Abulidu reinventa o 13 de maio em seu 'Quilombo Urbano'

No final de 2017, o cantor e compositor Hélio Machado foi até o Museu da Abolição, no bairro da Madalena, Zona Oeste do Recife, participar de uma atividade educativa. Lá, assistiu ao curta-metragem Cores e Botas (2010), de Juliana Vicente. O filme com pouco mais de quinze minutos conta a história da pequena Joana, que, assim como muitas garotinhas dos anos 1980, sonha em ser paquita. O detalhe, porém, é que Joana é negra e, como bem se sabe, as famosas assistentes de palco dos programas apresentados por Xuxa Meneghel eram todas, impreterivelmente, loiras.

"Ela não se vê representada naquele lugar. A partir dali, entendi que eu também não me via representado em vários lugares", recorda Hélio em entrevista por telefone ao JC. Foi a partir desse estímulo audiovisual que o músico natural da comunidade Suvaco da Cobra, em Jaboatão dos Guararapes, pensou e articulou a formação da Abulidu, autodenominada banda afro-brasileira de Pernambuco que estreia hoje single e videoclipe batizados Quilombo Urbano.

"Busquei pesquisar e conhecer mais sobre meu povo, minha ancestralidade, o continente africano, e naturalmente minhas músicas foram se tornando ainda mais de luta e de resistência. Fui 'abolindo-me'", pontua Hélio Machado, fazendo referência ao nome do grupo, composto a partir da junção das palavras abolir e bulir, esta última uma gíria pernambucana que pode significar mexer ou agitar, a depender do contexto aplicado.

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Conceito definido, Hélio convidou Thúlio Xambá (percussões), integrante também do Grupo Bongar; Arnaldo Monte (percussões), do Coco de Zeca do Rolete; Paulo Alves (violão), músico de Siba Carvalho e da banda 4éPAR; Rogério A. Martins (guitarra) e Raphael César (baixo). Juntos, passaram a dar corpo a músicas que aglutinam diferentes gêneros e ritmos de origem negra. Rap, maracatu, afrobeat, embolada e bregafunk entre eles.

Quilombo Urbano, disponível nas principais plataformas de streaming, foi a escolhida como single de estreia a ser propositalmente lançado neste 13 de maio, histórica e oficialmente nominado como Dia da Abolição da Escravatura, justamente por propor subverter tal conceito. A produção é de Buguinha Dub.

"Aprendi na escola que a Princesa Isabel libertou todos os negros escravizados, mas sabemos que na prática e na história real isso não é verdade. Estamos dizendo justamente que esse dia é de luta, de se aquilombar e de mandar a sua ideia de arte afro-brasileira. O 13 de maio é um dia para lutar, principalmente em um país tão racista como o Brasil".

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Já o clipe foi gravado ao longo de um dia, na Cidade Alta de Olinda, em locações como o bairro do Carmo, as ruas Prudente de Morais e Treze de Maio, o Mosteiro de São Francisco e o Alto da Sé, além do Centro Cultural do Grupo Bongar - Nação Xambá. Roteiro e direção ficaram por conta do fotógrafo, cineasta e professor Rennan Peixe.

Hélio Machado e Luana Vitória (Lounira) protagonizam o vídeo, cujo elenco tem ainda Laurinha Xambá, Neto Xambá, Henrique Xambá, Yngrid Xambá, Cawan Xambá e Tayná Xambá. O figuro foi elaborado por Lassana Moda Africana e a maquiagem por Andrezia Leocádia. Assista em www.youtube.com/abulidu.

MAIS DA ABULIDU

A primeira apresentação oficial da Abulidu aconteceu em março de 2020, pouquíssimo tempo antes de ser oficialmente decretada a pandemia no Brasil. Os músicos subiram ao palco do festival autoral Pré-Amp, onde tocaram quatro músicas. Conquistaram a 2ª colocação geral e, como prêmio, a oportunidade de realizar um show no Carnaval do Recife, no Polo Pátio de São Pedro, Centro da cidade.

Com o recrudescimento da covid-19 no Estado, precisaram suavizar o ritmo de criação, mas sem deixar de lado o plano para lançamento do primeiro álbum que, se tudo der certo, pode chegar ainda em 2021.

Assista ao clipe: