Atriz da Globo vítima de transfobia relembra ataque: ‘em todos os momentos senti medo’
B.O. após ataque na Bahia indica que agressor jogou Marcella Maia no chão e agarrou seus seios, como se quisesse arrancá-los
A atriz e modelo Marcella Maia, que contou ter sido vítima de transfobia durante uma viagem a Caraíva, distrito turístico de Porto Seguro, no sul da Bahia, voltou a falar sobre as agressões que sofreu na madrugada de quarta-feira (22).
Em entrevista ao canal Universa, do UOL, Marcella, que usa o nome artístico de A Maia e é contratada da TV Globo, contou que os últimos dias depois do ocorrido foram "conturbados" e que todo o processo de denunciar o crime foi "bastante desgastante e sofrido".
Segundo registro do boletim de ocorrência (B.O.) feito na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Porto Seguro, ela teve sua cabeça jogada contra o chão, seu cabelo puxado e seus seios agarrados, como se o agressor quisesse arrancá-los. O homem chegou a enforcá-la, enquanto gritava: "Você não é de Deus".
"Precisei viajar horas até Porto Seguro para prestar queixa e, de lá mesmo, fui embora. Denunciei, mas senti muito medo das consequências. Sempre orientada pelo meu advogado, chegando ao Rio de Janeiro, fui fazer exame de corpo de delito. Foi bastante desgastante e sofrido, em todos os momentos senti medo", disse a atriz ao Universa.
"Na hora, a gente não entende bem o que está acontecendo nem a gravidade da coisa, mas foi bastante assustador. Depois, quando vi as marcas pelo corpo e percebi o perigo pelo que passei, entendi que precisava tomar providências e me proteger", continuou Marcella Maia, que está escalada para a próxima novela da Globo, ‘Quanto Mais Vida Melhor’.
A atriz e modelo espera que o agressor seja identificado pela polícia e que o crime não fique impune, como ainda é comum em casos de homofobia e transfobia (reconhecidos como crimes no Brasil só há dois anos).
"O que passei foi muito ruim e, infelizmente, não foi um caso isolado. Espero que sirva para que entendam que nossos corpos e nossas vidas devem ser respeitados, que agressão à mulher e transfobia são crimes e não podem passar impunes", concluiu ela.
- 'Ela me disse que foi discriminação. Transfobia', diz codeputada Robeyoncé Lima sobre mulher trans queimada no Recife
- Homotransfobia é crime e não pauta moral, diz advogada
- Influenciador Leo Picon é acusado de transfobia após dizer que foi "enganado" por modelo
- Após anunciar atrações do 'Rock in Rio', apresentador do Jornal Nacional é acusado de transfobia
- A Maia, que será a Morte em novela, denuncia transfobia
Relatos do crime nas redes sociais
Antes da entrevista ao UOL, A Maia fez postagens em que, além de relatar o ataque transfóbico, apresentou imagens de hematomas na região do pescoço e dos ombros.
"Preconceito existe. Se cuidem. Sem chão, sem forças. Tô viva", escreveu. "Meu corpo não merece isso", acrescentou, usando a hashtag "transfobia". A agressão aconteceu na madrugada de quarta.
Na sexta-feira, Marcella fez um post em que aparecia na Deam, onde foi registrar a ocorrência. Em nota, a Polícia Civil baiana diz que a Deam está apurando a denúncia.
À polícia, a atriz disse que foi agredida ao sair da casa de amigos. Ela identificou o suspeito, que não teve nome divulgado, e atribuiu a motivação à transfobia. A unidade expediu guias para que ela passe por exames periciais.
A equipe da atriz divulgou uma nota nas redes sociais sobre o caso: "Maia registrou um boletim de ocorrência na delegacia de Porto Seguro, Bahia. O advogado da atriz foi contatado e o caso será levado a juízo. Em breve publicaremos uma nota pública com detalhes sobre o ocorrido. Equipe de Marcella Maia", dizia a mensagem.
"A atriz está segura no momento e todas as medidas legais estão sendo providenciadas", complementava o texto.
No ano passado, em entrevista à colunista Patricia Kogut, ela afirmou que no início escondia que era uma mulher trans. "Ninguém sabia que eu era uma mulher trans. Acho que é uma coisa íntima. Não saio perguntando o que as pessoas têm no meio das pernas. Tenho que provar que sou suficiente sem dizer que sou trans. Mas, há cinco anos, saí do armário. Falei publicamente pela primeira vez. Hoje em dia falo com orgulho".