MERCADO IMOBILIÁRIO

Recife tem crescimento de 144% na venda de imóveis, mas falta de insumos afeta lançamentos e pode aumentar preços

Mercado imobiliário conseguiu avançar nas vendas e redução de estoque, mantendo desequilibrada a relação entre oferta e demanda sem lançamentos de imóveis novos

Lucas Moraes
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Lucas Moraes
Publicado em 23/11/2020 às 20:17 | Atualizado em 23/11/2020 às 20:17
Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem
Pelo menos 30 construtoras participam do evento, com empreendimento custando de R$ 98 mil a R$ 3 milhões - FOTO: Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem

Em todo o País, o mercado imobiliário pôde comemorar os resultados ao fim do terceiro trimestre de 2020. Num ano em que a maioria dos setores econômicos tem contabilizado perdas, o segmento imobiliário cresceu em vendas 57,5% frente o segundo trimestre deste ano, dando um salto de 23,7% quando comparado ao mesmo período de 2019. Os números constam nos Indicadores Imobiliários da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), divulgados nesta segunda-feira (23), e apontam que só no Recife houve um crescimento de 144% nas vendas de imóveis. Mesmo com a demanda aumentando, o equilíbrio do mercado segue pressionado. Os estoques têm queda de 13%, enquanto os lançamentos reduziram 10% se comparados ao terceiro trimestre do ano passado no País. Com a falta de insumos, a produção foi encarecida e trouxe falta de previsibilidade para muitos empresários. Com menos imóveis à disposição no mercado, o preço dos apartamentos deve seguir uma trajetória gradual de alta pelo menos até o primeiro trimestre de 2021. 

De acordo com os indicadores da Cbic, no Nordeste estão os melhores resultados em relação à venda de imóveis nos últimos nove meses. A região chegou a 22.933 unidades vendidas - um crescimento de 27,1% frente as 18.040 unidades vendidas nos primeiros nove meses de 2019.

“Salve engano, chegamos ao terceiro trimestre com o segundo mais forte resultado desde que iniciamos a série histórica (2016). É um número muito semelhante ao que foi visto no quarto trimestre de 2019, quando se mostrava a saúde que vinha sendo vivenciada pelo mercado, e essa alta das vendas foi bastante sentida no Nordeste”, diz o vice-presidente da área de Indústria Imobiliária da Cbic, Celso Petrucci.

A alta nas vendas trouxe à região um crescimento de 93% (28.936 unidades no 3º trimestre) sobre as 14.973 unidades vendidas no 2º trimestre de 2020. Em relação ao ano passado, a alta, quando comparados os terceiros trimestres, é de 15,4%. Só no Recife, as vendas cresceram 144% em relação ao terceiro trimestre de 2019.

“A gente continua na mesma rota, aumento de vendas, redução de lançamentos e consequente redução das ofertas. Isso tem sido a marca de 2020. Como a gente vendeu, logicamente vai entregar, então a atividade do setor em 2021 vai se manter em função do que foi vendido. A preocupação principal hoje reside no desabastecimento de insumos, que traz problemas graves como aumento de preços e atrasos de entrega. Se isso não for resolvido para o ano que vem, é um temor que temos por conta do volume”, ressalva o presidente da Cbic, José Carlos Martins.

Sem insumos e lançamentos

Segundo avaliação da câmara, a falta dos insumos é um dos principais fatores a influenciar na disparidade entre vendas e lançamentos. O resultado disso pode ser prejudicial ao consumidor no médio e longo prazo, já que mesmo com condições facilitadas para financiamentos, o escoamento do estoque pode dar prosseguimento a uma alta do preço dos imóveis.

“Apesar dos lançamentos terem aumentado no terceiro trimestre, não foram suficientes para recuperar toda a perda do primeiro semestre. Ficamos com - 44% de lançamentos”, emenda Martins.
Do segundo para o terceiro trimestre, os lançamentos subiram 114% no País. O Nordeste acompanhou essa variação (91%). O problema é que entre o terceiro trimestre deste ano e 2019, a queda ainda é de 10%, chegando a 27,9% nos últimos nove meses no Brasil. A capital pernambucana acumula entre os terceiros trimestres de 2020 e 2019 -57,1% de unidades lançadas, favorecendo a redução de 12% do estoque no mesmo período.

Indicadores Imobiliários Terceiro Trimestre de 2020

Brasil

Estoque 2T 2020/ Estoque 3T 2020/ Variação
159.078/ 151.051/ -5,0%

Estoque 3T 2019 / Variação
173.601/ -13%

Unidades Vendidas 2T 2020 / Unidades vendidas 3T 2020/ Variação

34.490/ 54.307/ 57,5%

Unidades vendidas 3T 2019 / Variação
43.912/ 23,7%

Unidades lançadas 2T 2020 / Unidades lançadas 3T 2020/ Variação

20.029/ 42.885/ 114,1%

Unidades lançadas 3T 2019 / Variação
47.919 / - 10,5%

Nordeste

Estoque 2T 2020 / Estoque 3T 2020/ Variação
5.727/ 5.498/ -4,0%

Estoque 3T 2019 / Variação
6.127/ -10,3%

Unidades vendidas 2T 2020 / Unidades vendidas 3T 2020/ Variação

7.007/ 9.098/ 29,8%

Unidades vendidas 3T 2019 / Variação
6.080/ 49,6%

Unidades lançadas 2T 2020 / Unidades lançadas 3T 2020/ Variação
2.823/ 5.392/ 91,0%

Unidades lançadas 3T 2019 / Variação
6.950/ -22,4%

Recife

Unidades lançadas 3T 2019 / Unidade lançadas 3T 2020/ Variação
243/ 104/ -57,1%

Unidades vendidas 3T 2019/ Unidades vendidas 3T 2020/ Variação
342/ 834/144,1%

Estoque 3T 2019/ Estoque 3T 2020/ Variação
3.597/ 3.151/ -12,4%

Fonte: Cbic/Brain

 

“A queda na oferta já vínhamos percebendo, assim como o aumento de preço a partir de 2019. Sempre que a gente vê aumento de preço com queda de oferta, pensamos ser uma situação boa para quem está buscando imóvel, porque pode acentuar diminuindo oferta (estoque) ou aumentando o preço final. É uma oportunidade para aproveitar e não esperar uma redução maior da oferta e alta dos preços”, sugere Petrucci.

Para o presidente da Cbic, a expectativa é de até 2021 o fornecimento de insumos para a construção se normalizar e estimular os lançamentos, atendendo a demanda de consumidores. “O aço até fim do ano regulariza a entrega. PVC, que é outro insumo importante, garante que em janeiro volta ao patamar normal de preço em dólar, mas temos que ver como a coisa vai operar. É muito claro que o empreendedor quando vai lançar tem que analisar o mínimo de segurança para entrega. Não tenho dúvida que não recuperamos mais exatamente por esse motivo, esperando ver como ficaria o mercado de insumos”, avalia.

O Índice Nacional de Custo de Construção (INCC) subiu em torno de 6%, mesmo assim o preço do imóvel ainda está com ganho real de 3,5%. De acordo com o IVV do último mês de agosto, os imóveis do programa Minha Casa Minha Vida na Grande Recife tiveram preço entre R$ 2.241,91 a R$ 3.829,34 o m². Já os imóveis que utilizam os demais recursos tiveram seu valor médio do m² ofertado variando em torno de R$ 1.759,02 a R$10.859,18. A consultoria Brain, que levanta os dados imobiliários para a Cbic, registra no Nordeste ainda a maior intenção de compras de imóveis (54%).

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