A falta de água na casa dos pernambucanos, agravada por impactos imediatos das fortes chuvas que acometeram o Estado nos últimos dias - afetando os sistemas de distribuição da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), tem deixado muita gente sem entender por que, mesmo com tanta chuva, ainda falta água nas torneiras. O problema não é novo e, em parte, pode ser respondido pelo alto índice de perdas de água da companhia, acima da média nacional, de 40%.
Em 2020, em todo o País, o Índice de perdas na distribuição de água ficou em 40,1%, de acordo com o relatório de de Gestão Técnica de Água divulgado na semana passada pelo Ministério de Desenvolvimento Regional. No Nordeste, o percentual sobe para 46,3%.
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Esse percentual representa a fração do volume de água disponibilizado que não foi faturado por não ter sido contabilizado como volume utilizado pelos consumidores, seja por vazamentos, falhas nos sistemas de medição ou ligações clandestinas, ou seja, perdas reais e aparentes, e no caso de Pernambuco beira os 50% do é produzido e deveria chegar ao consumidor (49,8%).
Pernambuco está os 10 maiores estados com perdas de água na distribuição, ocupando a nona posição, quando levado em conta desde vazamentos até a clandestinidade. No Recife, as perdas chegam a 57,5% da distribuição. Na capital pernambucana, levando-se em conta o número de ligações ativas de abastecimento na rede da Compesa, ou seja, a totalização de clientes, as perdas são de 833 l/lig./dia. Levando-se em conta o Índice de perdas por ligação, que também é apresentado no estudo, o Estado tem média de 343,3 l/lig./dia perdidos (índice mais próximo à média nacional).
Os dados refletem o que já é constatado diariamente pela população e alertam para outra questão: no Estado, de acordo com o Diagnóstico Temático Serviços de Água e Esgoto do governo federal, sobrevive-se com menos do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a garantia do mínimo de dignidade. Falta água para beber, tomar banho, lavar roupas e louça. Falta água para sobreviver. E isso compromete a saúde e bem-estar da população. Pernambuco é o segundo pior estado do País nesse quesito.
“É muito ruim acordar e não ter água. Na verdade, nem dorme, porque fica esperando chegar um pingo de madrugada. Os meninos quando chegam da escola, em vez de ir estudar, brincar, têm de ajudar a encher tonel. Para ir para a escola, toma banho como dá e escova os dentes do lado de fora, com uma vasilha, porque aua não chega. E o que a gente vê na televisão é pedidos para economizar água, mas a gente nem tem o que economizar”, desabafa Deyse Santos, 29 anos, moradora de Nova Descoberta, na Zona Norte da capital.
- CONSUMO DE ÁGUA PER CAPITA NO NORDESTE: 120,3 L/hab/dia
- Pernambuco: 103,5 L/hab/dia
- Alagoas: 153,3 L/hab/dia
- Bahia: 115,7 L/hab/dia
- Ceará: 136,5 L/hab/dia
- Maranhão: 141,2 L/hab/dia
- Paraíba: 102,4 L/hab/dia
- Piauí: 128,6 L/hab/dia
- Rio Grande do Norte:109,3 L/hab/dia
- Sergipe: 124,0 L/hab/dia
Apesar de uma Parceria Público-Privada (PPP) que se arrasta há quase uma década na Região Metropolitana e os ciclos de investimentos dos governos estadual e federal em sistemas adutores no interior do Estado, a secura nas torneiras está longe do fim.
Enquanto no País, o consumo médio per capita chegou a 152,1 litros diários por habitante. No Estado, o consumo é de 103,5 L/hab/dia - o que representa alta de 2,17% em relação ao ano de 2019 -, mas ainda está atrás do mínimo estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) - 110 L/hab./dia) - e do consumo médio no Nordeste, onde demais estados também possuem regiões semiáridas, e consumo médio de 120,3 L/hab/dia. O consumo aqui só não é menor do que na Paraíba (102,4 L/hab/dia).
A Compesa diz que as ligações clandestinas são um dos grandes vilões no combate ao desperdício de água, justificando que grande parte das perdas da companhia é referente a um volume que foi consumido, mas que não foi aferido em decorrência de furtos de água.
“Nesse sentido, a Compesa está atuando de forma efetiva junto à polícia e com ações de fiscalização para identificação e coerção das fraudes. Além disso, está adotando estratégias corporativas que focam na eficiência operacional dos sistemas de distribuição de água que auxiliarão a Companhia a chegar ao patamar de 25% de perdas na distribuição, conforme meta estabelecida pela Lei 14.026”, assegura em nota.
Para além das perdas, a companhia reconhece que, apesar de “trezentas obras de abastecimento e esgotamento sanitário em andamento em todas as regiões e, para 2022, já dentro da previsão de investimentos para cumprimento da meta inicial do marco regulatório, serem aplicados R$ 1,3 bilhão”, o Estado ainda tem um grande desafio em relação ao fornecimento regular de água.
“Pernambuco é um dos estados com grandes desafios no que diz respeito à disponibilidade hídrica, o que interfere, por conseguinte, no consumo per capita da população, tornando-se inferior ao recomendado pela OMS. O contraste de Pernambuco em relação aos demais estados se evidencia ao analisar a predominância do clima tropical semiárido, caracterizado por elevadas temperaturas, chuvas escassas e rios perenes, passando por longos períodos de baixa disponibilidade hídrica em grande parte da região”, aponta a companhia.
Sobre os impactos da chuva, a Compesa afirma que, nesta quinta-feira (02), contabilizou o total de 120 unidades operacionais restabelecidas após os impactos das chuvas dos últimos dias. "Cerca de 200 equipes estão espalhadas atuando na recuperação dos sistemas que foram paralisados por questão de segurança, conforme protocolo interno e em alinhamento com as Defesas Civis, por falta de energia e, ainda, e por inundações das unidades ou tubulações que foram arrastadas".
Na Região Metropolitana do Recife, 70 unidades voltaram ao seu funcionamento e outras sete seguem operando parcialmente. Na Zona da Mata e Agreste, 32 já receberam as intervenções necessárias e tiveram a operação restabelecida, e dez estão operando parcialmente.
Em Recife, 12 sistemas de abastecimento já estão normalizados, o que permitiu o retorno do abastecimento em 18 bairros, entre eles Alto José Bonifácio, Alto do Pascoal, Dois Unidos, Passarinho, Água Fria, Dois Irmãos, Apipucos e Nova Descoberta.
Em Olinda, dos 23 sistemas parados o total 18 foram restabelecidos, o que permitiu a volta do abastecimento para quase todos os bairros impactados, a exemplo, Aguazinha, Alto da Bondade, Alto do Sol Nascente, Jardim Brasil, Rio Doce, Jardim Atlântico, entre outros.
Em Camaragibe estão com abastecimento normalizado as localidades do Loteamento São Paulo (parte baixa) e Vera Cruz. Mesmo diante do esforço das equipes da Compesa, não foi possível restabelecer a distribuição completamente pois ainda existe um sistema parado por estar localizado em área considerada de risco pela Defesa Civil do município.
Em Jaboatão dos Guararapes, a Compesa contabilizou o total de 14 sistemas de abastecimentos de água impactados. No município, dez unidades já tiveram a operação restabelecidas, e as demais estão recebendo intervenções ou aguardam avaliação das situações de risco para que a distribuição de água seja retomada. Já foram beneficiados bairros na cidade, a exemplo do Alto da Jaqueira, Cavaleiro, Curados II e III, Dois Carneiros, Pacheco, Muribeca e Marcos Freire.
Em São Lourenço da Mata, os sistemas já estão operando normalmente, beneficiando toda a cidade. Também estão sem problemas de abastecimento, por conta dos impactos da chuva, as cidades de Araçoiaba, Paulista, Abreu e Lima, Igarassu, Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca.
No interior do Estado, a distribuição de água foi retomada, por completo ou parcialmente, para os municípios de Aliança, Barra de Guabiraba, Bezerros, Bom Jardim, João Alfredo, Bonito, Caruaru, Agrestina, Altinho, Ibirajuba, Cachoeirinha, Chã Grande, Feira Nova, Garanhuns, Gravatá, Itaquitinga, Limoeiro, Macaparana, Machados, Nazaré da Mata, Panelas, Pombos, Primavera, Rio Formoso, Sairé, São Benedito do Sul, São Joaquim do Monte, São Vicente Ferrer, Sirinhaém, Tamandaré, Timbaúba, Vicência e Vitória de Santo Antão.
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