Os bairros recifenses do Pina e de Brasília Teimosa são exemplos espontâneos de Black Money. O "dinheiro preto" - na tradução ao pé da letra - é um movimento que estimula a troca entre empreendedores e consumidores pretos para fortalecer a comunidade negra. A proposta é promover a inclusão econômica e social dessas pessoas para que elas conquistem autonomia.
Celebridade no mundo digital, a fundadora do Movimento Black Money, Nina Silva, estará no Recife na quinta-feira (17) para participar da 1ª Expo Preta. Realizado pelo RioMar e o Instituto JCPM de Compromisso Social (IJCPM), o evento é parte da celebração do mês da Consciência Negra.
Com 18 estandes de produtos e serviços, a mostra segue até o dia 20, no piso L3 do RioMar Shopping. A 1ª Expo Preta quer incentivar o potencial criativo da comunidade negra e fortalecer o empreendedorismo preto. Além da feira, o evento também terá painéis de conteúdo e atrações culturais.
Considerada a Mulher Mais Disruptiva do Mundo pela Women in Tech Global Awards 2021, a afroempreendedora Nina Silva vai abrir o evento no dia 17, com palestra a partir das 18h. Ela vai compartilhar a experiência do Movimento Black Money e sua experiência de luta contra a desigualdade racial.
O bate-papo será mediado pela apresentadora de TV, Maristela Niz, e também contará com a participação de Manoela Alves, diretora executiva do Instituto Enegrecer. O afro empreendimento trabalha com educação antirracista nas empresas, na universidade ou nas instituições, como uma ferramenta de transformação social.
"Eu vou participar da 1ª Expo Preta como expositora, mas não quero perder a palestra de Nina Silva por nada. Será uma oportunidade única de conhecer sua inspiradora história de sucesso", diz Patrícia Souza, afro empreendedora da Maré Moda, marca de estamparia artesanal.
Patrícia compara o Pina a uma experiência de Black Money. Ao longo do tempo, muitos coletivos foram surgindo e a comunidade foi se empoderando. O fenômeno também aconteceu na economia, com lojas que vendiam apenas pelas redes sociais abrindo em pontos fixos para atender à população.
"A gente costuma dizer aqui que o 'Pina gera'. É uma referência aos empreendimentos que fazem o dinheiro circular dentro da própria comunidade. Tem gente produzindo e gente comprando essa produção preta. Como se sabe, é mais difícil para a população preta conseguir um emprego de carteira assinada com um bom salário, por isso a saída é empreender. E existem políticas públicas para isso, que faz com que as pessoas procurem viver do seu próprio negócio", afirma Patrícia.
A proposta do Movimento Black Money é conectar afro empreendedores e consumidores negros, promovendo a circulação de dinheiro dentro da própria comunidade e entre pessoas e empresas comprometidas com a diversidade.
A iniciativa nasceu da necessidade de contrapor, com inovação, as limitações impostas pelo preconceito. "Apesar de representarem 56% da população brasileira, 53% dos empreendedores e consumirem cerca de R$ 1,8 trilhão ao ano, negras e negros ainda estão longe dos espaços de poder e recebem salários mais baixos", destaca Nina, que sentiu na pele as desigualdades de raça e gênero, apesar do currículo repleto de qualificações e da experiência em liderar grandes equipes em multinacionais do setor de tecnologia.
Apenas na abertura, no dia 17, os ingressos são pagos. Nos demais dias, toda a programação é gratuita. Os ingressos já estão à venda por R$ 15 (meia entrada) e R$ 30 (inteira), na bilheteria do teatro ou através do site https://uhuu.com. Na abertura, além da palestra de Nina Silva, terá shows do Grupo Barbarize e do cantor Toni Garrido.
PESSOAS NEGRAS NO BRASIL
Com a intenção de ter um retrato da população negra brasileira, o Opinion Box se juntou ao Movimento Black Money para realizar uma pesquisa inédita: o Relatório Pessoas Negras no Brasil.
O relatório entrevistou mais de 2 mil pessoas e trouxe achados sobre a percepção do racismo no País. Entre os entrevistados, 60% das pessoas negras acreditam que o Brasil é um país racista. No caso das pessoas não negras, 53% concordam.
Para 23% das pessoas negras, sua raça dificulta a entrada no mercado de trabalho. O relatório também apontou que 56% das pessoas preferem comprar em empresas que apoiam a diversidade racial. Entre os entrevistados, 69% consideram importante que um candidato ou candidata defenda causas relacionadas às pessoas negras no Brasil.
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