Infraestrutura

Com obras paralisadas e 3 anos de atraso, Adutora de Serro Azul não cumpre papel de abastecer Agreste

Desde que foram iniciadas as obras, em 2018, duas empresas desistiram de continuar na construção da adutora. Compesa vai contratar terceira construtora, mas ainda não se arrisca em estimar um prazo de conclusão. Só resta à população do Agreste continuar sofrendo com o racionamento de água, em um severo sistema de rodízio

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 19/07/2022 às 18:39 | Atualizado em 19/07/2022 às 19:23
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Obras da Adutora de Serro Azul, quando foram iniciadas, em 2018 - FOTO: Compesa/Divulgação
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Construída com o propósito de proteger a população de Serro Azul das enchentes e de reduzir o racionamento de água em parte do Agreste, a Adutora de Serro Azul está 3 anos atrasada na sua conclusão. Com obras iniciadas em março de 2018 e previsão de ser inaugurada no final de 2019, a adutora trocou três vezes de construtora, não foi finalizada e está paralisada atualmente. 

Segundo o Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE), "a paralisação ocorreu de forma unilateral por decisão da Compesa, em função do atraso e descumprimentos dos prazos do cronograma. Entre os principais problemas identificados pela fiscalização do TCE estão o atraso no cronograma físico-financeiro, revogação indevida da primeira rescisão contratual e utilização de material na obra em desconformidade com as normas", afirma o TCE, por meio de nota.

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Governador Paulo Câmara assinando ordem de serviço da Adutora de Serro Azul, em 2018 - Compesa/Divulgação

"O contrato inicial culminou em processo administrativo para aplicação de penalidade uma vez que a empresa contratada abandonou os serviços, alegando desequilíbrio econômico no contrato. Já o segundo contrato também foi paralisado, uma vez que a construtora contratada abandonou os serviços alegando desequilíbrio dos valores do contrato por conta da alta inflação e de insumos básicos", destaca a Compesa, em nota.

A Compesa esclarece, ainda, que "irá aplicar todas as penalidades administrativas previstas, como também prepara para lançar nova licitação para contratação da empresa que executará o restante dos serviços", adianta, sem estimar um novo prazo de conclusão da adutora.

De acordo com a Compesa, a obra da Adutora de Serro Azul tem investimento estimado em R$ 213 milhões e, desse total, R$ 173 milhões já foram gastos. A obra está sendo executada por meio de convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Quando estiver concluída, poderá beneficiar 1 milhão de pessoas que sofrem com o racionamento de água da Compesa em dez municípios: Belo Jardim, Bezerros, Caruaru, Gravatá, Sanharó, Santa Cruz do Capibaribe, São Bento do Una, São Caetano, Tacaimbó e Toritama. A proposta é reduzir ou mesmo acabar com o rodízio, em uma região conhecida por enfrentar um severo déficit hídrico.

A Compesa explica que é de 58 quilômetros o total de tubulações a serem assentadas e que já foram executados 52 quilômetros. O empreendimento ainda contempla 4 estações elevatórias, com capacidade de transportar 500 litros por segundo, que estão 75% concluídas e dois reservatórios metálicos com capacidade de armazenamento de 4,5 milhões de litros, que estão 100% concluídos. 

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Barragem de Serro Azul, em Palmares, na Zona da Mata de Pernambuco - Divulgação

Barragem e Adutora de Serro Azul

A adutora também terá o papel de evitar que as enchentes do Rio Una prejudiquem a população da Mata Sul, na medida em que vai transferir água da Barragem de Serro Azul para o Agreste. Com as chuvas deste ano, a população local se assustou com a possibilidade de a Barragem de Serro Azul sangrar pela primeira vez, desde que foi inaugurada em 2017, e alagar o Distrito.

Cortesia
Moradores do Distrito de Serro Azul, em Palmares, hatearam bandeira preta na Barragem de Serro Azul, em sinal do medo que vêem sentindo por estar no pé do paredão do reservatório - Cortesia
 

Esta semana, os moradores da comunidade chegaram a colocar uma bandeira preta, em sinal de luto no alto da barragem. Apesar de o reservatório não ter vertido e o volume estar diminuindo, famílias que vivem no pé do paredão chegaram a deixar suas casas com medo do que poderia acontecer se a barragem sangrasse. Parte dos moradores locais está a uma diestância inferior a 500 metros do paredão, determinada pelo EIA-Rima do empreendimento. 

A deputada estadual Priscila Krause (Cidadania) chegou a encaminhar ofício ao governador Paulo Câmara (PSB), pedindo que ele olhasse para a situação dessas famílias e promovese a desapropriação das casas que estão próximas à barragem e, consequentemente, em situação de risco. 

No ofício, a parlamentar lembra que "muitos moradores tomaram a iniciativa de deixar suas residências, diante do iminente risco às suas vidas. É dessa forma que os habitantes de Serro Azul são forçados a viver desde 2017; em constante receio de serem vitimados por uma obra de infraestrutura realizada sob a promessa de proteger as vidas dos pernambucanos", observa.

"É, portanto, Sr. Governador, fundamental reverberar, neste momento, o pleito dos residentes de Serro Azul, para que se cumpram os próprios estudos encomendados por este Governo do Estado para a construção da Barragem e que, com a brevidade possível, cumpra o Poder Executivo com suas obrigações e proceda à desapropriação dos imóveis que se encontram à sombra da Barragem de Serro Azul, dentro da área de proteção de 500 metros estabelecida no EIA/RIMA, devolvendo assim a tranquilidade àquelas famílias pernambucanas que vivem sob a ameaça da Barragem Governador Eduardo Campos", complementa.    

Informe encaminhado no início de julho pela Secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos de Pernambuco (Seinfra) à Coordenadoria de Desa Civil de Pernambuco (Codecipe), apontava que a barragem poderia verter quando alcançasse uma cota de 198 metros. A barragem chegou perto disso (193 m) e bateu 73% de capacidade, mas depois o volume de água foi baixando, para tranquilidade da população. Nesta terça-feira (19), a barragem está com uma cota de 189,01 metros e um volume de 61,9%.


 

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