A conta fácil e a difícil de resolver para o Brasil não ficar refém da inflação
Para investidores e a população em geral, 2025 começa como ano desafiador, com incertezas externas e certezas internas que prejudicam o País

De passagem pelo Recife, o Head de Alocação do Research da XP Investimentos, Rodrigo Sgavioli, veio à capital pernambucana com uma missão: orientar parceiros e clientes investidores a equilibrar as oportunidades e riscos dentro da Renda Fixa. Com a taxa básica de juros em ciclo de alta e o nível de incerteza nos mercados internacional e nacional, a corrida por ativos de Renda Fixa se intensifica, mas ainda assim demanda cautela em um País de reviravoltas econômicas como o Brasil.
“O Brasil tem mostrado uma atividade econômica forte, com um PIB Potencial (média que não superaquece nem sub aquece a economia) bom. É uma coisa muito difícil de se alcançar, estima-se algo em torno de um crescimento entre 1,5% a 2%. O Brasil tem crescido acima dos 3% ao ano. No mercado de trabalho, a baixa renda tem sido beneficiada com o alcance de salário real (valorização acima da inflação), e temos um terceiro vetor que são as extensões dos programas sociais do governo, que estimulam o consumo, mas precisam de um limite em relação às contas do governo”, pontua Sgavioli.
NÚMEROS BONS, MAS REALIDADE DIFÍCIL
Diferentemente de 2024, o Brasil iniciou o ano experimentando taxas positivas em relação ao nível de desemprego, crescimento econômico e aumento de renda por parte da população, sobretudo aquela mais pobre. Tudo isso poderia se revelar em condições altamente favoráveis para que as pessoas consumam mais, aquecendo as vendas em lojas, a produção da indústria e, consequentemente, gerando-se um ciclo virtuoso de alta do PIB, com todos satisfeitos. Mas, no detalhe, a realidade não se coloca bem assim.
“Internamente temos uma questão que é a expansão dos gastos do governo e o baixo investimento do País na Formação Bruta de Capital Fixo (capacidade produtiva do País). País que investe pouco em Capital Fixo vê aquecimento sobre a oferta, que gera mais inflação”, reforça.
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CONSUMO ALTO E PRODUÇÃO QUE NÃO DÁ CONTA
Rodrigo Sgavioli ressalta que “dinheiro sobrando na mão se transforma em consumo para a baixa renda”, não em investimento. Ou seja, o País experimenta um crescimento econômico moldado pela demanda, com aumento da renda da população, inflada pelos investimentos públicos, como os programas sociais, mas não tem a capacidade produtiva necessária para garantir oferta de produtos e serviços sem que haja uma pressão nos preços, resultando em alta na inflação.
O problema é agravado pela falta de responsabilidade fiscal do próprio Governo Federal, que agora fecha os olhos para ações efetivas que combatam a inflação. “O País precisa parar de focar no crescimento econômico pela política monetária e não diminuir o impacto de sua política fiscal, é preciso ter maior responsabilidade”, assegura.
Apenas criticar o Banco Central, que é forçado a aumentar a taxa básica de juros, já prevista para alcançar 15,5% até o fim do ano, nada resolve diante da inércia sobre outras ações de controle inflacionário. “Mesmo que cumprindo as metas do arcabouço fiscal, o Brasil ainda não estabiliza o crescimento da dívida em relação ao PIB. O custo do Estado na economia já é de quase 1/3 ”, alerta Rodrigo Sgavioli.
CONTA MATEMÁTICA E POLÍTICA
Na avaliação dele, a “conta matemática do Brasil é fácil de resolver; mas a política, não é”. “O Brasil sempre chega na boca do vulcão, mas nunca se joga. A inflação causa comoção de alguma forma e corrige a rota para o bem ou para o mal”, diz em relação à adoção de medidas que contenham os gastos e o avanço inflacionário.
No que diz respeito ao mundo, a economia americana também é um fator considerável, embora para ele as taxações de Trump mesclem um revanchismo e a necessidade de proteção da produção interna americana, o que pode se reverter em mais inflação para o próprio país, com pressão sobre salários em função da política migratória e, ao mesmo tempo, potencialização da abertura de novos mercados internacionais para os produtos brasileiros - o que se torna uma via de mão dupla em relação a perdas e ganhos da economia brasileira.
COMO FICAM OS INVESTIMENTOS
Com a Selic em alta e uma dinâmica quase contínua de elevações nas curvas de juros futuros, tanto nominal quanto real, os ativos de renda fixa brasileiros começaram a apresentar retornos esperados cada vez maiores. Para a XP, se ajustados aos seus riscos medidos pela volatilidade, por exemplo, esses fatores levam a uma maior exposição à renda fixa, cada vez mais vantajosa para os portfólios, mas que não deve ser adotada em sua totalidade.
“Os investidores devem buscar maior otimização dos retornos de suas carteiras através de estratégias mais focadas em carrego (rendimento gerado por um ativo ao longo do tempo, como juros ou dividendos, proporcionando retornos periódicos ao investidor)”, aproveitando também os momentos de aumento no valor de mercado de um ativo em relação ao seu preço de compra, que pode acontecer antes do vencimento em decorrência de redução na percepção de risco econômico, no chamado ganho de capital.