Após 14 anos, Cineteatro do Parque voltará a ter programação regular de cinema; confira
Com preços populares, equipamento irá prestigiar a produção audiovisual local e nacional; Teatro Apolo deve voltar a ser Cineteatro, com investimentos da Lei Paulo Gustavo
Após 14 anos, o Cineteatro do Parque voltará a ter programação regular de cinema. Reinaugurado no final de 2020, o espaço chegou a ter algumas sessões, como no caso das diversas exibições de "Retratos Fantasmas", de Kleber Mendonça Filho, além de receber festivais de audiovisual - muitos deles realizados anteriormente no Cinema São Luiz, que segue fechado.
Contudo, ainda faltava o retorno da programação fixa de cinema. Ao JC, a Secretaria de Cultura (Secult) e a Fundação de Cultura Cidade do Recife (FCCR) informaram que, "para este ano, o planejamento é retomar, no mês de março, a programação regular de audiovisual, com sessões de segunda a quarta-feira".
"Prestigiando, especialmente, a produção audiovisual local e nacional, mas também celebrando a história do cinema brasileiro e do mundo e apresentando novidades da telona para todos os perfis sociais e etários de públicos, sob os cuidados de uma curadoria", diz.
Preço popular e curadoria
O preço será popular, uma marca registrada desse equipamento, que viveu um dos seus picos de popularidade nos anos 1990, durante a gestão do saudoso programador Geraldo Pinho - sucedido por Marcos Henrique Lopes, Ernesto Barros e Sérgio Dantas.
Atualmente, Luciana Poncioni responde pelo segmento, na FCCR, devendo, portanto, coordenar o processo de curadoria que pode vir a contar com contribuições externas.
De acordo com a Prefeitura, a curadoria trará um "olhar atento à produção audiovisual local", inclusive aquela viabilizada por editais públicos de fomento.
Cineteatro Apolo de volta?
Ainda existe uma perspectiva para o retorno de outro cinema de rua no Centro: o do Teatro Apolo - que opera sem cinema desde 2015. De acordo com a Prefeitura, o Apolo será um dos próximos equipamentos a receber benfeitorias da ação MOVE Cultura.
"A propósito, este importante e histórico espaço cultural recifense tem, no planejamento da Secult/FCCR, a perspectiva de reassumir o seu papel original de Cineteatro, estando este investimento para tal fim previsto nos recursos da Lei Paulo Gustavo", diz a nota.
Vale ressaltar que a Lei Paulo Gustavo, por ser oriunda do Fundo Setorial do Audiovisual - FSA, do Governo Federal, tem recursos exclusivos para cinema. O Governo do Estado também utilizou recursos da lei para o Cinema São Luiz e o Museu da Imagem e do Som, fechado há 15 anos.
Parque nasceu para a sétima arte
Inaugurado em 1915, o Cineteatro do Parque já nasceu com uma sala de cinema - fato desconhecido por muitos. "As pessoas chamavam de 'teatro de cinema' naquele tempo, como até hoje se chama nos Estados Unidos - movie-theatres", explica o jornalista André Dib, co-autor de "Antologia da Crítica Pernambucana: Discursos sobre Cinema na Imprensa (1924-1948)" (Cepe).
O Parque tornou-se o primeiro cinema sonoro de Pernambuco no final dos anos 1920. Nos antigos cinemas, as películas mudas eram projetadas enquanto um LP rodava, muitas vezes sem sincronia com o filme. "O Severiano Ribeiro resolveu investir pesado na modernização do Parque, que concorria com o Moderno. Com a reforma, tornou-se a principal sala da cidade e se manteve assim por um bom tempo", diz Dib.
"O espaço foi perdendo o prestígio com a modernização de outros cinemas, mas se manteve como uma das principais salas até a abertura do São Luiz, em 1952, que também era do Severiano Ribeiro e foi construído pensando nas técnicas modernas de exibição. O Parque tem uma arquitetura de uma outra época."
Cinema público há 70 anos
A Prefeitura do Recife desapropriou o Parque nas vésperas da inauguração do São Luiz, implementando uma programação em sintonia com o cinema educativo da época. "A ideia de um cinema educativo estava em voga no país todo, muito por conta do Instituto Nacional de Cinema, no Rio de Janeiro. Aqui, essa ideia foi sediada no Parque."
Na segunda metade do século 20, o espaço teve programadores como Celso Marconi (que já exibia lá antes de ser programador, com o Projeto Cinema de Arte), falecido recentemente. Diante da utilização do teatro para diversas linguagens, o espaço para o cinema ficou nas segundas e terças.
Durante a gestão de Geraldo Pinho (1993-2002), a sétima arte também ganhou programação na quarta-feira, diante do sucesso de público. "Ele teve a sensibilidade de perceber que existiam filmes interessantes que não chegavam no Recife e passou negociar com as distribuidoras, inclusive alguns filmes 'requentados', que já haviam encerrado a temporada em cartaz. Foi um sucesso absurdo" diz Luiz Joaquim, jornalista e curador do Cinema da Fundação.
"Essa estrutura que Geraldo 'bolou' se desenvolveu super bem e não se descolou do Parque nas gestões seguintes, com Marcos Henrique Lopes, Ernesto Barros e Sérgio Dantas. Eles deram continuidade às mostras, aos festivais e espaço para uma cinematografia nova e mundial", diz.
"No seu melhor momento, que foi a década de 1990, o Parque apresentou ao Recife, por exemplo, o cinema iraniano. Também existia um festival chamado Mundo Mix, dedicado ao cinema que falava do universo LGBTQIA+", relembra.
Com o retorno das sessões regulares, então, o Parque abraça a tradição que originou a sua inauguração.