Impactos da pandemia

Falta de caixas prejudica pequenos e médios exportadores de manga do Vale do São Francisco

Pequenos e médios produtores estão enfrentando dificuldades de adquirir o insumo e perdendo as boas oportunidades que o mercado internacional oferece no momento

Adriana Guarda
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Publicado em 29/12/2020 às 18:50
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EM ALTA Agropecuária apresentou uma alta de 19,8%, sendo o setor que mais cresceu no ano passado em Pernambuco - FOTO: DIVULGAÇÃO
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Safra boa, câmbio atrativo, demanda nos mercados consumidores e entressafra dos concorrentes sul-americanos. Esse cenário seria ideal para os pequenos e médios exportadores de manga do Vale do São Francisco, não fosse a falta de itens essenciais ao embarque das frutas: caixas e cantoneiras de papelão. Elas começaram a sumir do mercado em setembro, a situação se agravou nos meses seguintes e a regularização é prevista para o segundo trimestre de 2021. As principais indústrias fornecedoras das empresas do Vale são Klabin, Rigesa, Penha e Embala Vale. 

O empresário Euzébio Neves, da Openfruit Importadora e Exportadora Ltda., lembra que o Vale já viveu períodos de falta de embalagens, mas de forma pontual e por falta de programação das empresas. "Da maneira como está agora não enfrentamos nada parecido. Nos pedidos feitos hoje, o prazo de entrega dos fornecedores é para março do próximo ano. Sem falar que os grandes exportadores, que compram volumes altos, estão conseguindo se abastecer e está faltando para os pequenos e médios", observa, dizendo que os produtores menores são responsáveis por quase 50% da comercialização de mangas do Vale. 

Sem caixa de papelão não é possível exportar a manga. Outra alternativa é usar a caixa de isopor, que é um pouco mais cara, mas também começou a faltar por conta do aumento da demanda. Para se ter uma ideia, a Openfruit, em Petrolina (Sertão), demanda uma média der 40 mil a 50 mil caixas de papelão por semana para exportar suas mangas. Cada embalagem comporta entre seis e doze frutas.

"A vida útil da manga é de 30 a 35 dias entre a colheita e o comércio. Ela precisa ser exportada entre 24 e 36 horas depois de colhida, porque é preciso recepcionar, embalar e refrigerar. A fruta também não pode ficar mais tempo no pé depois de madura, porque além do prejuízo econômico também gera o prejuízo biológico de atrair a mosca da fruta, que busca o fruto maduro", explica Neves. 

O empresário afirma que a pandemia deixou a lição de não ficar na dependência das caixas para exportar, mas, ao mesmo tempo, ele pondera que é difícil para o pequeno e médio exportador manter estoque porque poderia comprometer a maior parte do capital de giro das empresas.

"Deixar de exportar 50 mil toneladas de manga é um prejuízo grande para os produtores, num momento em que a caixa da fruta está com preço bom, variando entre 5 e 7 euros, a cotação do dólar e do euro estão favoráveis e concorrentes como Peru e Equador estão no período de entressafra", pontua Neves. A Openfruit exporta 70% de sua produção para Canadá, Inglaterra, Espanha, Suíça, Polônia, Holanda e Dubai. 

Com unidade em Juazeiro (BA), a InBetel Agronegócios exporta cerca de 60% da sua produção de manga para a Espanha e vem enfrentando a mesma dificuldade. "As empresas estão pedindo uma antecipação grande do pagamento e ainda assim está difícil conseguir as embalagens, que só têm para os grandes. Outra alternativa é usar a caixa de isopor, mas o custo é mais alto. Parte dessa produção ficará no mercado interno, mas isso vai trazer prejuízo, porque a manga feita para exportar tem um custo de produção maior", explica o empresário Leonardo Freitas, da InBetel.   

O consultor técnico da AgroNogueira, Pedro Ximenes, conta que o sumiço das caixas começou a ser comentado nos grupos de WhatsApp do Vale. "Tivemos situação de empresas com 100 contêiner para exportar (seriam 5.544 caixas por contêiner), mas só teve embalagem para a metade. Ficou difícil para as empresas porque elas têm cliente internacional, capital, manejo e dólar favorável, mas não conseguem exportar. Algumas optaram pelas caixas de isopor, como a Ouro do Vale", exemplifica. 

EMBALAGENS

A reportagem do JC procurou as empresas de embalagem, mas foi informada que a Empapel – Associação Brasileira de Embalagens em Papel está se posicionando em nome delas. De acordo com a entidade, a escassez de embalagens foi motivada pelo descompasso entre a retomada de produção, após o momento mais crítico do isolamento social e a retomada da economia numa velocidade além da esperada. Além disso, a diminuição do trabalho dos catadores e da reciclagem também comprometeram a retomada. 

"O primeiro trimestre de 2020 acumulou crescimento de 7,5% em relação ao mesmo período de 2019. No entanto, o segundo trimestre deste ano registrou recuo de 3,2% nas vendas, com acentuada queda em maio de 12,5%. A retomada do crescimento iniciou em meados de junho com retorno rápido da indústria de bens semiduráveis e duráveis e todos os setores passam a demandar mais embalagens de papelão ondulado", diz o comunicado.

A Empapel diz que, desde julho, o setor vem registrando recordes mensais. Apesar do empenho da atividade, a retomada não será rápida. A expectativa é de que aconteça em médio prazo. "Em relação ao mercado de embalagens de papelão ondulado, a previsão de regularização nas entregas é de médio prazo, a depender de como seguirá a economia, principalmente em função do término do auxílio emergencial. Os prazos de entrega que costumavam ser de 7 a 30 dias, por conta do alto volume de vendas, estenderam para mais de 30 dias. A expectativa de normalização do setor é no segundo trimestre de 2021", revela.

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