Por Julio Maria, Agência Estado
Luisa Sonza e Marina Sena fizeram um encontro de duas forças da geração streamer no Palco Sunset do Rock in Rio no domingo, 4. São nomes recentes e de voos rápidos desde que surgiram - Luisa antes, Marina depois - no universo das artistas do neo pop. É interessante vê-las, com cada música que cantam na ponta da língua de uma imensa plateia suportando a chuva fria. Luisa teve Marina durante uma parte do show, mas a noite era dela, e talvez essa tenha sido sua maior exposição para além de seus ambientes seguros. Nas várias telas que a Globo coloca a serviço da transmissão, com Multishow, Bis, Globoplay e tudo mais, os ídolos de segmento transbordam e chegam a muitas pessoas pela primeira vez.
LUISA E IZA
Luisa Sonza, 24 anos, fez o show que sabe fazer, com pressão de banda e coreografias de força. Cantou hits antigos, como "Sentadona", e novos, como "Cachorrinhas". Marina Sena desafinou bem em alguns momentos e mostrou fragilidade. Mas era o teste de fogo de Luisa, sua primeira aparição exibida ao vivo, e, na aura do palco, era quase possível ver a rede de proteção para sustentá-la ali, sem tropeços. Luisa, tecnicamente, está em maturação, assim como Marina, e o impacto de seu show é produzido mais pelo entorno (luz, coreografias e banda de peso) do que por sua capacidade de colocar a plateia na palma das mãos. Um dia, isso virá. Ou não.
Iza, mais velha, 32 anos, tem um pouco mais de estrada e uma voz sólida e bem maior. Quando seu show começou, no vizinho Palco Mundo, uma ponte sobre arcos gregos foi iluminada ao fundo como o anúncio de mais uma superprodução. Ela chegou com uma das três músicas do EP novo, "Droga", e todos os seus hits, como "Sem Filtro", "Fé" e "Meu Talismã", cantada com uma plateia iluminando tudo com celulares. Um feito foi em "Woman no Cry", em que cantou e tocou piano. Incrível. Iza é uma artista; Luisa Sonza, um ídolo, e a diferença entre as duas está em algo que os norte-americanos chamam de star system. Alguns têm, outros nunca terão.
'SPOTIFIZAÇÃO'
Ao absorver fenômenos do Spotify para seus palcos imensos, o Rock in Rio colabora para um processo perigoso, em que jovens pulam quase que diretamente das plataformas para os festivais. Quando o ídolo de milhões de seguidores se converte em artista de palco, é uma maravilha e todo mundo ganha. Quando não, é preciso enchê-lo de aparatos para diluir o trabalho que o tempo ainda não teve tempo de fazer. Luisa Sonza, um ídolo que pode se tornar uma artista, é só um exemplo, mas muita gente carece de maturação.
Um sinal pode ser o superpovoamento dos palcos, e esse Rock in Rio tem sido recordista em número de bailarinos, bailarinas e bandas grandes. Como ensinou Madonna nos anos 90, e Beyoncé nos 2000, palco povoado precisa de discurso, de história pra contar. Se isso não existe, fica claro que os corpos estão ali para se sobrepor a algo que a música não conseguiria fazer sozinha.
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