Por Luiz Carlos Merten, Agência Estado
Em 2010, talvez não fosse mera coincidência. No livro "Comer, Rezar, Amar", a autora Elizabeth Gilbert contava a história de uma certa Liz Gilbert que, após um rompimento traumático, embarcava numa jornada de autoconhecimento. A história virou filme de Ryan Murphy com Julia Roberts. A personagem dava uma volta ao mundo. Ia à Itália (comer), à Índia (rezar) e a Bali (amar). E, agora, será coincidência? Em Ingresso para o Paraíso, que estreou nos cinemas, Julia Roberts volta a Bali em outra jornada de autoconhecimento.
Sua personagem agora se chama Georgia. É casada com David (George Clooney). Estão separados há 19 anos e a situação segue mal resolvida. Não conseguem se encontrar sem trocar farpas. De cara, o filme começa na formatura da filha, Lily (Kaitlyn Dever) Na plateia, como se fosse uma competição — e não é? —, Georgia e David tentam gritar mais alto como amam a filha, como ela é maravilhosa. Formada em Direito, prestes a embarcar — daqui a três meses — na vida profissional, num grande escritório, Lily parte numa viagem de recreio com a melhor amiga. Vão aonde? A Bali. Em alto-mar, descobrem que foram abandonadas pela lancha. Desesperam-se, mas surge outra lancha. É só entrar nela e olhar nos olhos do piloto para saber por quem Lily se apaixona.
Entra o letreiro — 37 dias depois. Por que, exatamente, 37 fica por conta de cada espectador. Papai e mamãe recebem um telefonema nos EUA. Lily anuncia que está se casando, pede que venham a Bali para a cerimônia. Georgia e David surtam. Baseados na própria experiência, e convencidos de que a filha está cometendo um erro, embarcam unidos — e decididos a impedir que Lily se case. Tudo isso ocorre rapidamente nos primeiros 10 ou 15 minutos de Ingresso para o Paraíso. O diretor e roteirista Ol Parker adora os cenários fotogênicos. Escreveu "O Exótico Hotel Marigold", dirigiu "Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo". Talvez valha lembrar que o segundo já era sobre um casamento em crise. É a autoralidade de Parker?
INFANTIS
Georgia tem um namorado piloto, a quem telefona, lá pelas tantas. Está na praia e berra mais ou menos o seguinte: "Essa garota não tem noção. Está seduzida pelo sorriso de um homem muito bonito num lugar que se assemelha ao paraíso. E eu vou impedir que ela repita meu erro". De novo já era o tema os filhos, ou a filha, pagando pelos erros dos pais, da mãe, em "Mamma Mia!". Na tentativa de impedir o casamento, Georgia e David armam golpes baixos como roubar as alianças. Gede (Maxime Bouttier), o belo balinense, percebe a manobra e tenta chamar David à razão. Aos temas da crise, dos pais e filhos, se soma mais um. A infantilidade dos adultos. Gede e Lily são certamente mais adultos do que os pais dela.
Julia Roberts e George Clooney batem um bolão na tela. Têm química. Ela tem aquela gargalhada gostosa que nós, seu público, aprendemos a amar desde "Uma Linda Mulher", de Garry Marshall, de 1990. Há 32 anos! Clooney é perfeito como piadista de plantão. Nos filmes, como na vida, e a par da seriedade de certos filmes que fez, ele parece o tipo do cara que tem a piada pronta para qualquer situação. Atravessa o filme tentando envenenar Gede com suas insinuações maldosas de que a união com Lily não dará certo. Mas é Bali, e os jovens realmente se amam. É uma comédia romântica, alguma dúvida de que vai dar tudo certo? Para amantes do cinema diversão é um regalo. E ainda tem, para quem souber ver, observações pertinentes sobre relações.
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