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Em meio à pandemia, indústria de Pernambuco enfrenta dificuldades para conseguir crédito

Pesquisa da Fiepe mostra que 84,15% das empresas não conseguiram financiamento

Marcelo Aprígio
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Marcelo Aprígio
Publicado em 28/05/2020 às 10:31 | Atualizado em 28/05/2020 às 10:39
Foto: Acervo JC Imagem
Sem crédito, várias empresas correm o risco de fechar as portas, aumentando o número de demissões no Estado - FOTO: Foto: Acervo JC Imagem

A busca por linhas de crédito para capital de giro tem sido uma verdadeira via-crúcis para o empresário Hermeson Ferreira Gonçalves, 39 anos. Dono de uma pequena indústria de tubulação feita com materiais recicláveis, ele vem encontrando dificuldades para acessar o crédito porque, além da baixa atratividade nas taxas de juros oferecidas, há um excesso burocracia. “Há banco que, para você conseguir alguma coisa, tem que enfrentar um processo de no mínimo três meses, por causa de tantos documentos e exigências que fazem”, conta.

Com os recursos em caixa perto do fim, Hermeson precisa de financiamento para conseguir manter o empreendimento aberto e não demitir funcionários. “Se essa linha de crédito não sair, a empresa vai ter que reduzir ainda mais os salários dos funcionários e pode chegar a um momento de dizer: ‘tem muita água dentro do barco e vamos ter que tirar alguém’”, diz , afirmando que, apesar de ainda não estar no vermelho, desde o início da pandemia do novo coronavírus, o faturamento caiu muito e as despesas só cresceram.

O empresário não é o único nesta situação. Segundo um levantamento realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), 84,15% das empresas não conseguiram ter acesso ao recursos, que se tornaram uma das principais saídas para conseguir manter firmes os negócios durante a crise causada pela covid-19. A pesquisa, que reúne informações de 147 indústrias do Estado, foi feita entre os dias 16 e 20 de maio e mostra ainda que 85% das organizações pesquisadas tiveram queda no faturamento com a chegada da pandemia.

Para o gerente de Relações Industriais da Fiepe, Maurício Laranjeira, se o financiamento não for liberado, é provável que vários empreendimentos fechem as portas e haja um consequente aumento de demissões. “Garantir o crédito é fundamental para que as empresas mantenham o mínimo de capital de giro, tornando possível a capacidade de segurar os empregos até que o cenário volte à normalidade”, aponta ele.

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A pesquisa mostra também que entre as empresas que informaram ter solicitado crédito, a maior parte é composta de pequenos negócios, com 59,3%, seguidos dos 23,3% das médias empresas, 10,5% das micro e 7% das grandes. “O fluxo de caixa das pequenas empresas já é reduzido por causa do porte delas, e com menos acesso ao crédito, pavimenta-se, infelizmente, o caminho para o encerramento das atividades”, diz ele, criticando o ministro da Economia, Paulo Guedes, o qual afirmou que o governo ganharia dinheiro usando recursos públicos para salvar grandes empresas e perderia ajudando as pequenas.

Ainda segundo o levantamento da Fiepe, entre as dificuldades que as indústrias enfrentam, estão o baixo limite disponibilizado pelas instituições financeiras (69,23%), exigências por certidões negativas (46,15%) e obrigatoriedade de garantias e excesso de burocracia (30,77%). “Há operações em que os bancos têm pedido 150% de garantia, o que é muito complicado, visto que o empresário nem está conseguindo pagar a folha, que dirá empenhar essa garantia.”’

MEDIDA PROVISÓRIA

Ontem, o governo federal publicou uma Medida Provisória (MP) para liberar R$ 15,9 bilhões em recursos do Tesouro que serão usados como garantia de empréstimos a micro e pequenas empresas. Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei que cria o Pronampe, programa de crédito destinado ao segmento.

A ideia é que ele sirva a essas companhias de forma permanente, não apenas no período de pandemia do novo coronavírus. A edição da MP é mais um passo para efetivar o programa, mas não é suficiente para destravar o processo. Pequenos negócios que precisam desses recursos ainda precisarão esperar uma regulamentação do Conselho Monetário Nacional.

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