Mayara deu sinais da sua personalidade impetuosa logo quando nasceu. A mãe, Dona Iara, estava internada no Hospital Tricentenário, em Olinda, quando a menina se apressou em vir ao mundo. Não deu tempo sequer de chegar à sala de parto. Ela nasceu às 4h50, em uma enfermaria, pelas mãos da parteira e enfermeira Luiza, uma conhecida da família que estava de plantão naquele dia no hospital. Era 15 de novembro de 1988, dia das primeiras Eleições Municipais após o processo de redemocratização no Brasil. Mayara foi uma recém-nascida mionzinha, com seus 44 cm e 3.050 quilos. A característica, aliás, permaneceria na vida adulta, na sua estatura de pouco mais de um metro e meio (1,51 metro).
Prestes a completar 33 anos no próximo mês, a 'pequena' Mayara Felix reúne feitos gigantes. Foi a única brasileira e uma das seis mulheres (em uma turma de 22 alunos) a concluir, em 2021, o doutorado em Economia da Universidade de Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Boston (EUA), que ocupa o topo do ranking mundial dos PhDs na área. Agora, a ex-moradora de Jardim Fragoso - bairro pobre de Olinda conhecido pelos constantes alagamentos -, foi admitida como pesquisadora no Pós-Doutorado em Harvard.
Filha de um soldado da Polícia Militar (PM) e de uma professora de matemática e bibliotecária, Mayara rejeita a narrativa de que suas conquistas sejam resultado apenas de mérito pessoal. Modéstia? Não. A negação reflete a maturidade de quem extrapolou a fase da vaidade e conseguiu olhar para a própria história com distanciamento. A economista também faz questão de desromantizar o relato da menina pobre, que saiu da periferia de Olinda para a cosmopolita Boston, graças tão somente a "seus esforços".
- Geralmente essas histórias de ascensão são contadas apenas pelo viés da meritocracia. Você batalha, batalha, batalha e chega lá. Mas não é bem assim. Eu batalhei e estudei muito, mas tive muitos privilégios e muita sorte.
Os privilégios aos quais a jovem doutora em economia se refere não são ter nascido em família rica, estudado nas escolas mais caras de Pernambuco ou morado nos melhores bairros do Recife. Para quem olha a partir da geografia da periferia, a percepção sobre privilégio é outra.
- Considero como privilégios o fato de que nunca precisei trabalhar e dediquei meu tempo só para estudar. A gente era pobre, mas nunca faltou comida na nossa mesa. Meu pai era soldado da PM e, mesmo depois que ele faleceu (em 1998, em um trágico acidente de moto, deixando Mayara com 10 anos, a irmã Maíra com 8 e a mãe Iara com 28 anos) tínhamos uma pensão. A nossa casa era própria, apesar de ser em um bairro pobre. Essa não é a realidade de muitas crianças no País. O outro privilégio foi que eu nasci de pele branca. O racismo estrutural é um fato no Brasil. Além disso, tive uma família que me apoiou em tudo o que eu quis fazer.
"QUER CONHECER MAIS HISTÓRIAS DE SUCESSO DA PERIFERIA? ENTÃO PARTICIPE DELAS"
Mayara defende que o processo de ascensão das crianças periféricas seja uma construção coletiva, incluindo governo, família, escola e sociedade civil. Ela cita o exemplo de pessoas que mesmo se esforçando não conseguiram avançar na carreira e na vida.
- Preciso dizer a essas pessoas: 'não é culpa sua'. A sociedade precisa entender que a ascensão é um processo comunitário. No meu caso, eu contei com a sorte e com a ajuda da família, de professores, de amigos e de vários profissionais. Também contei com a concessão de bolsas de estudo e até de carona. O motorista da condução, por exemplo, aceitou mudar a rota e entrar em Jardim Fragoso para me levar à escola. Quando me atrasava, Seu Antônio batia na porta para me acordar e ficava esperando eu me arrumar. Como morava longe, era a primeira a ser pega, às 5h20, por isso precisava acordar às 4h30.
A doutora em economia aponta o exemplo da própria família para reforçar que a ascensão na periferia precisa ser comunitária. Apesar da baixa escolaridade dos avós paternos e maternos, os filhos deles já tiveram uma situação um pouco melhor, enquanto os netos alcançaram outro patamar.
- Na minha família tem várias histórias de sucesso. Eu sei que a minha é fora da curva porque vim morar nos Estados Unidos, mas eu tenho um primo que é médico, outro é contador, uma prima é oficial de Justiça, minha irmã é analista judiciária, um outro primo tem o próprio negócio, uma prima está cursando odontologia. Isso porque nós éramos pobres, mas tínhamos um núcleo familiar de apoio muito grande.
Mayara faz, ainda, uma conexão entre a saúde mental de quem vem da periferia e a importância de mudar a narrativa da meritocracia.
- A narrativa da meritocracia é individualista, mas se tudo só depende de você, reforça essa carga psicológica que colocamos em nós. Quando, na verdade, toda a história de ascensão não é feita no vácuo, tem que ter o suporte pelo menos da sua mãe ou do seu pai ou de alguém da família que lhe resta. Todos nós temos uma importância grande de construir quem ascende.
A economista defende que a chave para o sucesso é o engajamento da sociedade para impulsionar as minorias.
- O convite que eu faço às pessoas do Brasil é se você quer ver mais histórias de sucesso, participe em uma delas. Se você é pai e mãe se envolva mais na vida escolar. Dê oportunidades a pessoas da periferia, a pessoas pretas, a pessoas indígenas. Você vai fazer uma diferença enorme na vida delas. Se é governo, invista na educação pública, nas cotas. Só assim será possível interromper a perpetuação da desigualdade no País.
A SORTE SEMPRE DENTRO NA MOCHILA
Desde pequena, Mayara era diferente das outras crianças. No primeiro dia de aula no jardim da infância, enquanto muitas meninas se agarravam à barra da saia das mães chorando para que elas não fossem embora, Mayara olhou para Dona Iara e sugeriu: "pode ir mãe". Não bastasse isso, ficou ajudando as professoras a acalmar as outras garotas. Na época com apenas 4 anos, teve seu primeiro grande estalo de sorte, conseguindo uma vaga no Colégio da Polícia Militar de Pernambuco, no Recife. Filhos de PMs podiam disputar uma vaga no colégio, por meio de sorteio, e o nome dela foi um dos que saiu da urna.
Durante nossas conversas para escrever este perfil, Mayara usa a palavra sorte inúmeras vezes. No caso dela, a sorte não tem um caráter aleatório e esporádico. Mayara recorda que um professor de geografia, com quem estudou, costumava dizer que "a sorte é quando a preparação encontra a oportunidade". Foi assim na sua trajetória. Quando concluiu a 4ª série do ensino fundamental e precisava mudar e escola, a sorte lhe acenou mais uma vez. Foi o ano em que o Colégio Militar do Recife (CMR), mantido pelo Exército, fechou um convênio com o Colégio da PM para oferecer vaga aos melhores alunos da 4ª e da 8ª série. Naquele ano, Mayara tinha sido a primeira da turma e conquistou a vaga.
Interessada por inglês desde criança, aprendeu um pouco com os tios maternos que também se interessavam, além de ouvir muita música e assistir a clipes e séries, especialmente Friends naquela época. A formação foi consolidada estudando com bolsa em cursinhos de inglês de bairros de amigos de seus tios e depois com uma bolsa de estudos na ABA. Ela ensina que as pessoas da periferia que querem crescer precisam ter cara de pau e não podem ter vergonha de pedir bolsas.
O professor de história Serafim Gomes é outra pessoa que Mayara reconhece na sua ascensão comunitária de menina da periferia que ganhou o mundo.
- Serafim me deu bolsa para estudar história no cursinho preparatório dele no Game (na Ilha do leite). Ele também dava carona pra mim e minha mãe de volta para Olinda, porque minha mãe e a esposa dele (Dany Marina) trabalhavam na ABA. Nessa época eu saía da escola, ia para o curso de Serafim e depois para a ABA. Aí voltávamos com eles, que moravam no Janga.
Aos 16 anos, quando cursava o ensino médio, Mayara teve a chance de fazer seu primeiro pouso nos Estados Unidos, que mudaria a rota da sua carreira profissional. Disputou com 1.200 candidatos de todo o País uma das 20 vagas para representar o Brasil no Programa Jovens Embaixadores, da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil para estudantes de escolas públicas. Passou duas semanas conhecendo o país e entendendo mais sobre si mesma e a desigual realidade brasileira. Voltou interessada em ser diplomata, mas depois de assistir uma palestra sobre a atividade se desencantou.
Quando concluiu o ensino médio, Mayara optou por uma carreira que fosse interessante e garantisse segurança financeira. Acabou escolhendo Direito, mas os Estados Unidos apareceram mais uma vez no seu caminho. Desde a participação no Jovens Embaixadores, a Embaixada ficava enviando as oportunidades de estudo no país aos ex-alunos. Foi assim que ela ficou sabendo do programa Oportunidades Acadêmicas, uma iniciativa desenvolvida há 15 anos pelo EducationUSA, o network do Departamento de Estado Norte-Americano e da Missão Diplomática dos Estados Unidos no Brasil.
O diferencial do programa é custear todas as despesas da candidatura de alunos da Graduação ou Mestrado e Doutorado, com desempenho acadêmico acima da média, mas com recursos financeiros limitados para cobrir os custos na tentativa de ingressar em universidades norte-americanas. Passou mais dois meses nos EUA, conheceu a coordenadora do EducationUSA no Cone Sul, Rita Moriconi, e foi instigada por ela a pleitear a graduação em universidades que oferecem bolsa.
Resumindo a história: Mayara trancou direito no Brasil, foi selecionada para três universidades americanas e optou pela Mount Holyoke College, que forma apenas mulheres. À medida em que foi cursando as disciplinas, caiu de amores por economia e acabou se formando em Matemática e Economia. Depois passou 3 anos trabalhando como consultora econômica em uma empresa, antes de retomar a vida acadêmica.
PASSAPORTE PARA O MIT PELAS MÃOS DE PRÊMIOS NOBEL
Após alguns anos afastada da universidade, para tentar o doutorado, Mayara precisava voltar para a pesquisa acadêmica. E estava lá, mais uma vez, a sorte estendendo a mão para ela. As oportunidades disponíveis na época para atuar como assistente de pesquisa era com ninguém menos que os vencedores do Prêmio Nobel de Economia de 2021, Joshua Angrist, e dos Nobel de 2019, Esther Duflo, Abhijit Banerjee e Michael Kremer. Tê-los como professores foi uma 'senha de luxo' para a entrada no doutorado.
Junto com David Card e Guido W. Imbens, o pesquisador Joshua D. Angrist foi premiado pelo uso de situações da vida real para calcular seus impactos no mundo. A ideia foi entender as relações de causa e efeito em áreas como mercado de trabalho e educação. A abordagem da 'vida real' foi considerada revolucionária no campo da pesquisa pelo mundo.
Já o trio Esther, Abhijit e Michael, venceram o Nobel de Economia por seus trabalhos no combate à pobreza, analisando ações mais eficazes para melhorar a saúde infantil e o desempenho escolar. A pesquisadora Esther Duflo foi a segunda mulher a vencer um Nobel de Economia em mais de 50 anos da premiação e a pessoa mais jovem a ganhar o título.
A participação de Mayara nos artigos escritos pelos pesquisadores durante o período que ela foi assistente deles está registrada em créditos e agradecimentos em todos os textos. Com as cartas de recomendação dos economistas e sua habilidade nos estudos, ela foi aprovada no MIT, além de Harvard e Berkeley, mas se decidiu pelo MIT. Pelo menos 800 candidatos disputaram as vagas oferecidas anualmente pela universidade - conhecida por seu prédio imponente de entrada no campus, com colunas gregas e cúpula. Por ano, o MIT admite 40 alunos, mas são apenas entre 20 e 22 vagas reais. Eles cerca de 20 que se matriculam são basicamente os que se formam.
Desse total, seis foram mulheres. Mayara Felix foi a única brasileira, junto com duas americanas, duas francesas e uma chinesa a concluir o doutorado. Ela afirma que o universo da matemática e da economia ainda são extremamente machistas e sexistas, mas que está melhorando aos poucos, com a presença cada vez maior de mulheres nos cursos.
MEMÓRIA AFETIVA, GASTRÔ E 'MOÇO BONITO' LENDO NA PRAÇA
A sensibilidade demonstrada por Mayara na vida também se expressa nas artes. Sem pretensões profissionais, ela gosta de pintar quadros retratando momentos da sua infância. É uma tentativa de eternizar em imagens, o que a falta de câmeras fotográficas na época em que era criança não registou: uma infância repleta de amor.
- Naquela época as câmeras fotográficas não eram comuns e não tínhamos máquina própria. As fotos eram feitas geralmente por outras pessoas e em momentos de festa. Então resolvi pintar minhas memórias afetivas, como a barraquinha da minha avó, no 7° RO, em Olinda (que vendia charque, arroz, feijão, doces, bombons) e outros momentos. Tive uma infância muito feliz", conta.
A produção artística de Mayara tem quadros da fachada da casa onde ela morou na Rua das Borboletas, 233 em Jardim Fragoso; tem um dia que faltou energia e Dona Iara fez uma pizza para a família no fogão a luz de velas e tem também um quadro com sua avó paterna, Dona Maria Teresa, que completou 95 anos na segunda-feira (18).
Mayara também revela outros talentos. Quem imagina que a doutora em economia não pisa na cozinha nem pilota fogão, engana-se. Em casa, no comando das panelas, ela sabe fazer um pouco de tudo. Além de pratos da comida brasileira, como galinha guisada, cuscuz, sopa, bobó de camarão e outros, também é craque nos pães e nos doces. Ela conta que o marido, o também economista Seth Blumberg, 35 anos, adora a gastronomia brasileira e que fala português, fluentemente, com sotaque recifense. Na casa do casal, em Cambridge (na Região Metropolitana de Boston), é dele a tarefa de lavar os pratos e cuidar da roupa, enquanto ela cozinha.
A história dos dois, aliás, começou por iniciativa dela. Um dia estava passeando pela cidade quando viu o "moço bonito" lendo sozinho na faculdade. Chamou a atenção dela a cena daquele homem entretido na leitura daquele um livro caudaloso, de muitas páginas. O título era "The Prize - The Epic Quest for Oil, Money & Power, by Daniel Yergin" (O Petróleo - Uma história mundial de conquistas, poder e dinheiro) de 908 páginas. Imaginou que era um homem inteligente e foi lá puxar conversa. Assim começaram uma amizade e uma história de amor, que acabou em casamento e cumplicidade na vida pessoal e profissional. E lá se vão 12 anos juntos.
"FOI O DIA MAIS TRISTE DAS NOSSAS VIDAS"
Maviael da Silva não voltou do trabalho na noite daquela quinta-feira, 15 de outubro de 1998. As filhas, que aguardavam o pai trazer papel pautado para terminar uma tarefa da escola, desistiram da espera e adormeceram. Por volta das 22h chegou a notícia, trazida por um grupo de oficiais da PM: o soldado Maviael tinha sofrido um acidente. A moto que ele pilotava tinha sido atingida por um ônibus na BR-232 e o PM estava gravemente ferido no Hospital da Restauração, no Recife.
- Quando a notícia chegou à minha casa eu ainda não sabia direito o que, de fato, tinha acontecido. No hospital, uma psicóloga conversou comigo. Disse que meu marido não resistiu aos ferimentos e faleceu de traumatismo craniano. Eu fiquei sem acreditar, ele tinha apenas 31 anos, minha ficha não caía. Os irmãos dele chegaram e fomos reconhecer o corpo no necrotério. Foi o dia mais triste das nossas vidas. Eu fiquei sem coragem de voltar para casa e também foi muito difícil contar às meninas", recorda Iara Felix, esposa de Maviael.
O soldado era instrutor de moto na PM e costumava ser cuidadoso no trânsito. Fazia tempo que queria trocar de moto e tinha acabado de ser sorteado no consórcio de uma Honda CG azul metálico. Ele recebeu a motocicleta em setembro e o acidente aconteceu em outubro. Pilotava a mota quando viu um colega sargento na parada de ônibus. Foi deixar o oficial em casa, no bairro do Curado, quando o ônibus projetou os dois da moto. O sargento desmaiou e teve ferimentos leves. A família de Maviael teve notícia de que o oficial faleceu no ano passado, vítima da covid-19.
- Por conta da gravidade dos ferimentos, o caixão teve que ficar fechado. Só abrimos, rapidamente, para colocar um desenho que as meninas fizeram para o pai. Era um anjinho e o texto 'painho, vou continuar fazendo o que o senhor sempre quis: estudando'. E assim foi. Onde estiver, o pai delas deve estar muito feliz e orgulhoso", acredita Iara.
Além de incentivar o gosto pelos estudos, Maviael ensinou xadrez às filhas e costumava contar histórias. Ficcionava fatos da própria vida, criava enredos usando as meninas como personagens e contava histórias da literatura infantil. "Em troca", pedia a elas que coçassem seu pé com uma caneta para ele dormir. Valia até desenhar, que ele nem se importava em ficar com a sola do pé toda manchada de tinta azul.
No dia que antecedeu o acidente, Mava (como era carinhosamente chamado pela família) estava de folga. Passou a tarde no sofá assistindo o clipe da música I’ll be missing you (Sentirei sua falta), do rapper americano Puff Daddy, e cantarolando em inglês macarrônico. À noite saiu de moto com uma das filhas para comprar remédio para a sogra e passou na casa dos pais.
- Ele era muito atencioso comigo e com as filhas. Sempre que voltava do trabalho trazia alguma surpresa. As meninas já perguntavam: 'painho trouxe o quê?'. Depois do acidente, quando nos entregaram a bolsa dele, encontramos um bolo de mandioca que ele tinha comprado e pipoca para Mayara e Maíra. Nós comemos o bolo com café, lembrando dele.
O trauma da morte precoce de Maviael, em pleno Dia dos Professores, fez Iara abandonar a profissão. Passou a cuidar exclusivamente das crianças com a pensão que o marido deixou. Viúva aos 28 anos, ela não voltou a se casar. Depois, por sugestão de sua irmã mais velha que é bibliotecária, fez graduação na área e assumiu a nova profissão. Sem o companheiro, com quem começou a namorar quando tinha 14 anos na época do colégio, desempenhou os papeis e mãe e pai de Mayara e Maíra, inclusive nas festas do Dia dos Pais na escola.
ÓRFÃ DE PAI, MAS COM UMA SUPERMÃE
Dona Iara é aquela mãe-fã zelosa, que acompanha os passos das filhas, apoia, participa, torce, briga para que as coisas deem certo, dá colo, amor, bronca. Fã de Gil do Vigor (economista e BBB mais vigoroso da história do programa), Mayara brinca que assim como não existiria Gil sem Dona Jacira (a mãe dele), também não existiria Mayara sem Dona Iara. A mãe recorda o desafio que foi cuidar das meninas.
- Na época em que elas estudavam no colégio da polícia, ia pegar elas no Derby e pegávamos o ônibus para a integração da PE-15, em Olinda. Quando chegávamos ao terminal já era noite e elas toda vez pediam pra descansar num banco de cimento que tinha lá. Ficavam pensando na ladeira que ainda tínhamos que subir (em Jardim Fragoso). Aí eu sentava e elas ficavam deitadas nas minhas pernas, cada uma deitada com a cabeça para um lado. Eu esperava elas dormirem uns 15 a 20 minutos e as pessoas que passavam ficavam olhando.
HORA DE CONCORRER AO MERCADO DE TRABALHO
Concluído o doutorado no MIT, Mayara está agora no chamado 'Ano do mercado de trabalho'. É o momento de buscar oportunidades profissionais tanto na academia quanto no setor privado. Mayara explica que é recomendação do MIT, que os alunos tentem aplicar para pelo menos 100 empregos.
- Eu estou aplicando para algo entre 120 e 140 empregos na área geográfica de quatro países que me interessam: Estados Unidos, Canadá, Brasil e Inglaterra. Eu adoraria encontrar alguma coisa no Brasil, mas não dá para voltar ao País sem ter um plano financeiro estruturado para a família. Ser professor no Brasil é difícil, sem falar na violência. Fico imaginando se meu marido não seria visado por ser estrangeiro. São várias preocupações.
Em economia, a pesquisa de Mayara é voltada para políticas públicas. Ela tem dois artigos escritos sobre o Brasil. Um sozinha sobre a liberalização econômica (nos anos 1990) e o efeito no mercado de trabalho brasileiro. E outro com o colega de turma Michael Wong sobre o efeito da legalização da terceirização em 1993 e o efeito no mercado de trabalho para seguranças.
- Meu sonho é que o Brasil seja um país menos desigual, mas a minha meta é que pelo menos as políticas públicas sejam baseadas em evidências. Se vai escrever um política, cadê o dado? É pra isso que eu e outros colegas da academia como eu trabalhamos.
Atualmente, Mayara está no Pós-Doutorado em Harvard. Ela esclarece que não se trata de um curso, mas um emprego de duração limitada como pesquisadora por um ano. Agora, resta esperar quais serão os próximos passos da nossa "pequena notável". Não aquela das artes, com seus balangandãs e que já partiu, mas a menina da periferia de Olinda, que agregou muita gente ao redor de si e provou que ascensão social não se faz só.
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