Minimizar os impactos causados pela pandemia do novo coronavírus tem sido um verdadeiro desafio para professores do ensino superior público em Pernambuco. Após mais de cinco meses com as aulas suspensas, universidades e institutos federais decidiram adotar as aulas remotas como alternativa para os mais de 64 mil alunos no Estado.
Professora do Departamento de Psicologia do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Emília Lins comenta que as aulas remotas exigem um esforço maior dos docentes, que tiveram que se reinventar, usando da criatividade para adaptar os conteúdos nas disciplinas que lecionam.
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"Tem sido um momento difícil porque, além do desafio da tecnologia, tivemos que pensar muito como faríamos essa adaptação. Com as aulas remotas, não dava para fazer uso das mesmas ferramentas didáticas e pedagógicas que usávamos presencialmente. A dinâmica mudou completamente", afirma.
Com aproximadamente 100 estudantes neste semestre suplementar remoto, Emília afirma que tem se esforçado bastante para tornar suas aulas mais leves e atrativas para os estudantes. Apesar de possuir limitações por não ter muita habilidade com a tecnologia e nem equipamentos com bom desempenho, ela tem usado estratégias mais dinâmicas durante as aulas. Dividida em momentos síncronos (estudantes e professor ao vivo) e assíncronos (atividades que não necessitem da interação em tempo real), a disciplina tem tido encontros ao vivo quinzenais, com no máximo 2h horas de duração.
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"Estou evitando ao máximo estabelecer uma relação como se fosse uma simples adaptação. Tento fazer com que cada encontro esteja conectado com o que a gente está vivendo em sociedade atualmente. Minha principal estratégia foi envolvê-los com o conteúdo, criando momentos de debates provocativos a partir de uma análise de um filme, documentário ou charge, por exemplo".
Estudante do 2º período de Ciências Sociais na Universidade de Pernambuco (UPE), Clara Rito, 23 anos, tem sentido de perto o esforço dos professores nas três matérias em que está matriculada. Apesar ter aulas virtuais muito parecidas com as presenciais, com poucos recursos de inovação, ela reconhece o esforço dos docentes em deixar o ambiente acadêmico mais tranquilo.
"O esforço que todos vem fazendo para dar certo e fazer o período suplementar acontecer é imenso. Temos uma professora que a aula dela é muito melhor agora. Toda turma sentiu isso porque antes ela falava três, quatro horas seguidas sem um minuto de respiro. Agora, ela promove debates e análise de documentários. Eles, inclusive, estão dando uma abertura muito maior no que diz respeito a ouvir a opinião do aluno. Por exemplo, se eles dão um prazo para uma atividade e a gente diz que esse prazo não é suficiente, eles colocam outro. Isso não acontecia no 1º período".
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Professor do curso de Administração do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), Erick Viana comenta que, mesmo já tendo trabalhado com o Ensino a Distância (EAD), as aulas remotas necessitam de um esforço a mais para que a aprendizagem seja efetiva. Apesar de usar ferramentas tecnológicas em suas aulas antes da pandemia, ele conta que teve que aprender a utilizar outros recursos para facilitar o entendimento dos conteúdos.
"Com a pandemia, comecei a utilizar estratégias que não usava com tanta frequência, como por exemplo, aprender a mexer em editor de vídeos e outros recursos audiovisuais para deixar as aulas ainda mais atrativa. Tenho um colega, professor de eletrônica, que montou um sistema em que conseguia ligar remotamente os computadores do nosso laboratório e dar acesso aos alunos. Assim, os estudantes podiam usar de casa o software instalado nos computadores do IFPE naquele momento da aula", lembra.
Prestes a concluir a graduação em Engenharia de Controle e Automação na UPE, Vinicius Lins, 23 anos, também avalia com bons olhos a desenvoltura de seus professores com as aulas remotas. Na sua opinião, o ensino remoto durante este período de isolamento social tem sido uma boa alternativa. Ele defende que, apesar das limitações, é preciso que o corpo docente das universidades continue se atualizando com as tecnologias e que haja maiores investimentos na Educação porque acredita que, com a chegada da vacina, o ensino deverá ser bastante diferente do que era realizado antes.
"Acredito que a quebra do paradigma de que o aprendizado é algo que só pode ser feito dentro de um ambiente físico vence o preconceito de que o ensino remoto não é algo de qualidade. No entanto, é necessário mais investimento e reciclagem do corpo docente para se adaptar a uma nova modalidade de ensino e a democratização do acesso à educação que, virtual ou presencial ainda deixa a desejar", conclui o estudante do 9º período.
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