ANÁLISE

Ivete Sangalo, as bandeiras e a política

Cantora fez show vibrante, no Rock in Rio, e repercutiu por fala favorável ao desarmamento, embora possa soar um tanto forçada

JC
Cadastrado por
JC
Publicado em 12/09/2022 às 21:13 | Atualizado em 12/09/2022 às 21:26
SAMUEL KOBAYASHI/MULTISHOW
SHOW Ivete Sangalo se apresentou no Rock in Rio neste domingo (11) - FOTO: SAMUEL KOBAYASHI/MULTISHOW
Leitura:

Por Julio Maria, Agência Estado

Ivete Sangalo apareceu no palco Mundo, do Rock in Rio, na noite de domingo (11), em uma vibração alta, diferente do que havia acabado de acontecer no palco ao lado, o Sunset, onde a cantora — também baiana — Larissa Luz havia comandado uma homenagem grandiosa a Elza Soares, com muitas cantoras representantes das bandeiras de empoderamento e antipreconceito.

Havia sido um momento de muita emoção, com imagens de Elza no telão, frases, lágrimas, consternação e canções que ela defendia.

De repente, a festa que se viu no palco Mundo colocou tudo sob outra vibração.

Ivete não tem o discurso da tomada do poder e do justiçamento, embora o tenha de forma intrínseca, e faz o espetáculo pelo espetáculo. É uma artista que chegou antes dos identitarismos e que resolveu não aderir a eles de forma explícita.

Como não era obrigada a transformar sua música em transporte sócio-político, como fez Daniela Mercury, seguiu sua essência carnavalesca. Para o bem e para o mal, a música brasileira pop de hoje não produziria outra Ivete Sangalo. Não há mais espaços para a diversão sem o filtro da consciência.

O que Ivete levou ao Rock in Rio foi algo dos mesmos padrões das boas atrações internacionais. Ela começa tocando guitarra, solando o riff de Sweet Child 'O Mine, e depois, já sem o instrumento, emenda sons de temperatura sempre elevada.

Tempo de Alegria, Sorte Grande, Festa, Prefixo de Verão, tudo lá em cima. Moral é um samba funk irresistível. Vieram depois Beleza Rara, a latinizada Mexe a Cabeça; Dançando, A Galera e Céu do Boca. Com o filho na percussão, Ivete, em ótima forma, fez a festa esperada com uma excelência de muito respeito a seu público.

Apolítica, apesar das frases que solta em meio às músicas, como "o país não precisa de armas", Ivete não pode ser cobrada a mudar o rumo de sua essência. É uma questão geracional que daria um livro.

Seu grande instante foi lembrar de quando dedicou sua primeira passagem pelo Rock in Rio ao filho que tem se tornado músico, Marcelo Sangalo, e chamá-lo naquela noite para tocar ao piano Quando a Chuva Passar. "Toda mãe tem o direito de ver seus filhos crescerem sem medo", disse.

Se é bandeira que querem, ela tem as dela, ainda que de forma um tanto forçada.

Comentários

Últimas notícias