Ministro da Infraestrutura diz não ver risco de greve dos caminhoneiros após aumento do diesel e da gasolina
Caminhoneiros divergem sobre paralisar
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, disse não vislumbrar risco de paralisação de caminhoneiros no Brasil por causa do aumento no preço do diesel e da gasolina. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Tarcísio disse que acompanha a situação e que recebeu uma série de questionamentos da categoria ao longo da quinta (10).
"Nas conversas, embora muito preocupados com o aumento, tenho percebido que eles [os caminhoneiros] estão entendendo o impacto da guerra. E estão percebendo também o esforço feito pelo Congresso em mudar a tributação e pelo governo, em termos de estudo para amenizar o aumento", afirma Freitas. "Como está havendo essa compreensão, não vislumbro neste momento risco de paralisação", disse o ministro.
Um dos líderes da greve de caminhoneiros de 2018, Wanderlei Alves, o Dedeco, já defendeu que o Brasil tem que parar em protesto contra o aumento. "Os caminhoneiros autônomos e os empresários de transporte têm que se unir e parar o país. Ninguém vai aguentar. As transportadoras que têm 500, mil caminhões, com milhares de funcionários para pagar, vão quebrar", afirmou Dedeco em entrevista a Mônica Bergamo, colunista da Folha de S.Paulo.
Transportadores de carros e de combustíveis decidiram parar os caminhões em suas bases e não fazer novas viagens a partir desta sexta-feira, 11. Em comunicado divulgado na quinta, as empresas afirmaram que o aumento dos combustíveis anunciado pela Petrobras inviabilizou o frete e que, até que as condições financeiras sejam restabelecidas, a frota ficará parada.
A orientação para quem estiver com cargas em andamento é que terminem as entregas e voltem para as bases. O assessor executivo da presidência da Confederação Nacional de Transportadores Autônomos (CNTA), Marlon Maués, diz que se trata de uma paralisação técnica, sem bloqueios nas estradas. "O aumento fez com que o sistema entrasse em colapso."
Wagner Jones Almeida, outro assessor da CNTA e empresário do ramo de transporte de combustível, também confirmou as paralisações na sua área. "Já havia uma defasagem nos preços do frete de 24% a 25%. O novo aumento inviabilizou o custo, pois as empresas já não aceitavam reajustar os valores", disse. "Agora piorou."
Outro líder dos caminhoneiros, Wallace Landim, o Chorão, defendeu que a Petrobras mude a política de preços. "A Petrobras foi criada para beneficiar o povo brasileiro. Ela hoje trabalha para o mercado. O que nós cobramos é que se retire o PPI, o preço de paridade de importação. Nós não ganhamos em dólar, ganhamos em real, e somos autossuficientes [em petróleo]. Até quando a população vai ficar sofrendo?", questionou Chorão que é presidente da Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores).
Chorão e outros dois representantes dos caminhoneiros ouvidos pela Folha, José Roberto Stringasci, da ANTB (Associação Nacional de Transporte do Brasil), e Carlos Alberto Dahmer, da CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística), disseram não ter intenção de convocar paralisação da categoria. Eles, dizem, porém, que vão se manifestar como membros da sociedade civil.
Reajuste
Nesta quinta-feira, 10, após 57 dias, a Petrobras anunciou aumento de 25% do diesel e de 19% da gasolina. O reajuste vale a partir de hoje. Com a escalada dos preços do petróleo por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia, a estatal não conseguiu segurar os reajustes. Ainda assim, o preço no mercado interno está bem abaixo do avanço da commodity no mercado internacional
"O que temos de ter em mente é que não parou por aí. Daqui a pouco vem mais 11% de reajuste", disse o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o Chorão. Para ele, essa não é uma pauta só dos caminhoneiros, mas de toda a sociedade. "Como ocorreu em 2013, com as passagens de ônibus, chegou a hora de toda população protestar, pois isso vai acabar no bolso de todo consumidor."
Ele explica que, com os aumentos sendo repassados para o frete, todos os produtos vão encarecer nos supermercados, lojas e shoppings. Questionado sobre uma paralisação apenas dos caminhoneiros, ele diz que isso pode ocorrer de uma forma natural, mas não orquestrada - como os cegonheiros e transportadores de combustível. "Ou seja, com o aumentos dos custos, muitas viagens podem se tornar inviáveis economicamente. Ninguém vai trabalhar no prejuízo."
Para Maués, da CNTA, está se criando uma equação semelhante à de 2018, quando houve a greve dos caminhoneiros. "Hoje há um descontentamento geral com a situação, seja por parte das transportadoras, agronegócio e outros agentes da sociedade." Além dos caminhões, lembra ele, colheitadeiras, trens e ônibus também usam diesel. Portanto, segundo ele, o movimento contrário aos aumentos deve ser em conjunto com toda a sociedade. "O caminhoneiro não pode ser usado como massa de manobra."