MÚSICA

Zezé Motta apresenta em Olinda o show "Atendendo a Pedidos"

Espetáculo integra a programação da feira de afroempreendedorismo Futuro Black, na Casa Estação da Luz

Romero Rafael
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Romero Rafael
Publicado em 21/09/2022 às 21:11 | Atualizado em 22/09/2022 às 18:00
JARDIEL CARVALHO/DIVULGAÇÃO
Zezé Motta - FOTO: JARDIEL CARVALHO/DIVULGAÇÃO
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A presença de Zezé Motta, pode-se dizer, abençoará a feira de afroempreendedorismo Futuro Black, nesta sexta-feira (23), às 20h, na Casa Estação da Luz, em Olinda. Zezé apresentará "Atendendo a Pedidos", show que criou para acomodar as canções que já interpretou e que seu público solicita. Entre elas, "Tigresa", de Caetano Veloso — "por motivos óbvios", conta, com graça, sobre a música feita pensando nela.

Também consta no repertório Luiz Melodia, cantor e compositor precioso, falecido há cinco anos, de quem ela era bastante próxima e a quem chama de "meu irmãozinho querido". "Canto várias dele. Em todos os meus trabalhos tem uma ou duas músicas do Melodia — todos os meus LPs, CDs, com exceção do que eu fiz em homenagem a Elizeth Cardoso."

Muito lembrada como atriz, Zezé Motta é uma cantora com discografia iniciada em 1978. Não é uma atriz que canta, mas uma cantora-atriz — "Eu costumo dizer que pego a atriz emprestada para cantar".

"Por conta de eu ser atriz, em quase todas as músicas que eu canto, busco personagens. Se é uma mulher sofrida, eu faço a mulher sofrida; se é divertida, eu exploro algo de comédia na música; se for assanhada, eu faço a velhinha assanhada", ri, em conversa por telefone, desde Ouro Preto, onde apresentou o show ontem.

"Acaba ficando teatral mesmo."

Mas há diferença nos expedientes. Quando atuando, "você tem o personagem, então você se transforma e fala através do personagem. Na música, não, é você ali nua, crua e dando a cara à tapa. Nessas músicas, eu sempre penso 'não posso errar a letra porque o público conhece todas'", brinca, sobre "Atendendo a Pedidos".

A cantora Zezé Motta foi identificada pelo pai. Ele era músico e a filha — que ajudava a mãe, costureira, escutando rádio —, a antena que captava os lançamentos para que ele pudesse atualizar o repertório que executava nas noites do Rio. Certa vez ela cantou uma nova de Ellen de Lima. Letra e harmonia complexas. "Você é uma cantora!"

Zezé Motta deu canjas em apresentações do pai, enquanto no ginásio se engajava em todas as montagens teatrais. Foi assim que ganhou uma bolsa para estudar artes dramáticas no Tablado. A atuação e a interpretação seguiram como planos que corriam paralelamente. Mas o acaso a levou muito mais vezes a personagens do que a músicas.

O primeiro disco, "Zezé Motta" (1978), mais conhecido como "Muito Prazer", por causa da primeira faixa, composta para ela por Rita Lee e Roberto de Carvalho, chegou dez anos depois da estreia profissional dela no teatro (na peça "Roda Viva", de Chico Buarque) e na televisão (na novela "Beto Rockfeller", da TV Tupi). Em 1976 estourou no cinema como "Xica da Silva", de Cacá Diegues, e então percorreu uma trajetória que lhe confere o legítimo adjetivo de diva.

"Estou confiante de que vai dar Lula"

Pergunto se ela concorda com a minha impressão de que, só recentemente, com o aprofundamento das discussões sobre representatividade e antirracismo, sua carreira tem sido reconhecida de forma digna à trajetória que já construiu. "Eu concordo com você, mas estamos vivendo um momento muito delicado, com este senhor que está no poder e é contra a cultura. Então, às vezes, a gente tem a sensação de que está dando não sei quantos passos para trás, com este senhor que abusa do poder", diz Zezé Motta, sem citar o nome do presidente.

A artista, por outro lado, foi alvo nominal do governo, em dezembro do ano passado, quando xingada pelo então presidente da Fundação Palmares Sérgio Camargo, na sua sanha de atacar artistas pretos. "Não é que eu queira unanimidade, mas tomei um susto: eu participei da criação da Fundação Palmares!"

Com 78 anos, Zezé Motta reforça que não entende como é possível um homem intolerante, "entre outras coisas ruins, uma lista de absurdos", conseguir se eleger presidente da República. "Mas Deus é pai. Estou confiante de que vai dar Lula."

Programação

A feira de afroempreendedorismo Futuro Black abrirá as portas às 18h, na sexta-feira (23), na Casa Estação da Luz (rua Prudente de Morais, 313, Carmo), com o café La Belle du Jour e empreendedores de comida preta. Às 20h, haverá o show de Zezé Motta. Os ingressos custam R$ 60 (inteira), R$ 45 (social) e R$ 30 (meia), à venda pela plataforma Sympla.

No sábado (24), às 15h, o evento Literatura Preta reunirá o educador e contador de histórias Gláucio Ramos; a jornalista e escritora Jaqueline Fraga; o quadrinista Jean Lins; a escritora Karinne Costa e a arte-educadora Kemla Baptista. A Acre, do estilista Cássio Bomfim, fará desfile às 17h, seguido por apresentações da cantora Isadora Melo, às 19h, e do Afoxé Oxum Pandá, às 20h. DJ Antropogata tocará nos intervalos.

Já no domingo (25), uma roda de conversa, às 15h, sobre religiões de matrizes africanas, terá Carol Nascimento e Mãe Beth de Oxum. Às 15h30, o artista Jeff Alan executará uma pintura ao vivo. A arte dele, a propósito, ocupa a Casa Estação da Luz na exposição "Comigo Ninguém Pode", que fica aberta à visitação até este fim de semana.

A programação do último dia continuará com apresentações da cantora Maria Pagodinho, às 17h, e do Coco dos Pretos, às 18h30, com DJ FLIPS nos intervalos.

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