Com a interiorização da covid-19, o Recife e municípios da Região Metropolitana vivem um alívio com o declínio no número de mortos pela doença. Os registros vêm em desaceleração desde maio: enquanto em abril a capital concentrava 54% do total de novas ocorrências em Pernambuco, na última quarta-feira (1º) respondia por 21%. Na ponta, o desafogo é sentido nas casas funerárias e cemitérios, que também registraram queda na demanda por serviços de óbitos por coronavírus.
A redução se intensificou a partir da segunda quinzena de junho, falou Luís Alves, presidente do Sindicato das Empresas Funerárias de Pernambuco (Sindef-PE). “O pico foi durante o final de abril e o mês de maio. Toda funerária fazia diariamente serviços para casos covid. Tinha empresa fazendo de 5 a 8; uma vizinha da gente chegou a fazer 15, outra, 17” falou o sindicalista, que também é proprietário da funerária Santa Bárbara, em Santo Amaro.
No seu empreendimento, chegou a passar 20 dias sem atender falecimentos pelo coronavírus, até receber um único óbito no último sábado (4). “Graças a Deus diminuiu muito, mesmo”, comemorou.
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Mesmo com a melhora, os protocolos sanitários, definidos pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), seguem em vigência. A nota técnica nº 4/2020 do (Cievs) publicada no início de abril determina que os corpo das vítimas sejam enrolados em lençol, selados em dois sacos impermeáveis e postos em caixão fechado, sem direito a velório, transportado diretamente para o enterro. Os funcionários do necrotério, da funerária e do cemitério que fazem o manejo do cadáver devem trajar equipamento de proteção individual (EPI) da cabeça aos pés e no máximo dez pessoas participam do sepultamento, obedecendo a distância mínima de dois metros.
“O pessoal acha que a gente tava feliz (com a pandemia), mas não estava. Com outras causas de mortes, você trabalha sem medo. Com covid, era todo mundo assustado, por mais cuidado que se tome - macacão, máscara, luva. Aconteceu de colegas falecerem da doença”, lamentou Luís.
Outro indicativo é que os cemitérios públicos do Recife voltaram ao horário de funcionamento normal. Em abril, precisaram estender o fechamento das 16h para as 21h exclusivamente para dar conta dos enterros de casos do vírus, lembrou Luís.
O número de sepultamentos nas necrópoles municipais da capital - Santo Amaro, Parque das Flores, Tejipió, Casa Amarela e Várzea - foram de 1.710 em abril, a 2.310 em maio e 1.170 em junho, de acordo com a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb). Em nota, a Emlurb disse que preparou os cinco cemitérios para receber os enterros conforme as diretrizes da SES, com locais isolados para essas atividades.
"O sepultamento ocorre em caixão lacrado e reúne, no máximo, 10 pessoas, desde que respeitadas as medidas de distanciamento entre si para evitar a disseminação do novo coronavírus. Os coveiros, por sua vez, estão equipados com máscara cirúrgica, protetor facial, luvas de procedimento, bota impermeável de cano longo e avental descartável", pontuou.
Em Olinda, as cerimônias fúnebres nos dois cemitérios municipais também vêm caindo desde abril, quando houve 170, passando por maio, com 130, a junho, encerrado com 115. Não há dados específicos para o Cemitério de Guadalupe, designado para receber óbitos da covid, mas a prefeitura da cidade relacionou a baixa com a diminuição dos casos de infectados em estado grave. O município não está realizando velórios em casos de vítimas da doença.
“Para sepultamento, a recomendação do Ministério da Saúde é que no máximo 10 pessoas acompanhem, não sendo nenhuma dos grupos de risco. Os profissionais envolvidos estão trabalhando com Equipamento de Proteção Individual completo e todo material é higienizado após cada sepultamento”, informou a administração, em nota.
A demanda também caiu nos cemitérios particulares. No Morada da Paz, em Paulista, os atendimentos reduziram durante o mês de junho e a primeira semana de julho, de acordo com Lúcio Telles, diretor de operações do Grupo Vila, empresa proprietária do cemitério.
“A gente teve um pico de dois meses de aumento de volume, acima da média histórica, em abril e sobretudo maio, quando a gente bateu recorde de atendimentos”, contextualizou. “Finalizamos um mês e agora iniciando a primeira semana de julho próximo da média histórica. A gente sentiu bastante essa queda do cenário”, falou.
O adeus dos enlutados acontece sob as mesmas normas de segurança. Grupos de até 10 pessoas, distanciamento de 1,5 metro a 2 metros, máscaras, álcool em gel e tempo mínimo de despedida, descreveu Lúcio.
“Quando a gente tem uma confirmação de óbito por covid-19, na maioria dos casos vão direto pro sepultamento ou cremação”, relatou. “Não é um impedimento direto. O que se pede é que seja o mais restrito possível. Quando há um sepultamento ou cerimônia de cremação, um grupo de familiares pode estar presente mas seguindo protocolo de segurança”, explicou.
Mesmo sem velório, há um breve momento de despedida com os familiares. “A própria família já compreende isso. Elas mesmo já evitam, sabem que há uma condição diferente para realização do velório, apesar da dificuldade da dor em saber que não vão poder passar um tempo maior”, disse.
A preocupação do grupo é fazer valer as normas estaduais de uma maneira que as pessoas possam elaborar o luto. “Existe aí um dano psicológico e emocional. As pessoas vão começar a reconstruir essa fase da vida e os ritos são muito relevantes nessa forma de ressignificar”, defendeu. “Perder isso é arrancar algo que culturalmente é muito forte para a gente. Tentamos minimizar isso, para que aquele núcleo familiar tenha um momento de chorar e entender que isso se inicia uma nova etapa.”
Ele destacou a realização dos serviços online como uma forma de amenizar a dor da distância. "A gente disponibiliza alguns canais, com a possibilidade de assistirem ao Velório Virtual e de poderem fazer suas homenagens através da Morada da Memória. Os amigos podem deixar frases, relatos, compartilhar fotos", citou.
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