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Pós-pandemia: as profissões que terão destaque no "novo normal"

Com as inovações tecnológicas e demandas da pandemia, especialistas avaliam profissões que estarão em alta no mundo pós-coronavírus

Manuela Figuerêdo
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Manuela Figuerêdo
Publicado em 14/06/2020 às 8:00 | Atualizado em 14/06/2020 às 20:06
Divulgação/KeyCustomer
Casa da CEO Camila Barbalho virou estúdio para entrevistas do seu evento CSWeek. Na foto, junto a ela, Tomás Duarte, CEO da Track - FOTO: Divulgação/KeyCustomer

Com mais 898 mil trabalhadores desempregados no 1º trimestre de 2020, segundo o IBGE, totalizando 12,8 milhões de pessoas em busca de emprego, e o avanço da taxa de desocupação para 12,6%, imaginar o futuro profissional das pessoas em um contexto do “novo normal” pós-pandemia da covid-19 parece ser uma tarefa difícil. Para os jovens, pode ser ainda mais decisiva a escolha e, por sua vez, a qualificação: a taxa de desemprego dos brasileiros entre 18 a 24 anos ficou na casa dos 27% também no primeiro trimestre do ano. Por isso, para quem vai tentar se colocar no mercado de trabalho, se atentar para as carreiras que devem se destacar no mundo pós-coronavírus, na visão de especialistas, pode ser um importante passo para o sucesso.

O site InfoMoney, especializado em carreiras, listou as 10 profissões que devem ser mais valorizadas quando as coisas se normalizarem. Se você quer se colocar (ou recolocar) no mercado, vale ficar de olho: profissional de cibersegurança; Profissional customer experience; Especialista em nuvem (ou cloud); CFO (ou diretor financeiro); Diretor Comercial; Gerente de tesouraria; Planejador financeiro; Assessor de investimentos; Profissional de Recursos HumanosRH; Enfermeiros e técnicos de enfermagem. 

São profissões nas áreas de tecnologia, finanças, saúde e recursos humanos. Para o consultor de carreiras e mestre em Gestão Empresarial, Diogo Galvão, essas são áreas que não só estão em alta agora, como deverão ser valorizadas também após o começo da nova rotina. Representada, na lista, pelos profissionais de cibersegurança, especialistas em nuvem e profissionais "costumer experience" (experiência do cliente), a área de tecnologia deve continuar firme no futuro.

Com um mundo constantemente em migração para o online - o que tem permeado a vida da juventude e agora, mais do que nunca, de todos, por causa da pandemia -, não será diferente após o fim dela. “Segurança é a chave para tecnologia, principalmente com o fluxo de informações que existe na internet. É preciso ter alguém que cuide de todos esses dados, também como os especialistas em nuvem, por isso são profissão em ascensão”, afirma Diogo.

Da mesma forma, para ele, os profissionais voltados para “customer experience” - responsável por pensar e desenvolver uma experiência que consiga manter clientes ligados ao serviço ou produto oferecido pela empresa - vão ser essenciais em virtude do crescimento dos e-commerces. “Muitas empresas têm tido dificuldade porque não estavam preparadas para esse novo formato online e cada vez mais o cliente percebe a diferença de produto ou serviço quando essa experiência é pensada. Então, os negócios vão se diferenciar no futuro com profissionais que tenham essa expertise”.

CEO da empresa KeyCustomer - Experiência e Sucesso do Client, Camila Barbalho, de 33 anos, percebeu que, durante a quarentena, as adaptações foram mais fáceis porque grande parte do trabalho já era realizado remotamente. “O regime de home office tem demonstrado e desconstruído a ideia de que o que funciona é face a face e vai abrir a mente de empresas no futuro.” Camila tem investido, durante a quarentena, usando sua casa como estúdio, em eventos sobre o assunto, como o CSXWeek, que acontece entre 22 a 28 de junho. “As empresas perceberam que não se trata apenas de colecionar histórias legais sobre a relação entre cliente e empresa, mas que esse encantamento é a solução para sustentabilidade do negócio a longo prazo”, explica.

“O futuro tende a ser cada vez mais digital, automatizado e rápido, mas uma coisa que não vai mudar é que a cada interação do cliente com a sua marca é gerada uma emoção que contribui para a decisão dele em continuar ou não com a marca”, afirma Camila. O que a empresária avalia é que antes o foco das empresas estava quase que 100% voltado para conquistar novos clientes e poucos se preocupavam em manter seu público. “Com a crise, ficou claro que as empresas que já cultivavam um relacionamento mais próximo com seus clientes sentiram muito menos o impacto na área”, observa.

Para garantir o sucesso, segundo Camila, muito depende da preparação, persistência e aplicação prática das metodologias do profissional. E a tecnologia, por mais que não seja a única alavanca para o negócio dar certo, é ponto crucial. “A massa de dados gerada é impossível ser tratada manualmente, por isso, a tecnologia poderá facilitar na mineração, analise e extração dos dados mais relevantes para que possamos oferecer cada vez mais experiências personificadas”, explica.

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Casa da CEO Camila Barbalho virou estúdio para entrevistas do seu evento CSXWeek. Na foto, junto a ela, Tomás Duarte, CEO da Track - Divulgação/KeyCustomer
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Casa da CEO Camila Barbalho virou estúdio para entrevistas do seu evento CSXWeek. Na foto, junto a ela, o diretor geral da Hubspot, Paul Rios - Divulgação/KeyCustomer
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Casa da CEO Camila Barbalho virou estúdio para entrevistas do seu evento CSXWeek. Na foto, junto a ela, Lincoln Murphy, autor do livro de Customer Success - Divulgação/KeyCustomer

Partindo para o setor de finanças, também em destaque na lista da InfoMoney, estão diversas carreiras vitais para manutenção de qualquer negócio: diretor financeiro, diretor comercial, gerente de tesouraria, planejador financeiro e assessor de investimentos. Para Diogo Galvão, algumas empresas estão passando por um momento extremamente difícil justamente pelo planejamento financeiro - ou falta – que foi feito antes de tudo começar. “Empresas que não têm essa estrutura de planejamento extremamente robusto precisam buscá-la. É preciso pensar no caixa, na venda e como ela pode ser agregada com o valor do produto”, explica.

Nesse momento posterior à pandemia, que muitas empresas podem estar perto do vermelho, “esses profissionais vão poder mostrar o caminho” para que elas retomem o equilíbrio. Um dos profissionais na fértil área de finanças é o assessor de investimentos Robert Galdino, de 45 anos. Com larga experiência em grandes bancos e na área comercial, ele trabalha agora de forma autônoma, em um escritório local, no Recife, da XP investimentos, chamado Ápice Investimentos, no qual ele assessora seus clientes jurídicos e físicos para investir de acordo com as particularidades de cada um, isto é, de forma personalizada.

Sobre os impactos da crise do coronavírus, foram poucos sentidos por Robert, afinal, já havia toda uma estrutura pronta para trabalhar remotamente e a performance não foi afetada. Enquanto ex-bancário, ele percebe que a falta de planejamento financeiro, como aponta o consultor Diogo, impacta diretamente o crescimento da empresa. “Já vi diretor financeiro de banco que sequer tinha fluxo de caixa projetado para os próximos três anos. Isso faz toda a diferença para uma empresa. É vital”, obversa. O assessor de investimentos acredita que sua área é promissora. Arriscou-se nessa nova profissão para deixar de ser empregado e ser empreendedor, e com ela veio a liberdade do horário, de metas e uma remuneração melhor.

Como explicou Robert, nos Estados Unidos, 98% dos americanos investem através de um assessor de investimentos. Inversamente, no Brasil, essa taxa é de 2%, o que revela um setor que tem muito o que crescer ainda, na visão dele. Para quem deseja se lançar na área, ele acredita que, além do certificado básico, a construção de uma bagagem no setor financeiro é essencial. A catapulta para o sucesso do profissional, em sua visão, também está na capacidade de relacionamento, na rede de contatos e na resiliência. Para Robert, o futuro guarda uma maior quantidade desses profissionais também em formatos remotos.

ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Robert Galdino é assessor de investimentos em escritório local da empresa XP Investimentos - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Robert Galdino é assessor de investimentos em escritório local da empresa XP Investimentos - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Robert Galdino é assessor de investimentos em escritório local da empresa XP Investimentos - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

Com destaque durante a crise não poderiam faltar os profissionais de saúde, em especial os enfermeiros e técnicos de enfermagem, que estão na linha de frente durante o combate ao coronavírus. A profissão, embora seja citada, apresenta desafios: jornada de trabalho alta, falta de equipamentos de proteção, sobretudo, na rede pública, e piso salarial baixo. Há também “a biomedicina, a genética e a biotecnologia” que podem se destacar na visão do consultor, já que trabalham com a preservação da vida humana. “Trabalhar com vidas é muito importante, porque cuidar de pessoas também se tornou ainda mais importante do que nunca”, destaca.

Enfermeira de UTI no Hospital das Clínicas de Pernambuco, que conta com 26 leitos para receber pacientes de todo o Nordeste, Solange Maria, de 42 anos, conta que a experiência da pandemia é assustadora, desgastante e desafiadora. Durante plantões, ela já ficou 12 horas sem comer, beber água ou ir ao banheiro. Seu retorno para casa diário vem com a tarefa de garantir que ninguém seja contaminado. “Acredito também que jamais seremos os mesmos antes da pandemia e creio que a enfermagem sairá mais empoderada pelos olhos dos outros”, reflete a enfermeira. Ela acredita que a profissão é muito subjugada ao médico, mas agora poderá ser vista de forma mais independente, enquanto “serviço essencial à vida humana”.

Fundamentais na gestão de pessoal, e com papel mais destacado durante a crise, os profissionais de recursos humanos e também figuram como fundamentais para esse futuro pós-pandemia. “As empresas vão precisar de equilíbrio nas equipes direcionadas ao propósito delas. Então esses profissionais precisam trabalhar o desenvolvimento dos funcionários, inclusive emocional, para que eles possam crescer na empresa. O resultado da empresa depende das pessoas que a constituem”, observa.

“Existem bons profissionais no mercado, com talentos, e o RH tem justamente esse papel de captá-los e formar times, que vão gerar resultados. No home office, por exemplo, eles foram responsáveis por criar condições de trabalho e gerar produtividade dos funcionários, ao mesmo tempo que cuidam das pessoas no nível emocional. Por isso, o RH será extremamente demandando já que no ‘novo normal’ esse cuidado com os profissionais será ainda maior”, explica Diogo.

Essa demanda já é percebida por Ana Thereza, de 56 anos, dona da empresa de consultoria de RH. A especialista em recursos humanos relata que sua área tem sido mais procurada do que nunca pelas empresas nesse período, seja para suporte do quadro funcional ou para consultoria externa. “Lidar com pessoas é sempre um grande desafio, ainda mais nesse novo contexto que estamos vivendo”, afirma. Mas ela vê com bastante contribuição a sua profissão: lida com o acolhimento de pessoas, lideranças e funcionários em todos os níveis; prepara esses líderes para gerirem equipes remotas e ajuda a redefinir o modelo de negócio diante das mudanças tecnológicas.

Para Ana, o diferencial está em conhecer e saber lidar com pessoas e também ter um olhar para o negócio. “Novas formas de trabalho vão surgir, isto é uma realidade, e o profissional de RH precisa acompanhar as mudanças, adotando uma postura mais flexível, ágil e de inovação, seguindo a tendência das demais áreas de uma empresa. Ele terá de aderir a era da tecnologia, cuidar da saúde mental dos colaboradores e aprender a lidar com incertezas”, conclui.

O legado da pandemia

O futuro já prometia mudanças no mundo profissional. A grande questão é que a pandemia antecipou a chegada de uma tendência. Isso é o que defende Mylena Thompson, psicóloga e especialista em carreiras profissionais. “O home office já era uma alternativa que vinha sendo implementada por empresas. Atualmente, ele se tornou uma necessidade”. Com a pandemia, esse modelo chegou com um “efeito dominó” e fez empresas e profissionais refletirem em sua viabilidade. "O momento de agora não é um hiato que nos devolverá ao tempo de antes, mas uma realidade que mudará a forma como se vive e trabalha”, reforça. Como mostram os relatos dos profissionais, também estar mais conectado ao mundo digital tem mostrado sua importância na pandemia e continuará depois dela.

“As pessoas já percebem que muitos trabalhos, reuniões e consultas podem ser feitas de casa, e o que para todos os envolvidos reduz consideravelmente os custos. Novas tecnologias estão sendo criadas para permitir novos modelos de negócio e prestações de serviços, além de uma maior proteção aos dados circulados no online” explica Mylena. O retorno das atividades não se dará sem mudanças, especialmente para a geração mais nova, de acordo com especialista. “Para eles, teremos uma maior dependência da tecnologia e uma formação acadêmica hibrida, mesclando o formato presencial e remoto. Também teremos jovens fazendo caminhos diferentes na carreira, apostando no empreendedorismo e no freelance, fugindo da rotina e do convencional”, pontua.

A pandemia, ainda, vai deixar rastros substanciais no cuidado com a mente. “A saúde mental já representa uma mudança de rumo significativa no cenário atual e de futuro. Não teremos bons profissionais só pela sua qualificação curricular, mas pelas habilidades subjetivas que serão desempenhadas. Esse é um processo que só quem passa pelo autoconhecimento poderá descobrir. Empresas e líderes deverão repensar sua atuação e promoção de saúde mental se quiserem ter longevidade em seus negócios. Para uma nova realidade de vida bem vivida precisaremos cuidar com urgência da nossa saúde mental”. 

Por fim, a qualificação. Essa é a palavra que deve mover os futuros profissionais e a pandemia só provou ainda mais isso, na visão do consultor de carreiras Diogo Galvão. O ensinamento principal da pandemia do coronavírus para o mercado de trabalho, principalmente aqueles que estão querendo adentrá-lo pela primeira vez, é de que “os mais preparados tiveram mais chances em um momento como esse”, isto é, o diferencial pesou. “Fica o legado para quem vai começar a construir uma carreira, principalmente em áreas estratégicas que não se sobrevivem sem bons profissionais, de que investir no que o torna diferente pode garantir um emprego durante uma crise”, avalia.

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