Prestes a completar 15 anos, em novembro, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) retoma suas atividades no Complexo de Suape, após um ano e quatro meses sem operação. A empresa começa a colocar em prática seu Plano de Recuperação Judicial, que prevê o pagamento de uma dívida de R$ 2,3 bilhões com os credores, num prazo de até 35 anos. Para voltar a trazer dinheiro ao caixa, uma das estratégias é oferecer serviços de reparação naval. Na semana passada, o primeiro navio a ser reformado no EAS atracou no cais e o segundo está previsto para chegar esta semana.
Durante sua trajetória, até o ano passado, o Atlântico Sul atuou na construção de embarcações de grande porte. A Transpetro - braço logístico da Petrobras - encomendou 22 navios ao EAS, mas depois cancelou sete e provocou uma frustração de receita de R$ 4 bilhões ao empreendimento, controlado pela Camargo Corrêa e Queiroz Galvão. Depois de entregar o último navio à estatal, em junho de 2019, o estaleiro deixou de operar. Credores começaram a bloquear contas da empresa, solicitando altos valores, e a saída foi recorrer à Recuperação Judicial, aprovada em fevereiro deste ano.
O plano de reestruturação financeira do EAS está baseado em quatro pontos: operação de reparos navais, renegociação das dívidas, projeto industrial com infraestrutura marítima e continuidade do modelo de negócios. Os dois primeiros contratos de reparação foram fechados com a Flumar Transporte de Químicos e Gás Ltda. para reformar as embarcações Bow Atlantic e Flumar Brasil. A empresa é uma subsidiária do centenário grupo norueguês Odfjell, especializado no transporte e armazenamento de produtos químicos. Os navios Flumar Brasil e Bow Atlantic têm 10 e 25 anos de construção, respectivamente.
Cada embarcação levará cerca de 60 dias para ter os trabalhos de reparo concluídos e foram contratados 200 trabalhadores temporários para realizar o trabalho (quase 100% ex-funcionários). A retomada do EAS foi comemorada nas redes sociais por diretores, colaboradores e ex-funcionários. A chegada do Bow Atlantic simbolizou a volta da esperança de reerguer o Atlântico Sul. Os trabalhadores aguardaram a atracação do navio no cais e consideraram o dia histórico, emocionante, um marco do estaleiro na tentativa de submergir da crise que o afundou.
No plano de viabilidade da Recuperação Judicial, a projeção de receita com atividades de reparo começa em 2021 e está estimada em R$ 21,11 milhões por ano. Esse valor deverá aumentar até atingir o patamar de R$ 40,67 milhões anuais.
DIVERSIFICAÇÃO
Os novos negócios do Atlântico Sul também vão incluir o negócio de desativação de plataformas de petróleo. O chamado descomissionamento das plataformas envolve uma série de processos, desde a limpeza de equipamentos até a remoção de estruturas. Segundo cálculos da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o setor tem potencial para gerar R$ 26 bilhões em investimentos nos próximos cinco anos. A expectativa é que os primeiros projetos na área aconteçam em 2022.
Outra utilização do parque do EAS que está no radar é a fabricação de torres eólicas, aproveitando as grandes áreas disponíveis na planta naval, a forte produção no Nordeste e a possibilidade do transporte por cabotagem, uma vez que estará na beira do cais. Mais uma possibilidade é o arrendamento de áreas para projetos de infraestrutura, como um terminal portuário, por exemplo.
O sucesso desses negócios é que vai permitir ao EAS reestruturar sua dívida com os credores. A proposta de pagamento inicial da RJ prevê primeiro o pagamento dos credores trabalhistas num prazo de 12 meses e vai detalhando os demais com cronograma de pagamento que pode chegar a 35 anos.
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