Terror 'MaXXXine' encerra trilogia instável e incapaz de criar a própria história
Longa-metragem com Mia Goth começa bem, com clima e boas atuações, mas se perde de maneira quase trágica, como um cinema juvenil, que falta crescer
Mesmo sem grande bilheteria, pode-se dizer que o filme X: A Marca da Morte deu muito certo. Fez barulho na bolha cinéfila, criou expectativa e, mesmo refém da pirataria pela péssima distribuição ao redor do mundo, colocou a protagonista Mia Goth, neta da atriz brasileira Maria Gladys, em outro patamar.
E é assim que MaXXXine, terceiro filme dessa trilogia, ainda com Pearl no meio do caminho, chegou aos cinemas na última quinta-feira (11).
Há muita expectativa em saber qual caminho o diretor Ti West seguirá nesse fim de ciclo. Afinal, X: A Marca da Morte é um amontoado de referências de filmes de slasher, principalmente O Massacre da Serra Elétrica. Pearl é o melhor de todos, brincando com o visual da era de ouro de Hollywood. E, enfim, o que será que sobrou para o novo filme?
Enredo
O que existe aqui é apenas um tênue fio narrativo: Maxine (Goth) retorna seis anos após os acontecimentos de X. Está obviamente traumatizada, mas quer seguir carreira no cinema, afastando-se como possível da pornografia. Nessa busca, é selecionada para ser a protagonista de um novo filme de terror. É, enfim, o destino que ela sempre sonhou.
O problema surge quando um assassino misterioso, com luvas de couro e rosto escondido por uma meia, começa a matar as pessoas ao seu redor. Como sobreviver? É nessa busca e ideia que Maxine se move, enquanto personagem e enquanto cinema, tentando mudar de vida ao mesmo tempo em que o mundo a persegue. A morte, aqui, não é uma opção.
Um mundo de Judy Garland e Marilyn Monroe
West volta a falar sobre o tema que lhe é caro: a crueldade com a busca pela fama. Não é à toa, claro, que MaXXXine começa com a célebre frase de Bette Davis de que "até que você seja conhecido na minha profissão como um monstro, você não é uma estrela". É isso que norteia a trilogia e, é claro, tudo o que há ao redor de Maxine: ambição, ideias e monstros.
A grande questão, porém, é que esse assunto já parece um tanto esgotado: já foi falado sobre isso em X e Pearl, o único que lidou de maneira acima da média. MaXXXine, no fim das contas, não sabe ir além na conversa. A diferença mora nas referências que West usa aqui: passa a ter mais a ver com o giallo, Pânico e Psicose (com uma cena terrível, aliás).
O novo longa fica, assim, soterrado por referências e nunca consegue escapar disso para dizer algo de novo. Há uma tentativa de falar sobre como Hollywood é pudica quando quer, mas não vai além - afinal, o próprio filme acaba sendo revestido de um melindre exagerado.
Discurso confuso
Talvez a única novidade more nos 20 minutos finais, quando somos apresentados à identidade do tal assassino e West, de maneira torta, tenta falar sobre um problema que aflige o cinema há décadas, mas acaba recaindo em outro sentimento.
E é aí que Ti West, mesmo com uma boa oportunidade, erra o caminho. O filme se torna brega, bobo, confortável. Maxine não é mais vítima de Hollywood, mas vítima do sistema que trabalha contra a indústria do cinema. O discurso fica confuso, até mesmo atravessado, e ninguém entende nada: a protagonista ainda está longe de ser uma estrela e, do nada, sem motivo algum, se torna tão vítima quanto todo o resto. Parece que West, em sua ânsia de concluir o filme de maneira grandiosa, não percebeu essa armadilha. Caiu feito pato.
Mia Goth continua muito bem, brilhante no papel de Maxine. No elenco, também é preciso destacar o bom papel de Giancarlo Esposito como o agente bizarro da protagonista, que rouba a cena quando aparece, e principalmente de Kevin Bacon, emulando o personagem de Jack Nicholson em Chinatown. Também fica o destaque positivo para a fotografia, que sabe emular o clima de cinema dos anos 1980 - luz estourada e um desfoque exagerado.
De resto, é difícil pinçar o que MaXXXine traz de bom. É um filme que começa bem, com clima e boas atuações, mas que se perde de maneira quase trágica. No final, Pearl se torna apenas um ponto fora da curva em uma trilogia que traz mais instabilidade sufocada por um punhado de referências do que boas histórias. É um cinema juvenil, que falta crescer. Afinal, referências são boas apenas para quem não sabe contar sua própria história.