Durante a pandemia, uma ideia antiga saiu do papel e vai trazer muito mais do que um novo ar à Marim dos Caetés. É a Olinda Creative Community Action (OCCA), que juntou 49 profissionais - muitos que se destacam em áreas distintas, como música, tecnologia, artes, engenharia, entre outras - num coletivo que vai se instalar num casarão na esquina da bela Rua 13 de Maio com a Rua da Boa Hora, no Sítio Histórico de Olinda. “É uma comunidade de gente desenrolada. Nosso interesse é fazer coisas. Experimentar. Ser um berçário de startups para transformar novas ideias em negócios”, resume um dos idealizadores do projeto, Kleber Dantas, que além de consultor de tecnologia é sócio de dois empreendimentos, a Pousada do Amparo e o Restaurante Beijupira-Olinda, ambos na cidade alta.
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O projeto vai ter uma “estrutura simples” , funcionando como um Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT), formado por diferentes células. Lá, serão bem-vindas empresas ou organizações."Vai ser feito um time de futebol. Terá uma diretoria mínima de três pessoas eleitas pelo grupo e essa diretoria vai cuidar do ambiente. Os negócios serão desenvolvidos nas células que terão a participação de alguns sócios", explica Kleber. Detalhe: 20% das cotas dos negócios serão ofertados a outras pessoas que fazem parte da comunidade.
“O grande ativo da OCCA são os mentores em nível único”, afirma Kleber. Entre os 49 participantes, estão o maestro Spok, o ilustrador Thony Silas - "que está terminando a saga do novo Superman para a Marvel" –, Henrique Foresti, engenheiro de sistemas e professor do Cesar e idealizador da plataforma Roboliv.re; o engenheiro da Petrobras Acácio de Carvalho, o empresário Júlio Gil Simões Freire, sócio da Elcoma; o roteirista Leo Falcão, que fez parte do Núcleo Guel Arraes da Globo; mais empresários e executivos.
A OCCA vai ser um local que valoriza o conhecimento, o aprendizado, usando desde a inteligência artificial a uma cortadora a laser. De lá, vão sair produtos como artesanato digital até arfetatos eletro-eletrônicos musicais. A parte física da casa vai ser aberta ao público a partir de 1º de agosto. "Na OCCA, as pessoas vão experimentar ideias malucas. Não há compromisso com a premissa. Os projetos podem dar certo ou errado, porque em princípio serão projetos ousados. É o local adequado para novos modelos de negócios nessa economia pós-pandemia", resume Kleber.
A estrutura também quer estimular um conceito de que as pessoas podem trabalhar no Sítio Histórico, morar no local e também se divertir por lá. Grande parte da classe média de Olinda trabalha no Recife. "Os que vão desenvolver projetos na OCCA também devem passar por experiências como tomar uma no Bar do Peneira, na cidade alta, e discutir a singularidade de Harari", conta Kleber. Ele se refere ao escritor israelense Yuval Harari, autor de livros que mudaram a forma de entender o mundo, como Homo Sapiens, Homo Deus e 21 Lições para o Século 21. O investimento para implantar o coletivo, no primeiro ano, é estimado em R$ 600 mil, sendo que metade vai ser bancada pelos sócios em parcelas mensais de cerca de R$ 500 e os outros R$ 300 mil estão em fase de captação.
As grandes células da OCCA já definidas são: a OCCA School - que deve abrigar também uma escola de ilustração -, a Praça da Imaginação - que vai também oferecer refeições e lanches - e o clube de up cycling, atividade que consiste em transformar um produto reciclado em outro com maior valor agregado do que o usado inicialmente.
Em três meses de existência, a OCCA já tem três empresas, incluindo a Hactus Criative que faz artesanato digital. "Trabalhamos muito com artigos para as casas das pessoas. Fazemos aquilo que as pessoas não encontram numa loja. Pode chegar com uma ideia na cabeça que a gente faz", revela o fundador do Hactus Creative, Henri Coelho, que já instalou uma cortadora a laser no local. A empresa já produziu pequenas mesas, quadros e peças de decoração. E já tem clientes na Paraíba, Espírito Santo, Bahia, interior de Pernambuco e, naturalmente, no Sítio Histórico.
ESCOLA DE FELICIDADE
Um dos sócios da OCCA, o engenheiro Acacio de Carvalho vai instalar no local a escola de felicidade. "Cerca de 60% das habilidades exigidas no mercado de trabalho não se ensina na escola, como empatia, proatividade, criatividade e inovação. Já existe formação nessa área, mas não chegou à escola", conta Acácio, que passou boa parte da sua vida profissional trabalhando com planejamento estratégico. No dia, que falou com a reportagem, ele estava dentro de uma plataforma de petróleo em alto mar.
Segundo ele, o objetivo da Plena Pace (que significa paz integral) é principalmente treinar jovens em capacidades sócio-emocionais para o mercado de trabalho.
Um dos primeiros treinamentos deve beneficiar cerca de 2 mil jovens selecionados por uma ferramenta de inteligência artificial chamada Ana. Depois da seleção, esses jovens vão aprender programação em Phyton e as habilidades sócio-emocionais. "O Porto Digital tem déficit de programadores jovens. E aí esses meninos poderão trabalhar lá. Queremos mostrar que o menino do V-8 é capaz de se tornar uma pessoa nesse mundo sem fronteiras que a tecnologia e o conhecimento proporcionam", resume Acácio. Para quem não sabe, o V-8 é um das comunidades mais pobres de Olinda.
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