora participou da citada oficina de Raimundo Carrero.
"Apesar de tantas coisas tristes, as mulheres estão cada vez mais escrevendo, sendo leitoras e editoras. A maior parte dos clubes de leitura são formados por mulheres", acrescentou.
Redes sociais e educação
Apesar da facilidade proporcionada pela tecnologia, Flávia Suassuna opinou que as redes sociais também estão deixando os indivíduos com "leituras empobrecidas". "Vivemos um momento de incompreensão e as redes não estão ajudando. Elas fazem uma hipertrofia dos nossos piores defeitos. Na vida real, somos mais tolerantes e compreensivos".
"A linguagem da literatura daria mais espaço para compreensão. Hoje em dia, inclusive, acho que diminuir a quantidade de aulas de literatura seja uma perda lastimável."
Sobre educação, Carrero comentou que "o livro nunca foi respeitado na escola". "Nunca li livro indicado por professor, não havia uma grande biblioteca na minha escola. Eu fico revoltado com o desprezo que a escola sempre deu ao livro. É quase impossível ensinar na literatura na escola", disse. "A escola sempre tratou mal o livro no Brasil."
Resultado de concurso
Fábio Lucas encerrou o debate informando que a APL, que está fazendo 123 anos neste mês de janeiro, vai divulgar o concurso literário promovido em 2023 para novos autores. "Recebemos mais de 600 títulos, em categorias como conto, romance e poesia. O volume de obras nos surpreendeu seja pela quantidade ou pela vontade das pessoas."