Em uma economia globalizada, um evento em qualquer canto da terra impacta a vida dos países. A invasão russa na Ucrânia é um exemplo deste movimento. Além de questões que afetam o mundo em geral, como a queda das bolsas de valores, a alta do dólar e a escalada no preço do barril de petróleo, vários países sentem o peso do conflito em suas balanças comerciais. No caso dos dois países em guerra, a Rússia tem mais relevância no comércio bilateral com o Brasil e com Pernambuco, do que a Ucrânia.
Nas relações com a Rússia, o Brasil é mais importador do que exportador. Muito se tem falado sobre as importações de fertilizantes russos para adubar a produção nacional de soja e outros produtos. Segundo dados de comércio exterior do Ministério da Economia, compilados pela Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), dos US$ 5,7 bilhões importados no ano passado pelo Brasil, US$ 3,5 bilhões foi de fertilizantes.
No sentido contrário, o Brasil exportou US$ 1,6 bilhão para os russos. Os principais produtos que embarcamos foram soja, frango e café. Quando se analisa a pauta de Pernambuco, percebe-se que a Rússia é importante para polos produtivos relevantes no Estado. "Em 2021 exportamos US$ 2,7 milhões para o país. Desse total, US$ 1,6 bilhões foram mangas. A pauta também inclui limões e gengibre. Semelhante ao que acontece no Brasil, também compramos mais da Rússia do que vendemos. No ano passado foram R$ 80,6 milhões e, desse total, R$ 32 foram de malte", detalha o analista de negócios internacionais do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fiepe, Vinicius Torres.
O Vale do São Francisco, região entre Pernambuco e Bahia, é responsável por 87% da manga exportada pelo Brasil. Ano a ano, as exportações de manga vêm cravando recordes. Em 2021, de acordo com a Abrafrutas, a manga foi a fruta mais vendida lá fora pelo País. Foram embarcadas cerca de 272,5 mil toneladas de fruta, representando um aumento de 12% em relação aos embarques no mesmo período de 2020. Já o malte é um produto importado para atender ao Cervejeiro de Pernambuco, que conta com fábricas da Ambev, Petrópolis e Heineken, além das cervejarias artesanais.
Torres explica que com a Ucrânia, as relações internacionais de Pernambuco são inexpressivas. "A única exportação realizada no ano passado foi de próteses mamárias, com o pequeno valor de US$ 29,3 mil, além das importações de dois produtos: plásticos e borracha", observa. O cenário nacional também é semelhante, com um valor bem pequeno de exportações (US$ 226,8 mil em 2021) de produtos como amendoim, bauxita e açúcar de cana. As são mais expressivas, com valor de US$ 221,4 milhões e itens como ferro/aço, policloreto de vinila e laminados planos.
Na avaliação do Consultor Empresarial e Embaixador para o Comércio Exterior no Sistema LIDE Pernambuco, Maurício Laranjeira, a guerra tem implicações para além do comércio internacional com o Brasil e Pernambuco. "Apesar do comércio com os dois países envoltos no conflito não ser dos maiores, os reflexos do confronto podem impactar nossas transações com os demais países, devido ao aumento do preço do petróleo, o que pode influenciar ainda mais o custo do frete marítimo, além da tensão com países vizinhos. Vale ressaltar o reflexo no preço de alimentos, que atinge todo o mundo, tendo em vista que a Ucrânia vende 17% do milho do mercado mundial, e, junto com a Rússia, exportam 30% do trigo comprado pelo planeta", alerta.
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