RETOMADA

Produtores da bacia leiteira de Pernambuco otimistas com a retomada do setor

A bacia leiteira de Pernambuco voltou a apresentar vigor. As chuvas voltaram, o consumo de alimentos está aquecido e o Selo Arte vai criar novos mercados para produtos artesanais, como o queijo coalho

Angela Fenanda Belfort
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Angela Fenanda Belfort
Publicado em 25/09/2020 às 15:21
LATICÍNIO SÃO JOSÉ/DIVULGAÇÃO
EXPECTATIVA Em Pedra, a Laticínio São José fez investimentos e mudou a infraestrutura para produzir mais - FOTO: LATICÍNIO SÃO JOSÉ/DIVULGAÇÃO
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Depois de anos num cenário difícil, a bacia leiteira de Pernambuco voltou a apresentar vigor. Alguns produtores da bacia leiteira pensam em aumentar a produção e estão otimistas. Vários fatores contribuíram para isso. Começou pelo clima: as chuvas voltaram. Mesmo com a pandemia do coronavírus, o consumo dos alimentos aqueceu. E, no máximo dentro de 60 dias, quatro produtores serão os primeiros certificados com o Selo Arte, uma antiga reivindicação dos produtores de leite. Isso vai permitir que produtos artesanais, como o queijo coalho, o queijo manteiga, a manteiga de garrafa e o doce de leite feitos em Pernambuco possam ser comercializados em todo o País.

"Pessoas de outros Estados ligavam para a fábrica, querendo comprar queijo coalho e a gente dizia que não podia vender. A nossa expectativa é estar com o Selo Arte até o final do ano. Já fizemos os ajustes na estrutura física, aperfeiçoamos as boas práticas de fabricação. A nossa produção vai aumentar, porque o mercado vai crescer", conta o sócio da queijaria artesanal Rancho Alegre, Otávio Bezerra do Rego Barros. Localizado em Pesqueira, no Agreste pernambucano, o empreendimento está entre os quatro primeiros certificados.

A intenção da empresa é ir crescendo a produção, aos poucos, até voltar a processar cerca de 15 mil litros de leite por dia, quantidade utilizada pela fábrica antes da grande estiagem que atingiu o Agreste de Pernambuco entre o final de 2011 e 2018. No auge da seca, a empresa só conseguiu processar 5 mil litros de leite diários. Hoje, passam pela fábrica entre 7 mil e 8 mil litros diariamente. "Os produtores lutam há mais de 10 anos para conseguir um selo desse tipo", conta Otávio.

Outro empreendimento que também está esperando o Selo Arte é o Laticínio São José, no município de Pedra. "Vamos aumentar gradativamente a produção, absorvendo o leite próprio. Vai ser bom para o consumidor, porque serão adotadas mais boas práticas de fabricação e, quanto mais higiene, melhor. A nossa expectativa é estar com o selo, no máximo, em 60 dias", conta um dos sócios da empresa, José Marcelo Diniz. E complementa: "O agronegócio está pegando fogo. Está tudo valorizado. O auxílio emergencial deu uma esquentada no comércio durante os meses mais rígidos da quarentena - e como na época não tinham outras lojas abertas e as pessoas estavam em casa - compraram mais comida", explica. A fábrica processa cerca de 3,6 mil litros de leite por dia. Depois que receber o selo, o estabelecimento planeja expandir as vendas para Estados mais próximos, como Paraíba e Alagoas.

O selo vai trazer o que os economistas chamam de "agregar valor", permitindo que o produto seja comercializado por um preço um pouco maior do que o similar sem a certificação. Para receber o Selo Arte, os produtores terão que cumprir uma série de requisitos exigidos pela Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco (Adagro), que vão desde uma padronização nas instalações físicas das queijarias - incluindo uma maior documentação do processo fabril - até um maior controle sanitário dos animais que produzem o leite.

Atualmente, os produtos artesanais lácteos feitos em Pernambuco têm apenas o selo do Serviço de Inspeção Estadual (SIE) concedido pela Adagro que permite a comercialização apenas no Estado. "O selo do SIE é a primeira porta que os produtores têm que passar para ter o Selo Arte. Criamos uma legislação estadual para certificar as queijarias. E a nossa intenção é contribuir para um ciclo virtuoso, que vai aumentar o mercado e gerar mais estabilidade ao setor. Existem 42 queijarias que tem o selo do SIE e estão intereressadas em ter o Selo Arte", resume o secretário estadual de Agricultura, Dilson Peixoto, acrescentando que Pernambuco foi o primeiro Estado do Nordeste a conseguir implantar essa certificação.

O governo estadual também vai certificar os produtores de leite que fornecem para esses 42 empreendimentos. De acordo com o secretaria, 83 produtores de queijo artesanal iniciaram o processo para ter o selo do SIE.

Ainda dentre as exigências do Selo Arte, as empresas que conseguirem a certificação terão dois anos para receber a denominação de ter os seus rebanhos livres de brucelose e tuberculose, duas doenças que podem ser transmitidas pelo leite cru. Atualmente, as propriedades que produzem leite no Estado tem a denominação de controlada. "A diferença é que na propriedade considerada livre, serão feitos dois exames por ano em todo o rebanho e caso chegue algum animal novo terá que apresentar um exame prévio e fazer uma quarentena até se juntar aos demais", explica o responsável técnico veterinário do Laticínio Polilac, George Pires Martins. A empresa está certificada para receber o Selo Arte.

"A nossa expectativa é de um aumento de 15% nas vendas num primeiro momento depois de receber o selo", diz o sócio da empresa, Waldemir Miranda. A Polilac produz cerca de 4,2 mil litros de leite por dia e processa atualmente mil litros diariamente. E aposta de todos os empresários citados acima é especialmente no aumento da produção do queijo coalho, iguaria típica de Pernambuco.  

 

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EXPECTATIVA Em Pedra, a Laticínio São José fez investimentos e mudou a infraestrutura para produzir mais - FOTO:DIVULGAÇÃO

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