Dedicar a vida profissional a serviço da humanidade, respeitando a dignidade e os direitos da pessoa humana é uma das premissas do juramento da enfermagem. Profissão que, com afinco, luta contra o avanço do novo coronavírus no mundo. Nesta terça-feira (12) é comemorado o dia destes profissionais que cuidam, sanam e recuperam vidas, mas que ainda assim sofrem com salários atrasados, condições precárias de trabalho e, diante da pandemia, falta de equipamentos de proteção individual (EPIs).
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"Nesse momento de pandemia, a população descobriu que a saúde não é formada apenas por profissionais individualizados, e sim por equipes de saúde compostas por técnicos de enfermagem, enfermeiros, maqueiros e assim por diante. A enfermagem em si mostra sua importância no cuidado e recuperação dos pacientes e é muito gratificante ver todo esse reconhecimento que estamos tendo. Mas é preciso que esse sentimento continue quando tudo se normalizar", desabafa a enfermeira Solange Maria, que atua na linha de frente contra a doença no Hospital das Clínicas de Pernambuco, na Cidade Universitária, Zona Oeste do Recife.
A enfermeira Elaine Correia, que trabalha nas Unidades de Pronto Atendimento (Upinha) da Prefeitura do Recife, também compartilha deste pensamento. "A profissão deveria ser reconhecida como essencial no cuidado ao paciente. Deveríamos ter melhores condições de trabalho, de carga horária e salário. Pois o que vemos na prática são profissionais com cargas horárias exaustivas para poder ter um salário digno", completa.
Falta de EPIs
A falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) é uma das dificuldades que os profissionais da enfermagem precisam enfrentar com a covid-19. Máscaras, aventais, luvas e outros utensílios são utilizados para evitar o contágio da doença, mas em muitos hospitais do Estado esses itens já estão em escassez.
"Nos hospitais do Estado há uma escassez maior dos EPIs, isso se reflete no número de profissionais infectados. Em uma situação como esta de pandemia, esse é um dos principais dilemas que nós, como profissionais, enfrentamos. Pois queremos cumprir nosso juramento de cuidar do próximo, mas acabamos colocando nossa própria vida e a dos nosso familiares em risco", relata Solange. No Estado, de acordo com o balanço do último domingo (10) da Secretaria de Saúde de Pernambuco, 2.814 profissionais de saúde foram diagnosticados com a doença.
Jornada de trabalho
Outro problema enfrentado pela enfermagem é a jornada de trabalho, pois desde 2000 a categoria luta para diminuir a carga horária. O Projeto de Lei nº 2295/00 busca modificar o artigo 2º da lei 7498/86 para estabelecer o limite máximo de 30 horas semanais e seis dias da semana dentro de uma localidade institucional.
A matéria foi aprovada por unanimidade nas comissões da Câmara dos Deputados e também no Senado Federal, sendo colocada em pauta para a votação por diversas vezes durante esses 20 anos. No entanto, não segue por falta de quórum e outras questões legislativas.
Piso salarial
Outra disputa da classe é pela determinação de um piso salarial. O PL nº 459/2015 tem como objetivo definir um valor salarial para os profissionais. Sua última movimentação foi em 2019, com a reabertura do prazo de emendas ao projeto.
"Agradecemos todo o reconhecimento da população, mas se faz necessário que também exista o reconhecimento das autoridades governamentais. Para que os profissionais tenham um salário base e carga horária digna, já que lidamos com vidas e um erro pode ser fatal", conclui a enfermeira Solange.
Aplausos nas janelas
Mas nem tudo são espinhos e há muito amor envolvido pela profissão. No mês de março, na capital pernambucana e em cidades do Grande Recife, a população prestou uma homenagem aos profissionais da saúde que estão na linha de frente no combate ao novo coronavírus, com uma série de aplausos pelo trabalho que elem vêm desempenhando.
"É gratificante ver o reconhecimento do nosso trabalho pela sociedade. Saber que posso ser o diferencial na vida de uma pessoa que precisa muitas vezes de algo além dos cuidados de saúde, como um conselho ou uma palavra amiga, é o que me motiva e me dá ânimo para continuar no trabalho, principalmente neste período de pandemia", afirma Solange.
O sentimento de saber que pode salvar e melhorar a vida dos pacientes também é o que motiva Elaine na profissão. "Me sinto realizada diariamente em poder cuidar e proporcionar qualidade de vida as pessoas", conta.
Protestos por melhorias
As melhorias dessas condições de trabalho também são cobradas pelos técnicos e auxiliares de enfermagem. No mês de fevereiro, antes de implodir a covid-19 no Estado, os profissionais protestaram em frente ao Hospital da Restauração, no bairro do Derby, na área Central do Recife. A classe também comemora um dia em sua homenagem neste mês. Na próxima quarta-feira (20) é comemorado o Dia Nacional do Técnico de Enfermagem.
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