Saiba como manter a produtividade em alta no mercado de trabalho em tempos de pandemia
Especialistas ouvidos pelo JC apontam caminhos para melhorar o desempenho corporativo
Com as cargas horárias reduzidas e a mudança repentina da rotina presencial para o home office por causa da pandemia de covid-19, colaboradores tiveram que se adequar às novas realidades e formatos, e, ainda, manter a produtividade do trabalho. Essa adaptação, porém, pode ser um pouco mais demorada para alguns profissionais. Tanto é que, mesmo após passarmos mais de um ano em home office, muita gente ainda não se adequou a esse sistema de trabalho e isso tem atrapalhado a qualidade de produção.
Uma dessas pessoas é o auxiliar administrativo Juliano Ferreira, de 32 anos. "Sei que já há um tempo que estamos nesta situação, mas eu ainda estou me adaptando e, muitas vezes, me sinto um tanto quanto perdida", admite. "Além do trabalho, preciso administrar outras atividades neste período. É muita coisa para gerenciar, pois ainda tenho que auxiliar meus filhos com as demandas escolares, já que minha esposa trabalha em hospital e nem sempre está em casa", diz ele, contando que muitas vezes não consegue entregar o que é solicitado no prazo adequado.
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Segundo o consultor e professor da Unit-PE Werson Kaval, especialista em qualidade e produtividade, esse tema tem sido frequentemente discutido nas empresas, no entanto, as companhias precisam pensar em estratégias para que o funcionário se adeque melhor ao trabalho remoto e mantenha a produtividade. Considerando que a necessidade do home office está relacionada com o avanço da pandemia, o isolamento, que já dura mais tempo do que o esperado, pode se estender ainda mais.
“Nosso modelo de trabalho ainda é o industrial, com cargos operacionais pautados na quantidade de tempo que o indivíduo trabalha, e não na qualidade. Mas, de uns anos para cá, essa lógica do tempo tem sido estudada e, por meio de pesquisas, percebemos que isso é um contrassenso”, diz o especialista. “Ser produtivo é entregar aquilo que você se propôs a fazer dando prioridade a ela. É alcançar um estado de concentração e realizar a atividade com sucesso em menos tempo”, explica ele.
Avaliação parecida faz Guiga Mendonça, mentor de alta performance e sócio fundador da Líder De Alto Valor. Para ele, as empresas têm muito a ganhar ao promoverem ações que facilitem a adaptação do colaborador ao trabalho remoto. “O maior desafio é que muitas empresas nunca treinaram seus funcionários para home office. Isso não é o futuro, é o presente. Penso que as empresas que conseguirem se adequar melhor nesse momento e agir rápido em conjunto com os seus funcionários, sairão mais fortalecidas”, afirma Guiga.
As vantagens, porém, não se restringem às companhias. Segundo a psicóloga Carolina Holanda, especialista em liderança e sócia da TGI Consultoria em Gestão, as soft skills têm um grande peso nesse momento. “É uma oportunidade para o profissional mostrar adaptabilidade. No geral, as empresas veem com bons olhos o funcionário que se mostra proativo em momento de dificuldade”, completa.
Para que ambos os lados saiam ganhando nesse processo, é preciso ter algumas coisas em mente. Carolina explica que um funcionário que não está acostumado com o trabalho remoto pode ter dificuldade de montar uma rotina. Para isso, ela orienta manter os horários e o padrão de comportamento. “Se troque, não trabalhe de pijama. Se programe como se fosse trabalhar, mesmo se for do quarto para a sala. Defina seu local de trabalho. A disciplina faz toda diferença. Pode até ser tentador ficar de pijama o dia inteiro, mas lembre-se: você está trabalhando. O ato de se trocar mostra para o seu cérebro que você não está em um momento de lazer e que precisa estar ativo”, alerta.
Apesar de não estar em momento de lazer, o Guiga Mendonça ressalta que trabalhar horas a fio sem descanso pode atrapalhar a produtividade. Segundo ele, empresas e colaboradores precisam desmistificar que momentos de relaxamento ajudam no processo produtivo. “Não devemos exigir de nós mesmos que temos de ser produtivos o tempo inteiro. O tempo livre não é sinônimo de não ter o que fazer. Ter tempo livre é um momento de qualidade para ser criativo e para descansar. Ser produtivo o tempo inteiro é um mito – afirma ele.
MOTIVAÇÃO
Outro fator que tem influência na produtividade, de forma presencial ou remota, é a motivação. Kaval explica que um funcionário engajado e reconhecido tem uma performance maior. “A motivação positiva faz com que ele queira fazer aquilo, de maneira, que, às vezes, não consegue dormir sem fazer a tarefa. Mas a falta de motivação bloqueia ideias boas e a vontade de fazer as coisas novas. Bem-estar, engajamento e motivação são muito importantes. Não adianta a empresa ter um monte de práticas diferentes, se a cultura for nociva e competitiva.”
A falta de reconhecimento e de apoio, assim como altos níveis de estresse, podem gerar transtornos como o Burnout. “Sentimentos negativos, quando o profissional não vê benefícios da sua produção e não tem resultados mesmo com esforço, podem levar ao desenvolvimento de Burnout. Professores, por exemplo, são um público vulnerável, pois gastam muito e, às vezes, não conseguem ver o retorno e, consequentemente, não têm uma performance boa nem produtividade”, pontua Werson Kaval.
Por isso, diz Carolina Holanda, é fundamental manter uma comunicação ativa entre todos, sejam líderes ou colaboradores. Segundo ela, os líderes de cada área são os que precisam ter maior comprometimento, compartilhando sempre as informações e novidades, além de cronogramas e estar disposto a tirar as dúvidas da equipe.
Do lado dos funcionários, ela lembra que “é crucial comunicar claramente o que está fazendo e quais os prazos de entrega para as atividades executadas. Como não estão em um escritório compartilhado, mesmo as pequenas coisas que seriam verbalmente expressas em um dia normal devem ser comunicadas de forma clara e precisa para evitar confusões”.