Filme que denuncia exploração sexual infantil abre o Janela de Cinema 2024; confira programação
"Manas", de Marianna Brennand, chega ao Recife após conquistar o prêmio da crítica de Melhor Filme Brasileiro na Mostra Internacional de Cinema de SP
O longa-metragem "Manas", de Marianna Brennand, abre o 15º Janela Internacional de Cinema do Recife nesta sexta-feira (1º), a partir das 20h20. O evento marca a reabertura do Cinema São Luiz, uma das principais salas de rua do País, para o público.
Abordando a temática sensível da exploração sexual infantil, "Manas" chega ao Recife após conquistar o prêmio da crítica de Melhor Filme Brasileiro na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na última quarta-feira (30).
Com Dira Paes no elenco, o longa também levou o prêmio máximo da mostra Giornate Degli Autori, no Festival de Veneza, e o Prêmio Especial do Júri (concedido à atriz estreante Jamilli Corrêa), no Festival do Rio.
Mais cedo, o Janela exibe os curtas "East of Noon" (14h), "Sonho em Ruínas", de Pricila Nascimento (16h), "Tudo Que Imaginamos Como Luz" (17h30). À noite, ainda haverá a exibição do curta "Descamar", de Nicolau (22h40).
Enredo de 'Manas'
Rodado na Amazônia, o longa procura denunciar, de forma humanizada, a exploração sexual no Rio Tajapuru, na Ilha do Marajó (PA). Também marca o primeiro longa de ficção de Marianna Brennand, até então habituada com documentários.
O filme narra a história de Marcielle/Tielle (interpretada pela estreante Jamilli Corrêa), uma jovem de 13 anos que vive na Ilha do Marajó (PA) junto ao pai, Marcílio (Rômulo Braga), à mãe, Danielle (Fátima Macedo), e a três irmãos.
Marcielle cultua a imagem de Claudinha, sua irmã mais velha, que teria partido para bem longe após "arrumar um homem bom" nas balsas que passam pela região.
Conforme amadurece, ela vê ruírem muitas das suas idealizações e se percebe presa entre dois ambientes abusivos. Preocupada com a irmã mais nova e ciente de que o futuro não lhe reserva muitas opções, a personagem decide confrontar a engrenagem violenta que rege a sua família e as mulheres da sua comunidade.
Ficção
Em 2014, Marianna Brennand ganhou um edital de desenvolvimento de roteiro promovido pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) e deu início às pesquisas para o trabalho, que incluíram diversas viagens para a região.
De início, havia a intenção de realizar um documentário, mas a ideia foi abandonada. "Era inaceitável para mim como documentarista colocar à frente da câmera crianças, adolescentes e mulheres para recontarem situações de abuso pelas quais haviam passado. Seria cometer mais uma violência contra elas", diz Marianna.
"É um tema muito duro e complexo. O desafio era retratar não só uma dor física e emocional, mas também existencial, e isso foi algo que a ficção me permitiu trabalhar", diz.
"Busquei estabelecer uma espécie de mergulho sensorial que conectasse o espectador à experiência emocional da protagonista. Eu optei por fincar o filme - em todos os seus aspectos - em um hiper-naturalismo que se liga ao documental, abrindo mão de qualquer artifício que pudesse desviar da vivência dela e de seu inconsciente."
Elenco
Além da estreante Jamilli Corrêa, no papel principal, o longa ainda conta com Dira Paes, Fátima Macedo e Rômulo Braga, além de atores e atrizes locais da região.
Ao ser selecionada para viver a protagonista, Jamilli não tinha tinha qualquer experiência prévia com atuação. "Eu sempre brinco que ela foi atriz em vidas passadas. A gente só destravou algo que já estava dentro dela. A Jamilli é uma força da natureza", diz Brennand.
Já Dira Paes interpreta a policial Aretha. O papel foi construído baseado em pessoas reais como o delegado Rodrigo Amorim, conhecido por combater a exploração sexual infantil nas balsas da região.
"A personagem da Aretha foi escrita especialmente para a Dira, que foi uma grande parceira desde o começo. A Dira sempre foi um farol para mim, uma mulher que me inspira pelo seu ativismo, uma das grandes atrizes brasileiras e uma mulher paraense que conhece muito bem a realidade que abordamos no filme", comenta a diretora.
O brasiliense Rômulo Braga e a cearense Fátima Macedo, respectivamente nos papéis do pai e da mãe da personagem principal, completam o elenco principal do filme.
Diretora
A estreia de Marianna no cinema ocorreu com um documentário sobre o seu tio-avô Francisco, o criador da Oficina Francisco Brennand, no Recife. O longa estreou em 2012 e recebeu os troféus de Melhor Documentário Brasileiro - Prêmio Itamaraty e Melhor Filme Brasileiro - Prêmio Abraccine na 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Ainda no campo documental, Marianna dirigiu "O Coco, a Roda, o Pnêu e o Farol" (2007, Canal Brasil), sobre a rica tradição musical do "coco de roda” no bairro de Amaro Branco, em Olinda (PE), e produziu "Danado de Bom" (2016, direção de Deby Brennand).
Confira a programação do Janela de Cinema neste final de semana:
Sexta-feira (1º)
Cinema São Luiz
14h - East of Noon (2024, Egito/Países Baixos)
16h - Sonho em Ruínas (curta), de Pricila Nascimento (2024, PE) + Dahomey (2024, FRA/SENEGAL)
17h30 - Tudo Que Imaginamos Como Luz (2024, França, Índia, Itália, Luxemburgo, Países Baixos | DCP)
20h20 - ABERTURA - Manas (Sessão apresentada) (2024, BRA)
22h40 - Descamar (curta), de Nicolau (2024, BRA) + Carrie (1976, EUA)
Sábado (2)
Cinema São Luiz
11h - Love Streams, de John Cassavetes (1984, EUA)
14h40 - Os Hiperbóreos (2024, Chile)
16h15 - Competição de Curtas #1 + Debate
18h - O Pardal na Chaminé, de Ramon Zürcher (2024, Suiça)
20h15 - Ainda Não é Amanhã (Sessão com debate), de Milena Times (2024, BRA)
22h30 - Depois de Horas, de Martin Scorsese (1985, EUA)
Cinema do Museu
14h - Especial Quinzena dos Cineastas (Curtas) #
16h - Caught by The Tides, de Jia Zhangke (2024, China)
18h - Eros, de Rachel Daisy Ellis (sessão com debate) (2024, BRA)
20h30 - Grand tour, de Miguel Gomes (2024, Portugal/China/França/Alemanha/Itália/Japão)
Domingo (3)
Cinema São Luiz
11h - Ballon D'or, de Cheik Doukouré (1994, França, Guiné)
14h30 - Amadeus - Dir. Milo Forman (1984, EUA)
17h30 - Competição de Curtas #2 (61’) + Debate
19h30 - Ainda Estou Aqui (Sessão com debate) - Dir. Walter Sales (2024, BRA)
22h30 - Cucumber/Knife (Curta) - Gustavo Vinagre (2024, BRA) + Hedwig and The Angry Inch, de John Cameron Mitchell (2001, EUA)
Cinema do Museu
16h - Especial Quinzena dos Cineastas (Curtas) #2
18h - Alegoria Urbana - Dir. Alice Rohrwacher, JR (2024, França) + Não Sou Eu - Dir. Leos Carax (2024, França)
20h - Mulher Maracatu, de Dani Cano e Carlota Pereira (2024, BRA) + Terror Mandelão (Sessão com debate), de Felipe Larozza e GG Albuquerque (2024, BRA)