Walter Salles diz que sessão de 'Ainda Estou Aqui' no Cinema São Luiz foi "a mais bonita de todas"
"Esse cinema é lugar de memória e resistência. Estar com vocês aqui foi algo inesquecível', disse diretor de filme com Fernanda Torres e Selton Mello
"Quero levar todos vocês para as próximas exibições, pois essa foi a mais bonita de todas", disse o cineasta Walter Salles, diretor de "Ainda Estou Aqui", após sessão no Festival Internacional Janela de Cinema do Recife, no Cinema São Luiz, Centro do Recife.
Com bilhetes que esgotaram em um minuto na plataforma de compras, a sessão ficou tão lotada que muita gente teve de sentar no chão, em frente à tela. "Não fiquem nos corredores. Venham para essa frente, que tinha cadeiras antes da reforma de 2010, como se fosse uma praia", pediu Kleber Mendonça Filho, diretor artístico do festival.
A disputa não ocorreu à toa. "Ainda Estou Aqui", protagonizado por Fernanda Torres e Selton Mello, foi selecionado para representar o Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar, tendo sido premiado no Festival de Veneza (Melhor Roteiro).
Antes da exibição, que contou com a presença da governadora Raquel Lyra (PSDB), Salles elogiou "Retratos Fantasmas" (2023), do cineasta pernambucano, por fazer uma verdadeira imersão no Cinema São Luiz, "que é o cinema mais bonito do Brasil".
"Esse cinema é lugar de memória e resistência. Estar com vocês aqui foi algo inesquecível. Vou ligar para Fernanda e tentar transmitir um pedaço daquilo que eu senti. Vai ser difícil."
'Não me sentia autorizado'
Após a exibição, Walter Salles participou de um breve debate, com mediação de Kleber Mendonça. O cineasta compartilhou que por muito tempo não se sentia à vontade para tratar o tema do filme: o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva no ápice da repressão da ditadura militar, em 1970.
"Essa história ficou comigo durante muito tempo, pulsando. Porém, eu jamais tinha pensado em fazer um filme; eu tinha pudor em tocar a câmera com essa história, na verdade. Não me sentia autorizado", disse.
"Até que saiu o livro do Marcelo [caçula do Rubens Paiva] e fiquei pensando se haveria uma adaptação possível. Também fomos contatndo as irmãs, que foram nos autorizando."
O processo de pesquisa e entrevistas durou sete anos. "Marcelo tinha dez anos quando os militares à paisana entraram em sua casa, então tínhamos de ouvir todo mundo."
"Pouco a pouco, foi sendo desenhada uma arquitetura possível para essa história. Eu queria recontar a intimidade daquela família, reencontrando a individualidade de cada um dos sete personagens. [...] Andrei Tarkovski dizia que só existe cinema quando você encontra a artéria do filme, que nesse caso foi a pulsação daquela família."
'Fernanda Torres elevou o filme'
Questionado sobre a experiência de trabalho com a atriz Fernanda Torres, Salles não poupou elogios.
"Ela elevou o filme como um todo e nos fez ser melhores do que nós somos realmente, assim como dona Fernanda (Montenegro) fez no "Central do Brasil", estabelecendo uma forma de representação que não é simples", disse.
O cineasta explicou que Torres conseguiu dar a tônica para acompanhar as mudanças da narrativa do filme.
"A partir do momento em que os policiais entram na casa da família, tudo se modifica. [...] Tudo torna-se um pouco mais subjetivo e impressionista, pois as pessoas não tinham liberdade para falar livremente", comenta.
"A interpretação da Fernanda não tinha uma faixa muito 'larga' porque a Eunice foi uma pessoa que existiu. Tínhamos de respeitar esse personagem. A atriz preciso transmitir todos os sentimentos possíveis dentro dessa faixa. As pessoas, os jovens, precisam ver a atriz que a gente tem."
Versão estendida
O diretor também ressaltou o desafio para Selton Mello construir o personagem de Rubens Paiva. "Ele ganhou 20 kg para fazer o papel, porém, mais do que isso, só existia uma fala gravada do Rubens, que era a sua reação ao golpe de 1964 em um programa de rádio. Só tínhamos isso e as fotografias."
Salles também revelou que existe uma versão estendida do longa-metragem que deixa mais clara a escolha do título "Ainda Estou Aqui". "Eu gosto muito dessa versão e um dia ela vai sair, mas não agora."
"Ainda Estou Aqui" estreia nas salas comerciais de cinema nesta quinta-feira (7) Já o Janela de Cinema segue até a sexta-feira (8), com exibições de filmes como "Kasa Branca", de Luciano Vidigal; "Um Dia Antes de Todos os Outros", de Valentina Homem; "Baby", de Marcelo Caetano; e "Malu", de Pedro Freire.