Banda de Pau e Corda dá melodia à esperança em 'Missão do Cantador'
Álbum é o primeiro de inéditas do grupo em quase 30 anos e chega cercado de boas simbologias
"Eu sou feito de esperança". Dentre as frases ditas por Sérgio Andrade durante os quase 40 minutos de entrevista à reportagem do Jornal do Commercio, sobre o lançamento do novo álbum da Banda de Pau e Corda, esta é a que melhor sintetiza o momento artístico em que o grupo vigora. Missão do Cantador (Biscoito Fino, 13 faixas, físico e digital) chega munido de inúmeras simbologias, sendo a principal delas o fato de ter sido apresentado ao público, no último dia 23, depois de 29 anos sem que o grupo gravasse um disco todo autoral. É um marco na história da banda e um verdadeiro reencontro com a sua gênese, ocorrida há quase meio século, reforça o vocalista.
O trabalho foi pensado e maturado ao longo de cinco anos, e chegou a ser adiado, assim como a comemoração pelos 45 anos de estrada, em 2017, por conta do falecimento de Roberto Andrade, irmão de Sérgio e um dos fundadores da banda. No lugar, veio um registro ao vivo, gravado no Teatro de Santa Isabel e lançado em maio de 2019. Banda de Pau e corda - 45 anos ao vivo uniu clássicos, principalmente os dos primeiros LP's, recentemente liberados pela gravadora Sony Music, detentora dos direitos, para audição no streaming.
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"Para você ter uma ideia, estamos dando a esse álbum a mesma importância emocional que demos para nosso primeiro LP (Vivência, de 1973)", confessa Sérgio Andrade. "Principalmente, por causa da grande responsabilidade, depois de 29 anos sem lançar um trabalho, mas com convicção de que ele teria a representatividade do que sempre foi a Banda de Pau e Corda, porque fizemos questão de preservar nossas características, que são o diálogo da flauta com a viola, os vocais, as letras poéticas. O que acrescentamos foram alguns temas mais atuais, o que é muito natural, os tempos mudaram e nós acompanhamos".
Os arranjos, com maioria feita pelo violonista Zé Freire, procuram manter a citada tradição da conversa entra flauta, viola e vozes, bebendo também de fontes mais contemporâneas. "Uma delicadeza nos traçados, nas voltas que a flauta dá", sugere o vocalista. Das 13 músicas, onze foram arranjadas por Freire e outras duas por Waltinho.
Missão do Cantador também marca o reencontro da Banda de Pau e Corda com José Milton, produtor do álbum de estreia - e de muitos dos seguintes - do grupo, no qual ele também debutava na produção. "Sempre mantivemos um contato muito bom com ele. Foi Zé Milton quem nos descobriu e nos colocou no mercado fonográfico. Zé conhece o timbre de cada voz, de cada instrumento, era a pessoa ideal para fazer. Para completar, convidamos Elifas Andreato para criar a arte da capa".
Elifas também é figura chave por ter ilustrado a capa de Arruar (1978), uma das mais importantes da história do grupo, em que a ossada de um boi aparece pregada em uma cruz. Referência direta, claro, a muito do que já cantava a banda. O conceito foi retirado do show Palavrão, feito em parceria com Rolando Boldrin e dirigido por Antonio Abujamra.
Gravado em cerca de 20 dias, Missão do Cantador tem participação de Mestre Gennaro (sanfona em Estrela Cadente), Alexandre Rodrigues, o Copinha, (pífano em Fogo de Braseiro), Chico César (voz em Fogo de Braseiro), Zeca Baleiro (voz em Tudo Num Balaio Só) e Marcello Rangel (voz e violão em Quer Mais o Quê?).
ENCONTRO VIRTUAL
Quando o assunto é a renovação do público da Banda de Pau e Corda, Sérgio Andrade concorda que a chegada dos álbuns às plataformas online colabora e intensifica o que vinham percebendo nas filas pós-show, em que gerações de pais e filhos se misturavam para cumprimentar os músicos.
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Também se adaptaram bem às lives, com edições bem recebidas. "Sentimos um pouco da presença deles. Gosto muito de abraçar, estar junto dos ouvintes. Esse distanciamento físico me dói muito", diz Sérgio.
A próxima apresentação virtual acontece dia 13 deste mês, às 20h, pelo projeto Palco Virtual, do Itaú Cultural. A transmissão será pelo Zoom, com ingressos disponíveis em www.sympla.com.br. O plano é que, para a celebração do tão esperado aniversário de 50 anos, em 2022, os abraços presenciais voltem a ser realidade.