ARTES VISUAIS

Museu Homem do Nordeste faz 'autocrítica institucional' ao expor obras de mulheres

"Elas: onde estão as mulheres nos acervos da Fundaj?" reúne cerca de 300 itens produzidos ou reunidos por mulheres, reinaugurando 1º andar do museu

Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 14/08/2024 às 15:02
"Engenho de Rapadura" (1959), de Djanira da Motta e Silva, integra a exposição "Elas", do Museu do Homem do Nordeste - DIVULGAÇÃO

Fundado em 1979, pelo sociólogo Gilberto Freyre, o Museu do Homem do Nordeste - Muhne traz em seu nome um conjunto de pensamentos da época da sua inauguração. O equipamento vinculado à Fundação Joaquim Nabuco não passou incólume pelos questionamentos de nosso tempo. "Por que um museu do homem e não da pessoa do Nordeste?".

A exposição que celebra os 45 anos do Muhne tenta, de alguma forma, responder a essa pergunta com outro questionamento. A mostra "Elas: onde estão as mulheres nos acervos da Fundaj?" reúne cerca de 300 itens produzidos ou reunidos por mulheres, como publicações, vídeos, fotografias, obras de arte, discos, rótulos comerciais, cartões-postais e outras peças preservadas pela Fundaj.

A mostra também vai ampliar a área de exibição do Museu em 450m², marcando a reabertura do primeiro andar, fechado desde 2008. O Cehibra e o Muhne são vinculados à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundaj.

Autocrítica institucional

"O nome 'Homem do Nordeste' reflete muito o ponto de vista cultural de quatro ou cinco décadas atrás, com uma visão patriarcal que imperava. Deve ter sido natural que Freyre e as pessoas que dirigiam a Fundação o denominasse assim", diz Túlio Velho Barreto, diretor da Dimeca.

"Existia no mundo outros museus que eram denominavam dessa forma. Se referiam ao homem com toda a humanidade. Hoje, a Fundaj é presidida por uma mulher. Então, tudo isso contou para que a nossa equipe propusesse essa exposição na Dimeca."

Assim, a mostra "Elas" acaba sendo um exercício de autocrítica institucional e um aceno para um horizonte de mudanças, propondo reflexões sobre o que é ser mulher na sociedade.

Exposição "Elas: onde estão as mulheres nos acervos da Fundaj?", do Museu do Homem do Nordeste (Muhne) - DIVULGAÇÃO
Exposição "Elas: onde estão as mulheres nos acervos da Fundaj?", do Museu do Homem do Nordeste (Muhne) - DIVULGAÇÃO
Exposição "Elas: onde estão as mulheres nos acervos da Fundaj?", do Museu do Homem do Nordeste (Muhne) - DIVULGAÇÃO
Exposição "Elas: onde estão as mulheres nos acervos da Fundaj?", do Museu do Homem do Nordeste (Muhne) - DIVULGAÇÃO

A mostra tem curadoria de Sílvia Barreto, chefe do Serviço de Estudos Museais do Muhne; Sylvia Couceiro, coordenadora do Centro de Documentação e Pesquisa (Cdoc) do Cehibra; Cibele Barbosa, pesquisadora e historiadora do Cehibra; e Henrique Cruz e Albino Oliveira, museólogos do Muhne.

"A exposição tem significado especial para todas as mulheres e homens do nosso país, de Pernambuco e da Fundação Joaquim Nabuco porque traz um olhar direcionado para toda a riqueza do universo feminino. É uma exposição muito significativa, que narra a história tanto da formação do acervo quanto da própria Fundação", destaca Márcia Angela Aguiar, presidenta da Fundaj.

Espaços da Fundaj

Ainda de acordo com Túlio Velho Barreto, o retorno do primeiro andar do Munhe faz parte da vontade da atual gestão de utilizar os espaços já existentes para oferecer mas atividades culturais, de pesquisa e formação.

"Pegamos a herança de seis anos de gestões que não tiveram o cuidado de fazer a manutenção de nossos equipamentos. Tivemos a pandemia durante dois anos, mas os espaços não podiam ficar sem manutenção", critica.

Museu do Homem do Nordeste é um dos mais importantes museus do Recife - ALEXANDRE BELEM / ACERVO JC IMAGEM

"Também temos uma série de propostas para dinamizar o Engenho Massangana, que é do Estado e está com a Fundaj através de um comodato. Teremos mais atividades permanentes, voltadas sobretudo para a população do entorno, que tem menos acesso a equipamentos culturais. Nesse sentido, vamos desenvolver projetos no âmbito educativo."

Ainda nesse aspecto, está o Cineclube da Fundação, projeto que ocupa a Sala João Cardoso Ayres, localizada no Campus Derby. "Recife e Olinda tinham muitos cineclubes, que ocupavam um espaço importantíssimo para mostras temáticas, e isso foi se perdendo", diz Velho Barreto.

Cinemateca

De acordo com o diretor da Dimeca, também deve ser feito um trabalho para reunir as 'duas cinematecas' que existem dentro da instituição. "O cineasta e crítico Fernando Spencer guardou diversas mídias por aqui, na época em que trabalhou na intuição", explica.

"Nos últimos anos, foi criada uma nova Cinemateca Pernambucana, que tem um conjunto muito grande de filmes. Então, temos uma questão interna para unir essas duas cinematecas. Isso via possibilitar juntar mais filmes, mas depende de um arranjo interno."

SERVIÇO
Abertura da exposição "Elas"
Abertura: nesta quinta-feira (15), às 17h
Visitação: terças às sextas, das 9h às 17h; feriado e finais e semana, das 13h às 17h
Onde: Museu do Homem do Nordeste (Avenida Dezessete de Agosto, 2187, Casa Forte, Recife)

Tags

Autor

Veja também

Webstories