A Expo Preta é resultado do reconhecimento do potencial afro empreendedor existente nas comunidades do Pina, Brasília Teimosa e Ilha de Deus, no entorno do shopping, onde o RioMar Recife e o IJCPM atuam. O Instituto atua há mais de 10 anos, investindo nas juventudes e auxiliando no processo de desenvolvimento sustentável dos territórios.
"Sabemos que ainda há muito a ser construído, mas temos buscado delinear esse caminho de futuro junto à sociedade e às comunidades. Em diversas frentes, estamos trabalhando no sentido de fazer as comunidades se integrarem mais ao empreendimento, como protagonistas também do negócio, e estimulando outras alternativas de criação e ocupação, para além do emprego e das atividades do IJCPM. A Expo chega neste momento estratégico. Nem começa nem termina aqui", destaca a gerente de Desenvolvimento Social do Grupo JCPM, Juliana Martorelli, já prevendo a expansão do modelo para outras cidades e o crescimento da iniciativa nos próximos anos.
Exceto a abertura, toda a programação é gratuita e ocorrerá nos dias 18, 19 e 20 no Piso L3, das 12h às 22h, na sexta e no sábado, e das 12h às 21h, no domingo. Participam da Expo Preta 18 afroempreendedores de segmentos diversos, como moda, saúde, beleza, bem-estar, artes, música e gastronomia.
A seleção das e dos afroempreendedores foi realizada a partir de chamamento pela internet e todos os expositores recebem ajuda de custo diária para alimentação e transporte. "Já havíamos mapeado neste ano com a Produtora Curadoras Negras o celeiro de afro empreendimentos e artistas do nosso entorno, para entender o perfil e o potencial deles, todos com um viés de criatividade e de afirmação de identidade muito fortes. Foi uma alegria constatar o interesse das comunidades no projeto", ressalta a gerente de Sustentabilidade do Grupo JCPM, Thayara Paschoal.
Parte dos expositores já passou por atividades de impulsionamento e aceleração de negócios do IJCPM. Caso dos empreendedores do Pinosa Moda Sustentável, contemplados em um processo de formação, desenvolvimento e amadurecimento criativo que culminou com a participação na 8ª edição do Passarela RioMar, em setembro, e se difunde agora na Expo Preta.
OS AFRO EMPREENDEDORES
Escamas prateadas de camurupins viram arte pelas mãos de artesãs de Brasília Teimosa, no Recife. Tingidas, cortadas e trabalhadas elas se transformam em brincos, colares e outras peças da marca Moda Mangue. Reaproveitando resíduos de vários peixes, além de conchas de ostras e videiras, as biojóias são assinadas pela designer e empreendedora Luciana Silva.
"Eu me emociono quando vejo que aquelas escamas que iam parar no lixo viram arte e transformam a vida das pessoas", diz Luciana, fazendo referência às mulheres artesãs de Brasília Teimosa e os próprios pescadores da Colônia local, que comercializam as sobras dos peixes.
A história da marca começou há 10 anos, a partir da ONG Escola Mangue, com propósito socioambiental de cuidar do lixo e evitar o descarte inadequado dos restos da pesca. Começaram fazendo biquíni com peles de peixe e foram se readequando até descobrir as biojóias.
Luciana conta que as peças foram sendo aperfeiçoadas, com a descoberta de técnicas mais eficientes de pigmentação e a incorporação de novos materiais, como a prata. A marca avançou e se profissionalizou com o período de incubação no Marco Pernambucano da Moda, em 2016, e mais recentemente em experiência no RioMar.
"Hoje, seis mulheres de Brasília Teimosa trabalham ativamente na produção das peças. Elas recebem o molde, a quantidade de cordões e escamas de peixe que vão precisar para fazer e levam para casa. Na comercialização, elas recebem 20% do valor da peça assim que entregam, sem depender de consignação para ser remunerada", explica Luciana.
As biojóias são vendidas no Instagram da marca @modamanguebiojoias e os preços das peças variam de R$ 35 (brinco bailarina) a R$ 300 (colar de prata com concha de sururu). A nova coleção é inspirada na força de Ogum, o orixá da guerra e da metalurgia. Batizada de trilhos de Ogum, uma das peças é um colar feito com paus de canela.
Na avaliação da empreendedora, a 1ª Expo Preta é uma oportunidade de garantir visibilidade à marca, em um espaço de grande circulação como o RioMar. Também é um momento para a diversa população de Brasília Teimosa, com seus artesãos e artistas, se fazer presente.
Empreendedora do espaço A Famosinha das Tranças, em Brasília Teimosa, Miqueline Batista, de 27 anos, vai levar para a Expo Preta sua experiência em transformar não só os cabelos, mas a autoestima das mulheres pretas.
"Quando eu era criança meu cabelo era curtinho e eu queria fazer uma trança pra ele ficar grande. Ficava na frente do espelho tentando aprender. No começo se soltava fácil, mas depois fui pegando o jeito", conta.
Na família de Miqueline, a arte de fazer tranças passa de geração a geração. Começou com sua avó, Dona Maria Agripina, hoje com 91 anos, e com a mãe Midian, de 57 anos. "Agora sou eu quem estou ensinando a minha filha mais velha, Melina, de 11 anos. Eu faço a base e ela continua trançando", destaca. Depois será a vez de Jasmin, 6 anos, aprender.
Dependendo do tipo de trança, o valor pode variar de R$ 15 a R$ 240. O preço também muda se o cliente trouxer o próprio material ou se usar o do espaço. A mais cara é a box braid, aquela que preenche a cabeça toda de tranças. Leva em média quatro horas para concluir e tem duração de três meses.
"Na Expo Preta, por conta do tempo, vou fazer tranças mais simples, como a boxeadora (duas tranças com cabelo dividido ao meio), nagô, raiz e outras. Fiquei muito feliz com o convite para participar e não vejo a hora de começar. Já vou preparar a minha trança para o evento", adianta.
A artista visual, grafiteira e designer Patrícia Souza vai apresentar a coleção Linhas Botânicas, da sua marca Maré Moda, na Expo Preta. Desde 2016 ela se apaixonou pela estamparia artesanal, imprimindo nas peças imagens de areca-bambu, uma palmeira urbana abundante no Recife.
"Vou levar 30 peças, porque meu trabalho é artesanal e feito em pequena escala. Hoje minha produção é vendida pelo Instagram e a participação na feira vai permitir um contato direto com o público e o consumidor. Estar no evento nos deixa potentes não só economicamente, mas com pessoas. Às vezes pensamos em desistir, imaginamos que nosso trabalho não é tão bom quanto pensamos e essas oportunidades nos reanimam. Estou muito feliz em participar", resume.
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