Os riscos climáticos sempre foram tratados no orçamento como imprevisíveis - por isso, desastres ambientais são enfrentados por meio de crédito extraordinário, uma exceção às regras fiscais para eventos inesperados. O ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida considera, no entanto, que recursos a desastres climáticos deveriam ser incluídos no orçamento, uma vez que se tornaram frequentes.
"Não é mais imprevisível, isso tem que estar no orçamento de todos os anos, prevendo montante mínimo para esse problema, que passou a ser recorrente", disse Mansueto, que hoje é economista-chefe do BTG Pactual, em evento sobre investimentos na era das mudanças climáticas organizado pela gestora de recursos Converge Capital.
Mansueto observou ainda que a agenda ambiental se tornou central nos negócios e nas políticas públicas, tendo em vista impactos das mudanças no clima sobre a inflação, bem como as restrições no comércio internacional e no acesso a crédito mais barato por países e empresas que não têm compromissos com práticas sustentáveis.
Num mundo mais protecionista, o Brasil, pontuou o economista, terá que respeitar regras ambientais se quiser seguir com o comércio internacional pujante. Além disso, diante de juros mais altos no mundo, a agenda verde é o caminho a ser seguido para captações a um custo mais baixo. "Há investidores dispostos a comprar títulos verdes e colocar dinheiro em empresas sustentáveis mesmo tendo retorno menor", comentou Mansueto.
O ex-secretário do Tesouro ressaltou que a inflação é especialmente sensível em economias como o Brasil, onde os bancos centrais precisam observar índices gerais de preços, e não núcleos, nas metas de inflação. Com isso, o trabalho da política monetária pode ser desafiado por impactos climáticos nos preços dos alimentos.
BASES ECONÔMICAS DO PAÍS
Mansueto avaliou que os fundamentos econômicos no Brasil estão hoje mais saudáveis do que no passado e que o País está em posição favorável para aproveitar as oportunidades da agenda ambiental. Para isso, observou, basta o governo não fazer "tolice" e respeitar alguns limites fiscais.
Ele avaliou que a inflação, entre 3,5% e 4% ao ano, deixou de ser um problema. Ressaltou também o diferencial da matriz energética amplamente baseada em fontes renováveis do Brasil. Citou ainda o imenso potencial do País de elevar a produção de grãos sem desmatamento, graças a tecnologias que permitem a fertilidade ou melhoram a produtividade do solo. "Temos um cenário positivo. É só não fazer tolice e respeitar alguns limites de gasto fiscal", alertou o economista.
"O Brasil tem toda chance de sair vencedor do processo de maior exigência ambiental. Temos que estimular a agenda ambiental porque podemos nos beneficiar", acrescentou Mansueto.
Em entrevista a jornalistas após participar do evento, ele disse que o governo terá que se esforçar para entregar a meta de reverter o déficit nas contas primárias.
Em paralelo, para obedecer o limite de gastos do novo arcabouço, que permite aumento das despesas em no máximo 2,5% acima da inflação, será preciso controlar o avanço dos gastos obrigatórios. "Caso contrário, não vamos ter ajuste fiscal, e todos vão ser prejudicados", disse o economista-chefe do BTG.