Assistir a filmes e videoaulas, trabalhar em home office, fazer videochamadas com a família, trocar conteúdo com amigos pelas redes sociais. Em tempos de quarentena, atividades como estas permitem às pessoas respeitarem o isolamento social. É tanto que o consumo de internet cresceu cerca de 20% no Brasil desde o início das restrições por causa da covid-19, segundo o IX.br (Brasil Internet Exchange), projeto do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
Entre os dias 18 e 23 deste mês de março, o IX.br registrou dois picos de uso de internet no Brasil, alcançando tráfegos de 10 Tb/s e 11 Tb/s. Com dois terços da população brasileira (69,8%) conectadas à internet, ou seja, 126,3 milhões de pessoas, o consumo de internet tem crescido ano a ano. Com a expansão, as operadoras têm investindo em ampliar a infraestrutura para atender esses usuários.
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Segundo o Diretor de Projetos Especiais e de Desenvolvimento do NIC.br, Milton Kaoru Kashiwakura, também tem aumentado o número de provedores de internet e de produtores de conteúdo digital. No entanto, num momento como este, de pessoas em quarentena, o sistema como um todo é colocado à prova. "Com essa elevação de tráfego, algumas redes estão no limite do seu uso. Antes, nas redes residenciais, havia um pico de uso às 21h. Hoje as pessoas estão conectadas o tempo todo, gastando muito da banda e com muitos dispositivos", alerta Kashiwakura.
Com essa maior exigência das redes de internet, alguns usuários começaram a sentir que o serviço dos provedores está mais instável. Kashiwakura explica que isso é natural e mais fácil de ser sentido para usuários com pacotes de dados abaixo de 50 Mbps. O diretor do NIC.br aconselha que as pessoas usem a internet de forma mais consciente, evitando transferir vídeos pelo WhatsApp, usando menos os serviços de streaming (como Netflix) e fazer transferência de arquivos durante a madrugada.
"Se todos usarem as redes com todo seu potencial, ao mesmo tempo, aquelas pessoas que dependem das redes para o teletrabalho ou para ver videoaulas estarão sendo prejudicadas por quem está assistindo a um filme por entretenimento", pondera Milton Kashiwakura.
Qualidade da net está caindo
A queda na qualidade da internet tem sido sentida na casa do gerente de projetos na área de TI, Thiago Burgo. Ele está em quarentena com a esposa, a sogra e o filho de cinco anos. Thiago e a esposa estão em home office e, por consequência, usando mais a internet do que o habitual.
Além disso, como o filho está sem aulas, a escola tem enviado atividades online. O entretenimento da criança com vídeos online também cresceu. "Na área onde moro só consigo pacotes de 15 Mbps e hoje, com mais gente usando o tempo todo, vejo que não está sendo suficiente, mas entendo que faz parte da situação em que estamos vivendo", diz Burgo.
As falhas na conexão têm afetado até o home office do casal, que contam frequentes perdas de contato durante videoconferências. "Sempre priorizamos fazer conferências em áudio, que consome menos banda. Mas nesse momento de isolamento, as boas práticas recomendam abrir a câmera para que as pessoas se vejam e possam estreitar os laços. Só que isso consome muito mais a internet", comenta Burgo.
Videochamadas bombando
Na casa da jornalista Natália Chaves, ela e os pais têm se mantido a maior parte do dia conectados. Lá, o pacote de dados é de 50 Mbps. Mesmo assim, ela sente alterações na conexão quando precisa assistir às videoaulas do curso de direito e que, por causa da quarentena, têm sido enviadas online pela faculdade.
Em dias normais, Natália e os pais passam mais de 12 horas fora de casa. Agora, ela está em home office e estudando no contraturno. Os pais, autônomos, estão sem trabalhar por causa das medidas restritivas ao comércio e agora fazem maratonas de filmes e séries para ver o tempo passar. "Além disso tudo, nós passamos a fazer muitas videochamadas com outras pessoas da família. Meus pais mesmo nunca tinham feito e agora fazem uma com alguém quase todo dia, além de passar o dia todo trocando mensagens pelo celular", comenta Natália.
O que dizem as operadoras
Os serviços de telecomunicações e internet passaram a ser considerados serviços essenciais pelo governo federal e, com isso, seu exercício e funcionamento precisam ser garantidos. De acordo com o decreto presidencial 10.282/2020, "se não atendidos, colocam em perigo a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população."
Para garantir a qualidade do acesso à internet, o Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviços Móvel Celular e Pessoal afirmou, em nota, que Centros de Gerência de Rede das empresas estão permanentemente monitorando o uso das redes de acesso. "Esse monitoramento permite, se necessário, implementar rotinas de contingenciamento e redirecionamento de tráfego para mitigar eventuais situações de congestionamento". O texto ainda alerta: "A capacidade das redes de telecomunicações não é infinita, mas as empresas estão envidando todos os esforços para manter a segurança e o funcionamento".
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