Mais da metade dos pernambucanos viviam em residências sem acesso a alimentos em quantidade e qualidade adequadas entre os anos de 2017 e 2018, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (17). A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018 - Análise da Segurança Alimentar no Brasil mostra que o percentual de casas que apresentavam algum grau de insegurança alimentar quase dobrou no Estado em cinco anos, passando de 25,9%, em 2013, para 48,3% em 2017 e 2018. Ao todo, quase cinco milhões de pernambucanos, o que representa 52% da população do Estado, moravam nestas residências.
Entre 2017 e 2018, dos mais de 3 milhões de domicílios particulares de Pernambuco, 1 milhão e 567 mil (51,7%) estavam em situação de segurança alimentar. Habitavam estas moradias cerca de 4,5 milhões de pessoas. Em 2013, eram 74,1% das casas em situação de segurança alimentar, o que significa que, em cinco anos, aproximadamente 2 milhões de pessoas no Estado passaram a ter restrição no acesso aos alimentos. Os números de Pernambuco acompanham a tendência apresentada em todas as regiões. No Brasil, segundo a pesquisa, a quantidade de domicílios com algum grau de insegurança alimentar cresceu, chegando a 36,9% das residências.
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A pesquisa faz uso da classificação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), considerando o período de referência dos três últimos meses anteriores à data da entrevista. A insegurança alimentar leve acontece quando há alguma preocupação com a quantidade e qualidade dos alimentos disponíveis, tendo incerteza quanto ao acesso a eles no futuro. A insegurança alimentar é classificada como moderada quando os moradores convivem com restrição quantitativa de alimentos entre adultos. Já os lares com insegurança grave envolvem, além de adultos, crianças que passavam por privação de alimentos.
Entre os anos a que a pesquisa se refere, um milhão e 455 mil domicílios de Pernambuco apresentavam algum grau de insegurança alimentar. Deste total, 2,9 milhões de pessoas (30,8%) viviam em locais com insegurança leve; um milhão e 333 mil pessoas (14,2%) residiam em casas com insegurança alimentar moderada e 661 mil pessoas (7%), em residências com insegurança alimentar grave. Isto representa um aumento de 156% na quantidade de pernambucanos com insegurança alimentar moderada e grave entre 2013 e o período 2017-2018. Este é o pior desempenho do Estado desde 2004.
A POF é o levantamento mais detalhado sobre os padrões de renda e hábitos de consumo brasileiros. No Estado, a coleta aconteceu entre junho de 2017 e maio de 2018, envolveu 63 servidores do IBGE e foi realizada em 3.106 lares, distribuídos em 90 cidades. Os entrevistados foram acompanhados por sete dias, período em que responderam questionários sobre as compras de alimentos e produtos de limpeza e sobre os gastos fora de casa. Esta foi a primeira edição que investigou a insegurança alimentar no País.
Dados nacionais de insegurança alimentar
A insegurança alimentar grave, em que as pessoas relataram chegar a passar fome, atingiu 4,6% dos domicílios brasileiros, o equivalente a 3,1 milhões de lares, em 2017-2018. Esse percentual significa que 10,3 milhões de pessoas residem em domicílios nessa situação, sendo 7,7 milhões moradores na área urbana e 2,6 milhões na rural. Em 2017-2018, dos 68,9 milhões de domicílios no Brasil, 36,7%, o equivalente a 25,3 milhões de lares, estavam com algum grau de insegurança alimentar: leve (24%, ou 16,4 milhões), moderada (8,1%, ou 5,6 milhões) ou grave (4,6%, ou 3,1 milhões).
Segundo o IBGE, na população de 207,1 milhões de habitantes em 2017-2018, 122,2 milhões eram moradores em domicílios com segurança alimentar, enquanto 84,9 milhões moravam aqueles com alguma insegurança alimentar, assim distribuídos: 56 milhões em domicílios com insegurança alimentar leve, 18,6 milhões em domicílios com insegurança alimentar moderada e 10,3 milhões de pessoas residentes em domicílios com insegurança alimentar grave.
Captada por três suplementos da antiga Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a prevalência nacional de segurança alimentar era de 65,1% dos domicílios do país em 2004, cresceu para 69,8% em 2009 e para 77,4%, em 2013. Já a POF 2017-2018 mostra que essa prevalência caiu para 63,3%, ficando abaixo do patamar encontrado pela PNAD em 2004. A insegurança alimentar leve teve aumento de 33,3% frente a 2004 e 62,2% em relação a 2013. A insegurança alimentar moderada aumentou 76,1% em relação a 2013 e a insegurança alimentar grave, 43,7%.
Segundo o gerente da Pesquisa de Orçamentos Familiares, André Martins, o aumento da insegurança alimentar está relacionado, entre outros motivos, à desaceleração da atividade econômica nos anos de 2017 e 2018. Menos da metade dos domicílios do Norte (43%) e Nordeste (49,7%) tinham segurança alimentar, isto é, acesso pleno e regular aos alimentos. Os percentuais eram melhores no Centro-Oeste (64,8%), Sudeste (68,8%) e Sul (79,3%). A prevalência de insegurança alimentar grave do Norte (10,2%) era cerca de cinco vezes maior que a do Sul (2,2%).
A rede geral de esgotos está presente em menos da metade dos domicílios em insegurança moderada (47,8%) e grave (43,4%). Em ambos os casos, a existência de fossa não ligada à rede é bastante relevante (43%). O uso de lenha ou carvão na preparação dos alimentos foi mais frequente nos domicílios com insegurança alimentar moderada (30%) e grave (33,4%). Já o uso de energia elétrica foi mais frequente (60,9%) nos lares em segurança alimentar e menos (33,5%) nos lares com insegurança alimentar grave.
A POF pediu a avaliação subjetiva (bom, satisfatório ou ruim) dos moradores sobre seus padrões de alimentação, moradia, saúde e educação. Quase a metade (49,7%) das famílias com insegurança alimentar grave classificaram como ruim o seu padrão de saúde, enquanto quase dois quintos (33,9%) dessas famílias avaliaram como ruim o seu padrão de alimentação.
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