Em Pernambuco, 190 mil famílias pobres esperam pelo Bolsa Família

Bolsa Família atende 13,1 milhões de famílias brasileiras, mas 3,5 milhões de pessoas estão à espera do benefício

Quase 190 mil famílias pernambucanas estão na fila de espera para entrar no Bolsa Família, principal programa de transferência de renda do País. Desse total 167.943 estão na extrema pobreza – renda mensal por pessoa de até R$ 89. Os demais estão na faixa da pobreza, com renda mensal por pessoa entre R$89,01 e R$ 178. Esse retrato tem se repetido em todo País e, atualmente, 3,5 milhões de pessoas estão à espera do benefício.

De acordo com dados do Ministério da Cidadania, apenas 414 famílias pernambucanas conseguiram ter acesso ao Bolsa Família em janeiro de 2020. Com um panorama de desassistência do programa federal, as pessoas têm buscado apoio nas portas da prefeituras. Segundo a vice-presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) e prefeita de Surubim, a 120 km do Recife, Ana Célia de Farias, os centros de assistência social dos municípios estão recebendo diversos pedido de ajuda, como cestas básicas.

Bolsa Família atende 13,1 milhões de famílias brasileiras

Na cidade agrestina que comanda, Ana Célia viu praticamente dobrar o número de cestas básicas doadas à população em extrema pobreza. Sem especificar os números, ela diz que teve que fazer um aditivo ao contrato para a distribuição de alimentos. "São pessoas que acordam e não têm o que comer. A situação ainda é pior por causa da seca que enfrentamos no Agreste", comenta a prefeita de Surubim.

Como vice-presidente da Amupe, Ana Célia afirma que a situação é descrita por outros prefeitos pernambucanos. O principal sintoma desse entrave para a liberação dos recursos do Bolsa Família para as famílias pobres é a redução do consumo, que logo impacta a economia das cidades. "É nos municípios que as pessoas vivem. É onde buscam apoio e é onde se sentem os primeiros reflexos. Sem esse dinheiro não se compra comida no mercadinho, não paga a conta da farmácia", explica Ana Célia.

Impacto do Bolsa Família na economia

Para o economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social, os repasses do Bolsa Família vêm diminuindo nos últimos cinco anos, mas foi em 2019 que os cortes ficaram mais intensos. Maio do ano passado foi quando houve a queda mais brusca no volume de concessões. Dados do Ministério da Cidadania apontam naquele mês, 264.159 famílias foram incluídas na lista de beneficiários. Já a partir de junho esse número caiu para 2.542.

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O diretor do FGV Social pontua que, entre 2014 e 2018, a renda dos 5% mais pobres no Brasil caiu 39% e, como consequência, a extrema pobreza aumentou em 67% neste nesse intervalo. "Em 2019 houve a liberação do 13º salário do Bolsa Família, mas não houve reajuste do valor repassado", comenta Neri. Ele acredita que a busca por casos de fraudes para focalizar o benefício é louvável, mas que "não se resolve problema econômico com ajuste fiscal em cima dos pobres."

Cada real gasto com o Bolsa Família impacta três vezes mais o PIB que os benefícios da previdência social e 50% mais que o BPC

Marcelo Neri, diretor do FGV Social

Atualmente, o Bolsa Família atende 13,1 milhões de famílias brasileiras. O benefício médio está em R$ 191,08 por mês. Em dezembro de 2019 o valor total transferido pelo governo federal em benefícios às famílias atendidas alcançou R$ 2,5 bilhões no mês. O Nordeste é a região mais beneficiada pelo Bolsa Família. Em Pernambuco atende 1,1 milhão de famílias, com valor médio de R$ 186,11. No mês o Estado recebe R$ 210 milhões que serão repassados por meio do Bolsa Família.

Segundo Marcelo Neri, do FGV Social, o custo do programa é de apenas 0,4% do PIB. Para cada R$ 1 gasto com o Bolsa Família são gerados R$1,78 para a economia brasileira. "Isso significa que cada real gasto com o Bolsa Família impacta três vezes mais o PIB que os benefícios da previdência social e 50% mais que o BPC, outra política voltada aos pobres", analisa Marcelo Neri.

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