Consciência Negra

Afroempreendedorismo também se faz com inclusão digital, como mostra o Movimento Black Money

No Brasil, 51% do total de empreendedores são pretos, mas muitos são negócios informais, sem qualquer proteção social. Por isso, a importância de um movimento que fortaleça o afroempreendedorismo

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 20/11/2022 às 8:00 | Atualizado em 23/11/2022 às 8:53
GUGA MATOS/JC IMAGEM
NINA SILVA "Black Money é uma filosofia ancestral. A gente sempre se ajudou e se apoiou, senão não resistiríamos até aqui", diz a empreendedora - FOTO: GUGA MATOS/JC IMAGEM
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A comunidade preta interessada em inclusão digital precisa conhecer o Movimento Black Money. Fundado em 2017 por Nina Silva e Alan Soares, o hub digital tem o propósito de impactar a qualidade de vida da população negra no País, apontando os caminhos para que pessoas e afroempreendedores conheçam a nova economia e acessem o mundo digital. 

No Brasil, 51% do total de empreendedores são pretos, mas muitos são negócios informais, sem qualquer proteção social. Por isso, a importância de um movimento que fortaleça o afroempreendedorismo. Atento a essa realidade, o Movimento Black Money promove cursos, acelera negócios, oferece crédito semente, mantém uma plataforma de vendas digitais para produtos e serviços de empreendedores negros e fornece maquininha e cartão de crédito com as bandeiras Visa e Credcard.  

Para conhecer os serviços oferecido pelo Movimento Black Money, o  afroempreendedores podem acessar as páginas do hub digital https://movimentoblackmoney.com.br/ e da plataforma de vendas https://www.mercadoblackmoney.com.br/

Heudes Regis/Divulgação
Expo Preta tem sua primeira edição no RioMar Recife com 18 expositores, além de programação de palestras e apresentações culturais - Heudes Regis/Divulgação
 

Na quinta-feira (17), Nina Silva esteve no Recife pela primeira vez para participar da abertura da Expo Preta, evento promovido pelo RioMar Recife e o Instituto JCPM e Compromisso Social (IJCPM), que segue até este domingo (20), no piso L3 do shopping, Dia Nacional da Consciência Negra.

"O Black Money é uma filosofia ancestral. A gente sempre se ajudou e se apoiou, senão não resistiríamos até aqui. Eu e meu sócio sempre fomos apaixonados por tecnologia e pela finalidade de apoiar a comunidade negra. Costumamos brincar que o 'fim' se uniu ao 'tech' e ao invés de criar uma fintech iniciamos um hub", conta Nina.  

O conceito do movimento existe desde os anos 1920, por meio de ideais apoiados por líderes de movimentos afirmativos negros. Um desses líderes foi o jamaicano Marcus Garvey, que defendia o empoderamento negro em escala global. Na ideia defendida por ele, isso deveria incluir os pretos no sistema financeiro e de produção, fundando um “capitalismo preto”, em que os afrodescendentes deixassem de ficar à margem da sociedade.

DESIGUALDADE RACIAL  

O Brasil tem a maior população negra fora da África e a segunda maior do planeta. O Nordeste concentra a maior população preta e feminina do País. Apesar de ser maioria, o povo preto convive com a desigualdade racial e o racismo estrutural. A herança da escravião se perpertua e a população negra continua tendo menos acesso a emprego, educação, segurança, saúde e saneamento. 

Neste 20 de novembro se comemora do Dia Nacional da Consciência Negra. A data foi instituída pela Lei nº 12.519, de 2011, em referência à morte de Zumbi dos Palmares (líder do Quilombo dos Palmares, em Alagoas). O dia serve para relembrar aimportância da população negra na formação do Brasil e para reforçar as discussões sobre igualdade racial, antirracismo, respeito e oportunidades para o povo preto. 

No Brasil, os ataques racistas continuam acontecendo nas ruas, nas empresas e no mercado de trabalho em geral, mas em contraponto também surgem iniciativas de fortalecimento e inclusão, como o Black Money. 

Nina Silva conta que a pandemia acabou atrapalhando o processo de expansão do Movimento, que poderia ter impactado mais pessoas e empreendimentos, mas que estão em um processo de retomada.

"Acabamos de acelerar cerca de 120 negócios no País e, desses, um terço são do Nordeste. A grande campeã da aceleração, inclusive, foi a Afromaterna, uma empresa do Recife. Desses empreendimentos, 15 foram selecionados para receber um capital semente de R$ 7 mil", adianta. A Afromaterna é uma empresa de produtos infantil, fraldas ecológicas com tecido africano, produtos de algodão e produtos maternos. 

Para 2023, o objetivo do Movimento Black Money é a comunidades pretas mais distantes e marginalizadas. "A inclusão geralmente chega em quem está mesnos marginaliado. Por isso, chegar mais longe é a nossa meta", diz. Outra meta é avançar no acesso de maquinetas e cartões de crédito para os afroempreendedores. A plataforma digital de vendas, hoje com 2,5 mil empreendedores, também pode ser ampliada. Os interessados em comercializar pelo Mercado Black Money não pagam nenhum tipo de alugel ou taxa.   

Considerada a Mulher Mais Disruptiva do Mundo pela Women in Tech Global Awards 2021, Nina Silva conta que apesar do reconhecimento o racismo se perpetua. "Concorri com mil mulheres de 100 países por esse título e não sentei em nenhum sofá de uma TV importante para ser entrevistada. Se você uma mulher branca estaria em todas as TV e capas de revistas", compara. 

Nina diz que o racismo não lhe doi mais porque já espera por ele. "Não me doi porque pra mim já é esperado, não me surpreende em nada. São pessoas reacionárias que têm ódio contra pessoas pretas. É apenas a manifestação do interior empobrecido de muita gente", lamenta. 

Apesar de sua trajetória inspiradora, Nina afirma que ainda está caminhando, proque 'chegar lá' é relativo. Ele afirma que para alguns negros chegar lá é ser CEO de uma multinacional ou estar no topo. "Eu não quero estar no topo, porque sei que terá alguém na base. Eu gostaria de um dia não precisar mais letrar  pessoas e instituições, fazendo entender que todos precisam ter as mesmas oportunidades", deseja.  

 

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