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"Meu trabalho tem sido sempre muito político", esclarece Marisa Monte

Cantora, compositora e musicista está na estrada com a turnê "Portas", fruto do álbum homônimo lançado em julho de 2021

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Romero Rafael

Publicado em 29/04/2022 às 14:29 | Atualizado em 29/04/2022 às 19:47
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A gente entrava na segunda metade de 2021, dia 1º de julho, quando Marisa Monte lançou "Portas", um álbum de inéditas depois de dez anos. O clipe da música-título traz a artista abrindo portas e mais portas. Naquele momento, a vacinação contra a covid-19 começava a ganhar alguma tração, fazendo brotar esperança numa rotina de protestos ao governo federal pela condução da pandemia.

O que Marisa Monte, naquele contexto, nos ofereceu foi a sua especialidade: uma música que conecta gente de diferentes esquinas — e que também as reconecta.

"Eu compartilho todos os sentimentos de incertezas, angústias e medos desse momento trágico que estamos vivendo, mas através da arte quis oferecer uma resistência poética, criativa e amorosa. Isso é política civil, campo onde percebo os movimentos mais inspiradores", respondeu Marisa Monte, em entrevista por e-mail, quando cito comentários da época do lançamento sugerindo que faltava ao disco engajamento político.

"Política para mim não se limita a política partidária, tem mais a ver com diálogo, relações cotidianas, com o que a gente vive de verdade, na vida real, no dia a dia, no trabalho, na família, na rua. Como a gente se comunica, se relaciona, se mistura, se soma e olha para o outro... Nesse sentido, meu trabalho tem sido sempre muito político", continuou Marisa Monte.

Na turnê "Portas", que chega ao Recife neste fim de semana — em duas apresentações no Classic Hall, neste sábado (dia 30, com bilheteria já esgotada) e domingo (1º) —, Marisa Monte cria, visualmente, "um diálogo entre o mundo interior, o isolamento, o confinamento, e o mundo exterior, através da imaginação, do sonho, do poético e do lúdico", ao utilizar obras da artista plástica Lúcia Koch, que trabalha a partir de caixas criando ambientes arquitetônicos com luzes e sombras. Pelas imagens do show, ao encantamento sonoro da música da artista, essas imagens provocam um deslumbramento visual.

O que Marisa Monte nos propõe é, no coletivo, um lugar seguro (a sua voz) para voltar a sonhar.

"Portas" para reencontros

A canção de abertura do show "Portas", "Pelo Tempo que Durar", parece ter sido escolhida a dedo para esse momento em que a gente vive. Marisa Monte confirma que sim: "Achei que essa música minha e da Adriana Calcanhotto seria uma bela maneira de receber as pessoas, 'Nada vai permanecer/ No estado em que está/ Eu só penso em ver você/ Eu só quero te encontrar'".

Ela relata, inclusive, que, nesse reencontro, soube de pessoas saindo de casa pela primeira vez, desde o início da pandemia, para ir ao seu show:

"Tem sido imensamente emocionante encontrar com tantos amigos, fãs e com o público para celebrar a vida através da música. Arte nos conecta com a criatividade, com o imaginário, a um plano existencial superiormente interessante. Uma porta poética que se abre para intuição, para a beleza, para as lembranças, para os afetos que nos transportam para outros lugares e tempos, e que nos dá suporte para suportar o insuportável. Depois de tanto tempo e de uma fase tão cheia de incertezas, nos shows que fiz até agora, encontrei relatos de pessoas saindo pela primeira vez de casa para um evento desde 2020. Isso acrescenta uma emoção diferente, repleta de saudade e alívio, cheia de alegria."

Este ano, pela frente, Marisa Monte fará um giro pela Europa, entre junho e julho, até que em setembro circulará pela América Latina. "Acabei de fazer 12 shows nos Estados Unidos e muitos também aqui no Brasil. É um ano de reencontro, de reativação e expressão do coletivo, de eleição no Brasil, um ano de muita intensidade."

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