O tombo provocado pela pandemia do coronavírus foi grande. E agora a necessidade de voltar a fazer a economia crescer é ainda mais urgente depois da queda de 9,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre deste ano, comparando com os três primeiros meses de 2020. Para retomar o crescimento do País, o governo federal deve definir uma política de desenvolvimento dando prioridade, num primeiro momento, a retomada do investimento, segundo pelo menos três economistas consultados pelo JC. "Quase 10% de variação negativa é uma situação muito séria. O governo tem que desenvolver uma estratégia de desenvolvimento. E não adianta focar somente no ajuste fiscal", explica o economista e sócio-diretor da Consultoria Ceplan Jorge Jatobá.
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Para Jatobá, o primeiro passo seria aumentar o investimento público e criar condições para que volte a ocorrer o investimento privado. "Não há solução mágica para a retomada da economia. A União só tem algum arbítrio sobre 6% do seu orçamento. Os 94% restantes são despesas incompressíveis (que não podem ser alteradas). Então, como os recursos públicos são limitados, deve se estimular iniciativas com o setor privado, como as Parcerias Público-Privadas (PPPs) e concessões", argumenta.
Esses futuros investimentos deveriam contemplar, principalmente, a área de infraestrutura, como estradas, portos, entre outros. "É importante criar um ambiente que induza os investimentos privados", comenta o economista. Primeiro, o investimento ajuda na retomada, porque gera emprego, renda e isso retroalimenta a economia que passa a crescer mais. E também melhorias na infraestrutura são importantes porque deixam a economia mais competitiva.
Outro fator que também não pode passar despercebido é o grande tamanho do mercado interno do País formado por 213 milhões de pessoas, como lembra Jatobá."Ampliar o mercado interno também gera demanda, aumenta a produção e o emprego", revela Jatobá.
O professor do Centro Universitário Tiradentes Edgard Leonardo defende que o governo federal deveria fazer um plano de reconstrução, porque sem planejamento não se chega a lugar algum. "É importante dar proteção aos vulneráveis porque gera consumo na base da pirâmide e evita o caos social. Também é interessante sinalizar que o País vai ficar com as finanças organizadas e que há segurança jurídica aos investimentos", resume.
Manter as finanças da União organizadas é primordial, segundo todos os entrevistados desta matéria. "É difícil pensar em crescimento sustentável sem investimento. O País tem que ter previsibilidade com relação à questão fiscal. O investidor tem que saber que não há risco com relação à dívida do governo federal. Que não vai haver hiperinflação. O Estado tem que mostrar que não apresenta risco iminente de insolvência", afirma o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas Mauro Rochlin.
Depois da retomada dos investimentos, os economistas voltam a defender que deveriam sair do papel as reformas administrativa e a tributária. Para isso, elas teriam que ser aprovadas pelo Congresso Nacional. O Executivo apresentou uma minuta de reforma administrativa na semana passada. O objetivo dessa reforma seria diminuir o peso do Estado brasileiro, que não é barato e entrega serviços pífios ao cidadão. "A reforma tributária deve fazer a produção ser menos onerada e também colocar mais carga tributária em cima dos que têm mais poder de contribuição. Medidas nessa direção podem ajudar na reconstrução de um ambiente de confiança e credibilidade que induzam a mais investimentos", revela Mauro. A reforma tributária vai simplificar a arrecadação de impostos que hoje é algo bastante complicado no Brasil.
"É difícil elencar qual a reforma mais importante uma vez considerados os efeitos de segunda ordem no sistema como um todo. A reforma tributária pode ter efeito direto no ambiente de negócio se direcionada para simplificar e reduzir custos de conformidade fiscal por parte das empresas brasileiras. Sobretudo nas de pequeno e médio porte, tradicionalmente mais sensíveis", comenta o professor de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Paulo Vaz. Ele também acredita que a reforma administrativa pode contribuir para melhorar a situação fiscal do Executivo no médio e longo prazo, "criando condições para convivermos com taxas de juros baixas não apenas em momentos de crise". As taxas de juros baixas também trazem um cenário mais positivo à economia.
E, por último, os economistas citam que é necessário investir em modernização, inovação, e melhorias na área de educação para que a retomada da economia venha de forma sustentável. "O investimento em inovação gera novos produtos, traz Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Isso gera expansão econômica e novos mercados", conclui Jatobá.
ESTUDO
A retomada do crescimento da economia é urgente, porque um estudo feito pelo economista do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas Marcel Balassiano mostrou que a atual década que está se encerrando este ano foi a de mais baixo crescimento nos últimos 120 anos. "Mesmo sem o coronavírus, a atual década já seria perdida. Antes da pandemia, a previsão era de um crescimento de 2% este ano, o que resultaria num aumento médio de 0,8% ao ano entre 2011 e 2020”, afirma Marcel. Agora, a expectativa é que ocorra um decréscimo de 5% do PIB este ano no Brasil.
Devido à pandemia, a queda da atividade econômica foi mais forte no segundo trimestre deste ano porque as famílias reduziram o consumo em 12,5%. Também neste trimestre, uma parte do comércio e serviços que não eram essenciais ficaram fechados para cumprir as regras de distanciamento social.
O segundo trimestre deste ano também foi de queda em outros lugares do mundo por causa da pandemia. Os Estados Unidos, a parte da Europa que usa o Euro e o Japão apresentaram quedas, respectivamente, nas suas atividade econômicas de 9,1%; 12,1% e 7,8%, de acordo com a Carta Conjuntura de nº 48 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
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