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Produção industrial já sente coronavírus, mas cresce 0,5% em fevereiro e tem segunda alta seguida

Setor já sente os efeitos da covid-19, principalmente em categorias que dependem de peças fabricadas na China, como equipamentos de informática

Marcelo Aprígio
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Marcelo Aprígio
Publicado em 01/04/2020 às 9:20 | Atualizado em 01/04/2020 às 15:26
Renato Spencer/ Acervo JC Imagem
Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada nesta quarta-feira (1º) pelo IBGE - FOTO: Renato Spencer/ Acervo JC Imagem

A produção industrial brasileira cresceu 0,5% em fevereiro de 2020 em comparação ao mês de janeiro, segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada nesta quarta-feira (1º) pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com os números, esta é a segunda alta consecutiva do indicador no setor, que já sente os efeitos da pandemia do novo coronavírus (covid-19), principalmente em categorias que dependem de peças fabricadas na China, como equipamentos de informática.

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Os ramos que contribuíram para o crescimento de fevereiro foram veículos automotores, reboques e carrocerias (2,7%) e outros produtos químicos (2,6%), ambos crescendo pelo segundo mês seguido. Para o pesquisador do IBGE André Macedo, a concessão de férias coletivas em novembro e dezembro para funcionários de montadoras em todo país explica o resultado. “Com a volta da produção nos primeiros meses de 2020, é natural que representem impulso de crescimento”, aponta Macedo.

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Também contribuíram para o resultado da pesquisa de fevereiro: produtos alimentícios (0,6%), celulose, papel e produtos de papel (2,4%), farmoquímicos e farmacêuticos (3,2%) e borracha e material de plástico (2,1%).

Apesar da alta em fevereiro, a produção da indústria nacional ainda registra queda no acumulado do ano. É o que explica André Macedo. “O saldo desse período ainda é negativo, pois os resultados de novembro e dezembro fecharam com -2,5%”, observa Macedo, que é gerente da PIM. A pesquisa ainda mostra que a produção em fevereiro caiu 0,4%, quando confrontado com o mesmo período de 2019, o que faz do mês o quarto de resultado negativo seguido nessa base de comparação.

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Por causa da revisão da atividade industrial de janeiro de 0,9% para 1,2% frente a dezembro, os dois primeiros meses de 2020 tiveram 1,6% de crescimento nesse método comparativo. Dessa forma, o acumulado de janeiro e fevereiro deste ano frente ao mesmo bimestre de 2019 é de -0,6%. Já o acumulado dos últimos 12 meses da produção industrial apresenta recuo de 1,2%.

Entre as categorias que tiveram produção reduzida, o que mais pressionou o índice em fevereiro foi o de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,8%). Também impactaram negativamente o resultado geral da indústria no mês os segmentos de equipamento de informática, eletrônicos e ópticos (-5,8%) e outros equipamentos de transporte (-8,7%).

Para André Macedo, a queda da produção na informática pode ter influência da pandemia do novo coronavírus que atingiu, ainda em 2019, a China, de onde vêm maior parte dos materiais necessários para fabricação de produtos eletrônicos . “Alguns segmentos podem ter sido impactados pela situação chinesa, principalmente aqueles que trabalham com matéria-prima importada e comércio internacional, como é o caso da informática”, analisa ele, ressaltando que a doença teve pouco impacto no resultado geral da indústria.

Dentre as quatro grandes categorias econômicas pesquisadas, duas apresentaram aumento: bens de capital (1,2%) e bens intermediários (0,5%). Já bens de consumo duráveis e bens de consumo semi e não duráveis tiveram queda de 0,7% e 0,2%, respectivamente.

Impactos do coronavírus na economia

Apesar da melhora do ritmo de recuperação da indústria no primeiro bimestre de 2020, economistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio acreditam que a economia brasileira corre o risco de voltar à recessão diante do abalo provocado pela covid-19 na economia local e global. “O isolamento social, com o fechamento de comércios, poderá contribuir para levar o país e o mundo à diminuição da atividade econômica”, argumenta o economista William Matos, ponderando que o confinamento é essencial neste momento para proteger as vidas e conter o avanço da doença, evitando assim que mais dinheiro seja gasto em decorrência de novos pacientes infectados.

Para o professor de economia Heitor Oliveira, ainda é cedo para fazer um prognóstico e apontar quais serão os efeitos do vírus na indústria e na economia como um todo por conta da imprevisibilidade dos cenários doméstico e global. “Ainda não está claro quando e de que formas as atividades serão retomadas e isso dificulta a realização de uma projeção”, diz ele, frisando, porém, que o mais provável é que o Brasil e o mundo enfrentem uma recessão em níveis tão alarmantes quanto 2008.

Diante desse provável e amargo cenário, os especialistas alertam para a necessidade preservar um poder de compra mínimo às pessoas, sobretudo para os trabalhadores informais e pessoas de baixa renda, que representam cerca de 14% da população brasileira. “Caso isso não aconteça, a falência do sistema financeiro poderá levar a mais mortes do que o colapso da saúde pública”, declara Oliveira, apontando que esta é uma situação inédita para o governo.

Com menos gente nas ruas, lojas e empresas fechadas, a indústria começa a sentir os efeitos da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, segundo uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Entre os problemas encontrados no levantamento da entidade, estão a queda na demanda por seus produtos, a dificuldade em conseguir insumos e matérias-primas e a redução da oferta de capital de giro no sistema financeiro.

Para a CNI, o desabastecimento de componentes, que são produzidos majoritariamente na China e em outros países asiáticos, somado à baixa demanda por parte de outros setores da economia, é responsável por interromper, de forma brusca, o ciclo de recuperação na atividade industrial do Brasil. De acordo com o boletim Focus divulgado na segunda-feira (30) pelo Banco Central, o mercado financeiro passou a projetar retração de 0,48% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020. Já a previsão dos analistas para a produção industrial no ano é de um crescimento de 0,85%.

Com isso, o economista William Matos acredita que a situação da indústria pode travar a recuperação na geração de vagas com registro em carteira no setor. “Não imagino que as empresas vão começar a demitir em massa agora, mas isso pode acontecer gradualmente”, afirma Matos, lembrando que, embora tenha registrado estagnação na produção no ano de 2019, a indústria brasileira apostou na contratação de novos trabalhadores, movimento que ganhou força no último trimestre de 2019 e pode ser interrompido aos poucos com o avanço da covid-19.

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