Em Pernambuco, número de MEIs triplicou em uma década, mas desafios para o microempreendedor persistem

Neste sábado (5) é celebrado o Dia Nacional da Micro e Pequena Empresa (MPE), em homenagem ao Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte

Publicado em 04/10/2024 às 20:29

Foi depois de perder o emprego como vendedor em uma loja de calçados, que Herlandeson Porfírio, 31 anos, pensou em ser dono do próprio negócio. Sua cunhada lhe encomendou uma 'roupa' para uma carrinho de compras e, quando foi comprar o material, decidiu fazer também uma bolsa de praia. O produto conquistou a clientela e, a cada nova criação, as bolsas eram logo vendidas.

Assim nasceu, em 2022, a Beach Bag, marca especializada em bolsas de praia, utilizando materiais como palha forrada, tecidos de algodão e plástico. O pequeno empreendedor diz que precisou aprender tudo sozinho. "Na minha família não tem ninguém que costura nem com referência em design. Fui fazendo cursos online, acompanhando influencers da área e me aprimorando", conta. 

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A Beach Bag, do pequeno empreendedor Herlandeson Porfírio, formalizou-se como MEI - Tião Siqueira/JC Imagem

Em julho deste ano, Herlandeson Portírio decidiu formalizar a Beach Bag e se juntar aos 327.156 Micro Empreendedores Individuais (MEIs) em Pernambuco (segundo dados de setembro da Receita Federal). Na última década, o número de pessoas que se tornaram microempreendedores individuais triplicou em Pernambuco.

Dados do Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte mostram que o número passou de 156.629 para 489.818, entre 2014 e 2024. O desemprego foi um dos fatores que acelerou o crescimento de MEIs no Estado. A alta taxa de desocupação nos anos da pandemia: 19,4% em 2020 e 17,1% em 2021 coincide com a disparada na abertura de MEIs: 355,6 mil; em 2020 e 415,8 mil; em 2021. 

Thiago Lucas/Artes JC
Número de MEIs em Pernambuco triplicou entre 2014 e 2024 - Thiago Lucas/Artes JC

EMPREENDER PARA SOBREVIVER

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Desesemprego avançou em Pernambuco na última década, mas está em queda - Thiago Lucas/Artes JC

"Eu comecei a empreender por necessidade, em função da dificuldade de conseguir trabalho. Eu sou alagoano de Messias (Região Mtropolitana) e minha família mora hoje em Porto Calvo. Passei 6 anos em Cuabá (MT) e, depois, com 28 anos, vim pra Recife trabalhar. Empreendo para sobreviver, mas o que faço me satisfaz. Fico feliz em ver as pessoas usando um produto que eu criei", revela. 

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Internet é ferramenta importante para microempreendedor, Herlandson Porfírio aprendeu a costurar acompanhando cursos online - Tião Siqueira/JC Imagem

Assim como outros microempreendedores individuais no Brasil, Porfírio divide seu tempo entre o pequeno negócio e um emprego com carteira assinada, que conseguiu em fevereiro deste ano. Trabalha como atendente de chat, com jornada de 12x36 horas e aproveita o dia da folga para cuidar da empresa. Ele também está cursando o terceiro período de um curso de Educação Física, em sistema de EAD. 

O ateliê da Beach Bag funciona no Pina, na Zona Sul do Recife, em um dos quartos da casa onde Porfírio vive com seu companheiro, Maykon Marques. Além de ajudar na comercialização das peças, ele é um incentivador do trabalho do pequeno empreendedor, junto com a sogra D.Vera, que sempre recebe as bolsas criadas pelo filho em Porto Calvo. 

Acervo pessoal
Herlandeson Porfírio guarda a pequena máquina onde começou a costurar suas bolsas de praia. Hoje tem uma industrial - Acervo pessoal

CURSO NO IJCPM E DESAFIOS

"Sinto que preciso ampliar minha visão de negócios e meus principais desafios são tempo e um pouco de medo. Em 2023 fiz um curso de Assistente Administrativo no Instituto JCPM de Compromisso Social (IJCPM). Além de aprender conteúdos como conceito de marca, precificação, empreendedorismo e administração, o trabalho final do curso foi a apresentação de uma loja e desfile da marca. Eu mostrei a Beach Bag", comemora, dizendo que ajudou a impulsionar o negócio. A empresa também chegou a confeccionar bolsas para um evento da juventude do IJCPM.

O pequeno empreendedor diz que a marca já chegou a criar 30 modelos diferentes de bolsas de praia e que as ecobags estão entre as campeãs de vendas. Os preços variam de R$ 20 a R$ 80 e o público são os clientes da própria comunidade do Pina, além do público LGBTQIAPN+. Tudo começou numa máquina de costura compacta e hoje ele tem uma industrial. 

Nos dias 27 e 27 de setembro, inclusive, a Beach Bag participou da sua primeira feira: a Transforma Pride 2024. O festival tem a proposta de estimular o empreendedorismo de pessoas LGBTQIAPN+. A feira contou com mais de 100 expositores de vários estados do Nordeste e um público de 10 mil pessoas. 

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Curso do Instituto JCPM de Compromisso Social (IJCPM) ajudou Herlandson Porfírio a desenhar seu pequeno negócio - Tião Siqueira/JC Imagem

VANTAGENS DE SER MEI 

Aderir à categoria de Microempreendedor Individual (MEI) é uma porta de entrada não só para a formalização, mas também para a profissionalização do negócio. "Quem opta pela formalização pelo MEi tem uma série de benefícios. Um deles é a legalização do negócio, passando a ter acesso a um CNPJ e à emissão de notas fiscais. A contribuição mensal gira em torno de R$ 71, permitindo um faturamento anual de até R$ 81 mil", explica o professor Paulo Alencar. 

O MEI também garante proteção social ao pequeno empreendedor. "Os microempreendedores têm acesso a benefícios previdenciários, incluindo direitos como auxílio-doença, aposentadoria por idade e, para as mulheres, licença maternidade. O MEI permite, ainda, contratação legal de um funcionário, oferecendo os benefícios previstos por lei. Além de tudo isso, a formalização é um caminho para facilitar o acesso a crédito e lihas de financiamento, com o auxílio de intituições como o Sebrae", orienta. 

Apesar da força das micros e pequenas empresas no País, manter-se no mercado não é tarefa simples. Os donos de pequenos negócios enfrenam burocracia na abertura das empresas, dificuldade de acesso ao crédito, altas taxas de juros e falta de orientação na solicitação de empréstimos. Tudo isso faz com que assim como é alta a taxa de abertura de MEIs também é grande a mortalidade. Uma realidade que precisa mudar, diante do potencial do pequeno negócio para a economia do Brasil. 

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