Da pequena mercearia no povoado da Serra do Machado, interior de Sergipe, até ficar entre as cinco maiores empresas do setor de shopping do País, passaram-se 85 anos na trajetória do Grupo JCPM. Em meio à tantas turbulências econômicas que estão marcando o ano devido à pandemia, a holding encerra 2020 construindo novas torres empresariais, consolidando empreendimentos em mercados como Salvador e Fortaleza e sendo pioneira no Nordeste no lançamento do marketplace de shoppings.
Aliás, a palavra "pioneirismo" acompanha o desenvolvimento da holding ao longo de décadas. O negócio fundado por Pedro Paes Mendonça, em 1935, hoje soma 11 shopping centers, sendo muitos deles reconhecidos no mercado por inovações nas áreas ambientais, arquitetônicas, de projetos sociais e iniciativas tecnológicas adotadas pela primeira vez tanto na construção quanto no funcionamento.
Atuando em quatro Estados (Pernambuco, Sergipe, Bahia e Ceará), o Grupo ganhou projeção e marcou época inicialmente no setor de supermercado como criador da rede Bompreço, nome que ainda hoje é citado como referência em muitos dos projetos pioneiros desenvolvidos entre gôndolas de supermercado. A primeira loja foi inaugurada em Casa Amarela, em 1966. "O Bompreço sempre esteve à frente do seu tempo. Sempre foi protagonista do varejo de supermercado no Brasil. O presidente João Carlos viajava o mundo em busca de experiências", comenta Marcelo Silva, um dos ex-executivos da empresa.
Entre os exemplos estão um dos primeiros private label (cartão de crédito próprio) de supermercado no Brasil (1982); o primeiro leitor de código de barras no País (1984); primeiro clube de fidelidade, o Bomclube (1995). Também seguindo algo ainda raro no segmento, abriu capital na Bolsa de Valores em 1996. "Com o ressuprimento automático graças à tecnologia da informação, por exemplo, implantado em 1996, podíamos ter estoques menores, sem que faltasse mercadoria na prateleira", relembra um dos sócios e filho de seu Pedro que respondia pela área Comercial, Reginaldo Paes Mendonça.
O vanguardismo é também relacionado à área de Recursos Humanos. Ainda na década de 80, conjugava três importantes benefícios: participação nos lucros, participação acionária e plano de suplementação de aposentadoria. "É um grupo que valoriza os talentos da casa. Os executivos são sempre formados na empresa e dificilmente cedem a convites do mercado, preferindo permanecer e crescer. Tem como marca fazer as pessoas se sentirem reconhecidas e não recompensadas pelo trabalho. Isso faz a diferença", pontua o consultor Simon Franco. Outro sócio e filho de Seu Pedro, Eduardo Mendonça, destaca que a equipe sempre foi muito integrada e fundamental no desenvolvimento da empresa. "Havia um respeito muito grande das lideranças para com os colaboradores. O que era importante. As pessoas se sentiam parte do conjunto".
Um debate que ainda hoje permeia o mercado de trabalho é a ampliação de espaços para as mulheres em cargos de liderança. Mas isso não era tabu para a empresa já na década de 90. "Eu liderava 13 gerentes de departamento e a maioria era homem. O setor de supermercado é muitas vezes relacionado à força braçal, mas isso não é verdade. A relação de trabalho com as equipes é muito mais um relacionamento humano do que de força. Nunca tive dificuldade", relembra Zuleica Lira, primeira mulher no País a assumir a gerência geral de um hipermercado, em 1996. Ela, aliás, entra em outro exemplo do Grupo: atuou nos negócios com participação da empresa por mais de 30 anos.
TENDÊNCIA
A divisão de shopping ganhou força a partir de 2000. Novos empreendimentos passam a fazer parte da empresa e os shoppings começam a ser 100% projetados pela JCPM. Ou seja, além de participar com ações, passou a desenvolver centros comerciais com o seu DNA desde a concepção. Na Bahia, um dos marcos dessa nova fase foi o Salvador Shopping, empreendimento cuja arquitetura e projeto foram premiados internacionalmente. No Recife, o marco dessa nova fase foi o RioMar Recife. Ocupando o antigo terreno da Fábrica da Bacardi, o shopping foi concebido dentro das mais modernas tecnologias construtivas. Com 23 meses de obras, um recorde para a dimensão, 101 mil metros quadrados de área bruta locável (espaço para lojas) e cerca de 290 mil de área construída.
O empresário João Carlos Paes Mendonça visualizou há mais de 12 anos que os shoppings deixariam de ser locais apenas para compras para se tornarem espaços de convivência das famílias. Assim, os empreendimentos passaram a contar em seus projetos, tanto arquitetônicos quanto de comercialização, com amplos espaços de lazer, alguns com teatro, áreas de eventos, forte apelo em gastronomia, prestação de serviço, academia e associação a empresariais, formando complexos de circulação.
Hoje, a criação de tecnologias é outro braço que vem ganhando força. O próprio desenvolvimento e gestão da plataforma que gerencia todas as vendas online, fazendo a conexão entre o mundo físico e o digital, foi produzido por colaboradores do Grupo.
CLIENTE
Com histórico também no setor industrial, com a Palmeiron e a DaGema, entre outras, a relevância do cliente não só no consumo, mas na dinâmica operacional é outra característica. "A partir do momento em que você cria canais de comunicação com o cliente, isso precisa ser respeitado. Ele precisa sentir que foi ouvido. Dávamos muita importância aos pontos demonstrados por eles na época e seguimos até hoje em qualquer setor que atuamos. Penso que o atendimento era um grande diferencial no setor de supermercado. E isso vale para qualquer setor, seja industrial, varejo e, sobretudo, serviço", destaca o empresário Marcelo Tavares de Melo, que participou do desenvolvimento do Grupo tanto na indústria quanto no varejo.
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