FRUTICULTURA

Brasil bate recorde de exportação de manga; 87% saiu do Vale do São Francisco

Vale do São Francisco tem a maior área plantada de manga do País, com 49 mil hectares

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Marília Banholzer

Publicado em 15/04/2021 às 19:13 | Atualizado em 15/04/2021 às 19:15
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A reunião de fatores positivos fez a exportação de manga ser recorde no Brasil em 2020, em meio à pandemia do coronavírus, que gerou a maior crise econômica e sanitária já vista na história mundial. Foram 243,2 mil toneladas de manga vendidas para diversos países, o que gerou U$S 246,9 milhões em negócios. A boa notícia para Pernambuco é que 87% desse volume (212,2 mil ton) negociado saiu do Semiárido Nordestino, mais precisamente do Vale do São Francisco, que tem a maior área plantada de manga do País, com 49 mil hectares.

Os números são do Observatório do Mercado de Manga da Embrapa Semiárido (PE), a partir de dados do Comex Stat (MDIC), que ainda apontou que os valores e volumes das exportações no último ano cresceram mais de 10% em relação ao ano anterior. Os principais cliente foram Estados Unidos, que importou principalmente as mangas das variedades Tommy Atkins, e a Europa, que prefere os tipos Kent, Keitt e Palmer da fruta.

O levantamento mostra que até maio de 2020, o valor exportado se manteve na média histórica, mas foi entre os meses de junho e dezembro do ano passado que as vendas internacionais atingiram o recorde de valores já alcançados desde 2012, período analisado pelo Observatório.

EMBRAPA/DIVULGAÇÃO
INDÚSTRIA DE MANGA NO VALE DO SÃO FRANCISCO - EMBRAPA/DIVULGAÇÃO

De acordo com o pesquisador João Ricardo Lima, responsável pelas análises, o cenário positivo envolveu diversos fatores: taxa de câmbio (com o dólar em alta), a diminuição da produtividade da manga em países concorrentes, como a Espanha e alguns países africanos, além da expansão do mercado americano, que esteve bastante favorável para a Tommy Atkins do Brasil.

Empresário do setor, o engenheiro agrônomo Sílvio Medeiros é proprietário da Agrobras, em Petrolina, no Sertão de Pernambuco. A empresa conta com mil hectares de plantação, sendo 700 deles voltados para diversas variedades de manga, incluindo as de maior procura pelo mercado externo. Segundo ele, o principal fator para o sucesso da exportação em 2020 foi ter previsto a safra quando o dólar estava mais baixo e na hora da colheita a moeda americana ter sofrido alta. “Além do câmbio ter sido positivo, tem a questão do aumento do consumo nos Estados Unidos e na Europa. Agora que o europeu veio aprender a consumir manga. Antes elas chegavam nas gôndolas ainda verdosas, agora só são vendidas ao consumidor quando estão bem maduras. Isso fez eles aumentarem o consumo”, analisa.

A convergência de fatores positivos também fez com que a fazenda Agrodan, localizada no município de Belém do São Francisco, em Pernambuco, alcançasse um faturamento em torno de 30% maior que em 2019 com as exportações para o mercado europeu. "Mesmo com um volume maior de frutas, o preço que nós vendemos em euro foi praticamente igual. E com o euro valorizado em relação ao real, a lucratividade foi muito superior", destaca Paulo Dantas, diretor-presidente da empresa.

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PRODUÇÃO DE MANGA NO VALE DO SÃO FRANCISCO - DIVULGAÇÃO

De acordo com Dantas, o volume exportado pela empresa em 2020 teve um acréscimo em torno de 15%, o que coincide com o aumento da produção da fazenda. Ele avalia que, se tivesse mais fruta, poderia ter chegado a 20% ou 30%. "Para a Agrodan está faltando manga. Nossa limitação é o crescimento da produção, que não está acompanhando o crescimento do mercado", ressalta.

O dólar alto, porém, trouxe aumento de custo na produção para quem atua no setor da fruticultura. Do adubo a embalagem, diversos insumos são dolarizados e tiveram aumento de preço. Por causa disso, o empresário prefere não arriscar como serão os resultados da exportação de frutas em 2021. Silvio Medeiros, da Agrobras, prefere acreditar que o consumidor internacional seguirá interessado nas frutas e apostar menos na ajuda do câmbio. “Está crescendo muito o que eles chamam de fresh catch, que é quando a fruta é vendida nos supermercados já descascadas, cortadas, facilitando o consumo. Esse mercado já representa 20% da manga que é comercializada nos EUA e na Inglaterra”, comenta.

O pesquisador João Ricardo Lima é mais otimista para o mercado de frutas em 2021 e acredita que o câmbio seguirá sendo um fator decisivo. “Para este ano, o esperado é que a taxa de câmbio se mantenha favorável para as exportações e que o Brasil produza frutas com maior qualidade do que as de 2020, mantendo o crescimento no mercado externo e com melhores preços”, prevê Lima.

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PRODUÇÃO DE MANGA NO VALE DO SÃO FRANCISCO - DIVULGAÇÃO

Mercado interno da manga está estabilizado

Apesar de a fruticultura tropical ter sido um dos setores menos afetados pela pandemia da covid-19 no Brasil, no caso da manga, os valores históricos nas exportações não se refletiram no mercado interno, o principal cliente da fruta. Para se ter uma ideia, apenas cerca de 15% da manga que é produzida no Vale do São Francisco é exportada.

A maior parte é vendida para a Região Sudeste, mais especificamente para a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). Assim, a análise se concentra nas informações obtidas com os atacadistas dessa Central de Abastecimento. Em 2020, a Ceagesp comercializou 86 mil toneladas de manga e em 2019 o número foi de 88 mil t. Isso indica uma redução de 1,62%, mas que não reflete, necessariamente, um cenário negativo, explica o pesquisador João Ricardo Lima.

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EM ALTA Agropecuária apresentou uma alta de 19,8%, sendo o setor que mais cresceu no ano passado em Pernambuco - DIVULGAÇÃO

"Esse movimento já vem acontecendo desde anos anteriores. Em 2017, foram 95 mil toneladas e em 2018, 93 mil t. Ou seja, o volume destinado à Ceagesp já vem sendo reduzido, pois os produtores estão aumentando a venda de manga para outros lugares como o Rio de Janeiro e Minas Gerais”, explica.

O pesquisador esclarece ainda que houve um primeiro momento de crescimento da demanda interna da manga, logo no início da quarentena: “As famílias se abasteceram de alimentos, pois não sabiam quanto tempo iriam demorar a voltar aos supermercados”, explica. Depois, no entanto, a demanda apresentou redução. "As pessoas passaram a ir menos aos supermercados, comprando em maiores quantidades. Contudo, nas médias mensais analisadas, as vendas não diferem muito de períodos anteriores à quarentena”, completa Lima.

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