violência

Spotify interrompe transmissão por 9 minutos em protesto contra racismo

Esse foi o tempo pelo qual o negro George Floyd foi asfixiado por um oficial branco da polícia de Minnesota, nos Estados Unidos

JC
Cadastrado por
JC
Publicado em 02/06/2020 às 12:47 | Atualizado em 02/06/2020 às 13:02
REPRODUÇÃO
Spotify adere à campanhas contra racismo e violência policial - FOTO: REPRODUÇÃO

Você pode ter notado o Spotify diferente nesta terça-feira (2). O serviço de streaming inseriu 8 minutos e 46 minutos de silêncio na transmissão de algumas músicas e podcasts. Esse foi o tempo pelo qual o negro George Floyd foi asfixiado por um oficial branco da polícia de Minnesota, nos Estados Unidos, enquanto pedia para respirar.

A ação faz parte das campanhas "Blackout Tuesday" e “The Show Must Be Paused” (o show deve ser parado, em tradução livre) promovidas por rádios e artistas da música em protesto contra o assassinato de negros pela polícia estadunidense. Atos irromperam pelo país desde o assassinato de Floyd.

» Dono de perfil sobre literatura, baiano de 12 anos é vítima de injúria racial em suas redes sociais

» Após 13 anos, delegacia de combate ao racismo não foi criada em Pernambuco

 

» Protestos contra a morte de George Floyd chegam à Europa

 

» Lea Michele, de Glee, é acusada de racismo por Samantha Marie Ware

Além do silêncio, capas de playlists e podcasts importantes foram substituídos por quadrados pretos. Uma seleção feita pelo Spotify foi posicionada na página inicial para os usuários com músicas de artistas negros engajados na luta racial.James Brown, Kendrick Lamar e Childish Gambino encabeçam a lista "Black Lives Matter" (vidas negras importam).

A empresa também está fora de todas as redes sociais nesta segunda.

Câmeras de celulares expõem cada vez mais racismo nos EUA

Desde a morte de um homem negro em Minneapolis até um incidente racista no Central Park, as câmeras de celular são cada vez mais usadas como armas contra o racismo, mesmo que a justiça nem sempre ocorra depois.

Aconteceu com George Floyd, asfixiado na segunda-feira (25) durante sua prisão em Minneapolis, e com Christian Cooper, falsamente acusado no mesmo dia de ameaçar a vida de uma mulher branca no Central Park, em Nova York.

Ambos eram negros, como Ahmaud Arbery, de 25 anos, que foi assassinado em fevereiro, baleado por moradores brancos no bairro onde havia apenas saído para correr, na Geórgia.

Desde o espancamento de Rodney King pela polícia de Los Angeles, filmado por um cinegrafista amador em 1991, o racismo cotidiano nos Estados Unidos é documentado regularmente em vídeos.

Mas, há alguns anos, a gravação desses incidentes se tornou mais sistemática.

"A triste realidade é que o que aconteceu com George Floyd, Ahmaud Arbery e Christian Cooper acontece com os negros americanos há gerações", tuitou a senadora Kamala Harris, que é negra e foi candidata às primárias democratas.

"Os celulares só tornaram mais visível", completou.

Os vídeos "lembram que, onde quer que estejam, as pessoas de cor são vulneráveis", afirmou a diretora do Centro de Estudos de Relações Raciais da Universidade da Flórida, Katheryn Russell-Brown.

A generalização das minicâmeras carregadas pelos próprios policiais em serviço durante a última década deu origem à esperança de uma grande mudança.

Após os primeiros estudos com resultados satisfatórios, porém, trabalhos mais recentes e aprofundados mostram que "na maioria dos casos, as câmeras não causam o desejável abandono da força", explicou o pesquisador Daniel Lawrence, do Urban Institute.

Muitos serviços policiais autorizam os agentes a apagar esses registros à vontade, e alguns foram acusados de fazer edições antes de divulgar as imagens publicamente.

"É suficiente?"

A gravação de um incidente parece ser cada vez mais uma ferramenta decisiva, cujo efeito rapidamente se multiplica pelas redes sociais.

"Se não houvesse um vídeo, teríamos acreditado nas testemunhas que viram o ocorrido e pediram aos policiais que parassem?", questionou o diretor do Centro de Pesquisa Antirracista da American University, Ibram Kendi, à rádio Democracy Now.

Embora seja poderosa, essa forma de justiça não deve ser confundida com aquela aplicada pela lei, alertou Russell-Brown, que lembra que calúnia é crime.

Surpreendida com a rapidez com a qual quatro policiais envolvidos no caso de George Floyd foram demitidos, ele apontou, porém, que a justiça não foi feita.

"Foram demitidos. Isso é o suficiente? Não", disse. "Uma pessoa está morta. Agora queremos que o sistema judicial faça o seu trabalho", frisou.

A situação gerou diversas manifestações e noites de violência em Minneapolis. Investigações locais e federais estão em curso, mas sem acusações até o momento.

Comentários

Últimas notícias