Quando eu era criança ouvia meu pai falar com saudosismo do guaraná Fratelli Vita. Ele sabia os slogans de cór e, todas as vezes que passávamos pela Rua da Soledade, no Centro do Recife, apontava o local onde tinha funcionado a fábrica. "O guaraná trazia prêmios nas tampinhas das garrafas. Tinha até geladeira", recordava. Divertia-se ao lembrar da rivalidade entre a Coca-Cola e a Fretelli Vita. A multinacional entrou no Brasil pelo Recife, no ínicio dos anos 1940, e mal sabia que ia enfrentar a dura concorrência de uma marca regional.
A Fratelli Vita teve uma vida longa no Nordeste, desde que foi fundada em 1902 pelos irmãos italianos Giuseppe e Francesco Vita até ser vendida para a Brahma, em 1972. Cinco décadas após ser vendido, o guaraná volta ao mercado pelas mãos das novas gerações dos fundadores. O nome do novo guaraná Família Vita faz referência à tradução do italiano de Fratelli Vita. Em fase de produção-piloto, o guaraná está à venda em pontos comerciais do Recife e de Salvador.
As garrafinhas PET de 275 ml são encontradas nos estabelecimentos a um preço sugerido de R$ 5,00 a R$ 6,00. A produção é feita em um pequeno galpão, no bairro de Beberibe. O empresário Jorge Vita conta que é uma realização materializar o sonho das novas gerações da família, que se juntou para desenvolver uma nova fórmula para o Família Vita, mas que ao mesmo tempo se aproximasse o máximo possível da Fratelli Vita.
"As pessoas têm uma memória gustativa e afetiva do guaraná. Nós precisávamos chegar a uma formulação que remetesse à Fratelli Vita mas, ao mesmo tempo, aconteceram muitas mudanças nesse intervalo de 50 anos, desde que a fábrica foi vendida. Vários fornecedores deixaram de existir. O guaraná naquela época era bem mais doce do que hoje e talvez seja necessário oferecer mais de uma opção, porque os consumidores estranham", observa Jorge.
A fórmula do novo refrigerante vinha sendo estudada há pelo menos 5 anos. O pai de Jorge, Jayme Vita, foi diretor da Fratelli Vita durante muito anos, até ela ser vendida. Quando a fábrica deixou de pertencer à família, ele ficava em casa testando fórmulas de refrigentes. Os degustadores eram os filhos. As receitas de Seu Jayme ficaram guardadas quando ele faleceu e se juntaram ao lado baiano da família de Jonas Vita para aperfeiçoar a fórmula que foi lançada.
"Esperamos que nossos bisavós, avós e pais estejam orgulhosos do lançamento da Família Vita. Por enquanto estamos tocando um projeto-piloto, mas com potencial para crescer. Atualmente, a escala de produção é pequena porque primeiro vamos perceber a demanda do mercado. Se a procura crescer, temos planos de lançar a garrafa de um litro, de também adotar a garrafa de vidro, de lançar novos sabores e de expandir as vendas para outros Estados", revela Jorge Vita.
Em Salvador, o lançamento foi um sucesso. O estoque de produto esgotou e as lojas estavam entrando em lista de espera para conseguir novos lotes. No Recife, a expectativa não é diferente. A Fratelli Vita faz parte da memória afetiva do recifense e a curiosidade em rememorar o sabor do guaraná deverá estimular a procura.
Veja onde encontrar a Família Vita (antiga Fratelli Vita)
1. Hiper Delicatessen Ilha do Retiro
2. Open Time Torre
3. Open Time BV
4. A Budega
5. Rosarinho Delicatesen
6. Tio Beto Sorvetes - CASA AMARELA
7. Tio Armênio Plaza
8. Norte Bolos
9. As Galerias
10. Padaria Globo
11. Boleria Magi
12. Mercearia Nabuco
13. Zoo Burguer Lanchonete
14. Mariana Parini Dolci & Cioccolato
15. Posto Piatan - Ipiranga
16. Frutiverde
17. Frutiverde
18. Norte Burguer
19. Portus
20. Tasquinha do Tio
21. Madoska Sorvetes Recife Boa Viagem
22. Panela de Barro
23. Mafuá Recife
24. Iburguer Imbiribeira
25. Casa do Queijo
26.Arraial Delicatessen
27.Tamarindu's Festa
28. Rua Doutor José Maria
29. Padoca do Paiva
30. A Vida é Bela Café (Várzea)
31. Feitiço Vegano
32. Atacarejo Recife - Ceasa
33. Empório Lucca
34. Parla Deli
35. Parla Deli
36. Parla Deli Boa Viagem
37. Posto VIP(BR Petrobrás)
38. Granello
39. Whisky House
40. Vita PizzaBurguer - Delivery
Fratelli Vita fez história no mercado de refrigerantes
Em seu livro "A história da Fratelli Vita no Recife", o escritor Gustavo Arruda se aprofundou durante dois anos na história dos irmãos italianos Guiseppe e Francesco. Seu empenho permitiu salvaguardar a memória desses empresários e permitir que as novas gerações pudessem conhecer a Fratelli Vita e eternizar a passagem deles pelo Nordeste. que demonstraram como a produção regional pode ser forte.
De família pobre na Itália, os irmãos Vita emigraram para o Brasil no século 19, em busca de novas oportunidades. Passados os perrengues dos primeiros anos, em 1892 criaram a empresa Fratelli Vita. Decidiram apostar no negócio de bebidas, fabricando água tônica, licores, vinhos, cervejas de gengibre e gasosas, que ficaram conhecidas como refrigerantes. Os primeiros negócios funcionaram em Salvador, mas o acirramento da concorrência local fez com que os empreendedores migrassem para o Recife.
Gustavo Arruda conta no livro que "a capital pernambucana era a cidade de maior porte populacional e importância econômica do Nordeste, devido ao seu porto (o Porto do Recife) e desenvolvimento industrial, onde a instalação de outra fábrica aumentaria o faturamento". O primeiro endereço da fábrica foi na Rua da Imperatriz (1913 a 1920), até depois se mudar para a Rua da Soledade.
Além do refrigerante em si, que já era uma inovação a partir das chamadas gasosas, os irmãos empresários também aprenderam a fabricar garrafas de vidro para suprir a falta do insumo importado da Europa e bastante disputado pela indústria. Com a sua própria produção de garrafas, a Fratelli Vita inaugurou o conceito de embalagem retornável.
A empresa colocava anúncios nos classificados dos jornais para comprar suas próprias garrafas vazias (e as reaproveitar depois de higienizadas), além de vidro branco quebrado (para reciclagem na fábrica de Salvador).
Trechos do livro de Gustavo Arruda
"Como os Vita possuíam muita concorrência, principalmente dos refrigerantes caseiros (conhecidos como “tubaínas”), a personalização das garrafas era uma forma eficiente de distinguir seus produtos dos demais. Assim, a partir de 1912 a Fratelli Vita registrou alguns modelos exclusivos que importava da Inglaterra (personalizadas com sua marca em alto relevo), para dificultar imitações pelos concorrentes".
"Mas, durante e após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ficou difícil a importação da Europa dessas garrafas conhecidas por piolins (do tipo “pirulito”), fechadas por uma esfera de vidro presa dentro do gargalo com uma borracha sob pressão (era com essas esferas, as chamadas “bolinhas de gude”, que a criançada brincava de “jogo de gude”)".
"Até que, em 1918, foram entregues apenas 5.000 unidades de uma encomenda de 100.000 garrafas, a preços muito elevados. E foi para resolver o problema da escassez de garrafas para as suas bebidas que Giuseppe Vita (de natureza inventiva, dinâmica e muito persistente) apreendeu sozinho a produzir vidro, pesquisando no dicionário “Chernoviz”, e construindo em 1919 um forno nos fundos da fábrica de refrigerantes de Salvador, numa pequena fábrica de vidros para produção de garrafas artesanais. Em setembro de 1921, conseguiu produzir finalmente sua primeira garrafas", conta Gustavo Arruda em seu livro.
A Bhama compra a Fratelli Vita
Em 1941, a Coca-Cola fez sua estreia no Brasil, com uma fábrica no Recife. Encontrou uma concorrente regional com mais de 30 anos de presença no mercado e que sabia envolver o consumidor. As duas empresas disputavam as vendas e duelavam nas estratégias de marketing.
Em 1966, enquanto a Coca-cola sorteava um Ford Galaxy por mês, a Fratelli Vita baiana promovia o sorteio televisivo semanal de um automóvel Karmann Ghia ou Fusca, da Volkswagen, e um Simca Chambord ou um Tufão, da Ford. Até o arcebispo dom Helder Camara entrou na disputa, quando foi flagrado tomando uma Fratelli Vita e a empresa aproveito sua preferência para se capitalizar diante da concorrente.
Ao longo dos anos, o mercado de refrigerantes foi ficando cada vez mais concorrido, não só por conta da Coca-Cola mais pela chegada de muitas outras multinacionais. Em 1972, a Fratelli Vita recebeu proposta da Antarctica e da Brahma para vender seu negócio. A decisão não foi consenso entre a Família Vita, mas a maioria venceu e a companhia foi vendida para a Brahma. A nova dona ainda chegou a produzir um guaraná semelhante à Fratelli, mas depois descontinuou a fabricação e o produto saiu do mercado.
Exatamente cinco décadas depois, o refrigerante que era a cara do Nordeste volta ao mercado. Esse reaparecimento deve provocar curiosidade entre os que não conheceram a famosa Fratelli Vita e a sensação de rememorar o passado, entre os que já tomaram a bebida. Meu pai, certamente, adoraria a novidade e diria: "a gasosa voltou".
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