Com o fim do auxílio emergencial em dezembro deste ano, cerca de 38 milhões de brasileiros devem ficar sem assistência, segundo estima a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
De acordo com os pesquisadores Lauro Gonzalez, Bruno Barreira e Leonardo José Pereira, estes 38 milhões são compostos pelos que receberam a primeira parcela do auxílio e não estão inscritos no Cadastro Único ou no Bolsa Família. Tais dados reforçam ainda mais a necessidade de o governo definir estratégias claras de assistência social para o período pós-auxílio.
Dados da pesquisa apontam que esses trabalhadores não inscritos em programas sociais de assistência somam 61% dos que receberam o auxílio emergencial. Além disso, mais da metade destas pessoas são informais, com renda de até R$ 1.254, de baixa escolaridade e com formação, no máximo, do ensino fundamental.
O estudo realizado pela FGV foi desenvolvido com os dados divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Covid-19, em relação ao mês de agosto deste ano, onde foi mensurado os efeitos da pandemia do novo coronavírus na vida dos brasileiros.
O coordenador do Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV, Lauro Gonzalez, acredita que esta parcela da população não atenda os critérios do Bolsa Família, mas ainda assim possua características de vulnerabilidade social. “Esse contingente populacional não é tão pobre de forma a atender os critérios para o enquadramento no Bolsa Família, tal qual o programa é desenhado hoje, mas tem um conjunto de características que são bastante associadas a uma grande vulnerabilidade, sobretudo diante de variações na economia", explicou em entrevista a Folha de São Paulo.
Ainda segundo ele, o auxílio emergencial pago durante a pandemia mostrou que programas como o Bolsa Família podem ser bastante positivos.
“O auxílio emergencial e a crise tornaram mais clara a percepção de que o Bolsa Família é um programa extremamente exitoso, mas hoje o número de pessoas atendidas é insuficiente, face às mudanças recentes do mundo do trabalho e à existência de um público que fica na fronteira entre a pobreza e a não-pobreza”, disse Lauro Gonzalez.
Para o economista, é necessário, neste momento, voltar as atenções para o desenvolvimento de um programa de assistência social e econômica claro e de abrangência, independente do nome que se dê a ele.
“É preciso aumentar a abrangência de um programa, seja qual for o nome que se dê a ele, ampliando o número de pessoas atendidas, os recursos aplicados e apontando fontes permanentes de financiamento [...] O Estado precisa definir o que ele quer da vida para um programa de transferência de renda. Tem havido idas e vindas, uma verdadeira gangorra de anúncios por parte do governo, o que gera muita insegurança para a população", completou.
Comentários