Selic vai ao menor patamar da história

JUROS Dirigentes do Banco Central citaram as "incertezas" para reduzir a taxa para 2% ao ano

Publicado em 06/08/2020 às 6:00
JAILTON JR./JC IMAGEM
DEMANDA Banco Central teme rombo fiscal por causa dos auxílios pagos - FOTO: JAILTON JR./JC IMAGEM
Leitura:

BRASÍLIA — Em mais um movimento para estimular a economia durante a crise provocada pelo novo coronavírus, o Banco Central cortou a Selic (a taxa básica de juros) pela nona vez consecutiva. Em decisão unânime, os dirigentes da autarquia citaram "incertezas" sobre a atividade para reduzir a taxa em 0,25 ponto porcentual, de 2,25% para 2% ao ano. Este é o menor juro básico já registrado no Brasil.

Para os próximos meses, o BC sinalizou que os juros seguirão em níveis baixos, mas que há pouco espaço para novos cortes. A Selic no piso histórico reduz ganhos com aplicações financeiras, como a caderneta de poupança e os investimentos em renda fixa.

Com juros a 2% ao ano, o Brasil possui agora o 15º juro real mais baixo do mundo, considerando as 40 economias mais relevantes. Os cálculos são do site MoneYou e da Infinity Asset Management.

Com a atividade sob pressão e a inflação em níveis comportados, a expectativa dos analistas era de que o BC, de fato, cortasse mais uma vez a Selic ontem. De um total de 50 instituições consultadas, 43 esperavam por um corte de 0,25 ponto, para 2% ao ano. Sete casas aguardavam pela manutenção da taxa básica em 2,25% ao ano.

No comunicado que acompanhou a decisão, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC qualificou o ambiente para as economias emergentes como "desafiador" e citou a incerteza sobre o ritmo de crescimento do Brasil — em especial a partir do fim de 2020, quando os efeitos dos auxílios emergenciais arrefecerem.

Ao mesmo tempo, o BC alertou que as políticas do governo de resposta à pandemia podem fazer com que a redução da demanda por produtos e serviços seja menor que a estimada, o que poderia dar força à inflação.

Por trás do comentário, está o receio de que programas adotados durante a pandemia — como o auxílio emergencial de R$ 600 — possam se tornar permanentes, elevando ainda mais o rombo fiscal do governo. Com isso, o BC poderia ser obrigado a subir a Selic.

Na visão do BC, enquanto a inflação projetada estiver abaixo das metas — como visto atualmente — não haveria motivos para a Selic subir.

ONDE INVESTIR

Com a redução para 2% ao ano, o Brasil deve ter um juro real (juro nominal descontado da inflação) negativo em 0,71% nos próximos 12 meses, segundo cálculo da Infinity Asset. Neste cenário, para que o dinheiro não perca valor, é preciso buscar investimentos que rendam acima dos 2,97% de inflação esperada para o período, segundo o boletim Focus.

Neste cálculo, a barra da rentabilidade fica nos 156% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), taxa baseada na Selic que determina o rendimento anual de uma série de investimentos.

Segundo levantamento do buscador de investimentos Yubb, os produtos de renda fixa com maior rentabilidade são CDBs de bancos pequenos no mercado secundário, que chegam a render 155% do CDI. O CDB, porém, tem incidência do imposto de renda, o que reduz a rentabilidade líquida.

A poupança, mesmo isenta de IR, tem retorno menor por render apenas 70% da Selic ao ano para depósitos posteriores a maio de 2012. O rendimento da poupança antiga segue em 0,5% ao mês.

Já os títulos do Tesouro prefixados e atrelados ao IPCA, têm rendimentos mais expressivos, que variam de 3,9% a 6,7% ao ano. Segundo especialistas, para proteger o capital da inflação, é preciso diversificar a carteira, combinando ativos de renda fixa e variável, com foco no longo prazo.

Comentários

Últimas notícias