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A morte de um ídolo imperfeito

MARADONA Maior jogador da Argentina faleceu ontem, aos 60 anos

Marcos Leandro
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Marcos Leandro
Publicado em 26/11/2020 às 2:00
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Com seu estilo peculiar de escrever sobre futebol, sobretudo o sul-americano, o escritor uruguaio Eduardo Galeano, falecido em 2015, disse certa vez que Maradona era o "mais humano dos deuses". Foi a forma que encontrou de descrever a idolatria do povo argentino e de milhares de outros fãs do futebol por Diego Armando Maradona. Craque que foi capaz de encantar dentro das quatro linhas e surpreender ainda mais com suas polêmicas fora de campo (sobretudo o vício em cocaína e álcool). Esse personagem, um dos maiores símbolos da Argentina se foi. Ontem, aos 60 anos, Maradona não resistiu a uma parada cardiorrespiratória e faleceu.

A notícia foi dada pelo jornal Clarin e logo explodiu por todo o mundo, dando a dimesão do que é Maradona. O ex-jogador estava em casa desde que recebeu alta há duas semanas após uma recente cirurgia por conta de um coágulo na cabeça. Ele estava hospedado em uma residência no complexo Nordelta, distrito de Tigre, 40 km ao norte de Buenos Aires.

Aos 60 anos, completados no fim do mês passado, Maradona se vai como um dos maiores da história do futebol. Seu legado transcendeu as fronteiras e o craque fez história também na Europa com a camisa do Napoli, além de ter sido o capitão que deu a Argentina o seu último título da Copa do Mundo, em 1986, com atuações incríveis.

"Maradona só nos deu felicidade, estamos eternamente em dívida", disse o presidente Alberto Fernández, que decretou três dias de luto nacional e suspendeu suas atividades. "Maradona foi um homem absolutamente genuíno, que expressava tudo com a força com que jogou futebol. É um dia muito triste para todos os argentinos, é uma pena", disse o presidente, torcedor do Argentinos Juniors, clube onde Maradona deu seus primeiros passos como jogador.

Durante a sua vida e também na carreira, Maradona afundou e renasceu várias vezes. Nascido em 30 de outubro de 1960, viveu a infância em Villa Fiorito, um bairro muito pobre da periferia da capital argentina, onde começou a se destacar por sua habilidade com a bola nos pés.

Diego deu os primeiros passos nas divisões de base do Argentinos Juniors, clube pelo qual estreou na Primeira Divisão aos 15 anos, em 20 de outubro de 1976. Seguiu para o Boca Juniors (1981-1982), onde conquistou um campeonato nacional. Se transferiu para o badalado Barcelona (1982-1984), mas não atingiu o ápice na Catalunha. Ele foi contratado em seguida pelo italiano Napoli (1984-1991), onde virou ídolo. Elevou o time do Sul da Itália às potências Milan e Juventus, ganhando, inclusive, dois scudettos (títulos do Campeonato Italiano em 1987 e 1990). Ganhou ainda a Copa da Uefa (hoje Liga Europa) em 1989. O estádio do Napoli passará a ser chamar Diego Armando Maradona.

Mas em 17 de março de 1991, seu vício em cocaína custou-lhe a primeira suspensão de 15 meses. Voltou aos gramados atuando pelo espanhol Sevilla (1992-1993) e de lá retornou à Argentina para uma breve passagem pelo Newell's Old Boys em 1993. Depois da Copa do Mundo de 1994 e da segunda sanção, vestiu mais uma vez a camisa do Boca, onde deixou os gramados em 25 de outubro de 1997, cinco dias antes de seu 37º aniversário.

Numa despedida memorável em 2001, dentro do estádio La Bombonera lotado, Maradona falou sobre seus vícios: "Errei e paguei, mas o que fiz em campo não se apagou". Maradona disputou 680 partidas e marcou 346 gols em 21 anos de carreira, entre a seleção e clubes.

SAÚDE

O coágulo na região subdural (entre o crânio e o cérebro), que o levou a fazer uma cirurgia há duas semanas, foi o mais novo capítulo de um longo histórico de problemas de saúde enfrentados por Maradona. Ele teve uma série de passagens de emergência por hospitais, seja por overdose ou por hepatite.

O argentino teve o primeiro grande susto em janeiro de 2000. Maradona estava hospedado em um resort de luxo em Punta del Este, no Uruguai, quando teve uma overdose de cocaína, sofreu uma crise de hipertensão e foi levado às pressas a um hospital.

Após se recuperar do susto, Maradona começou a luta contra a dependência química e se mudou para Cuba, onde frequentou uma clínica. Anos depois, em 2004, chegou a ficar em coma após se apresentar em um hospital de Buenos Aires com problemas cardíacos e respiratórios. Logo depois de ter alta, o ex-jogador decidiu realizar uma cirurgia bariátrica para conseguir emagrecer.

Em março de 2005, o argentino foi operado na Colômbia. Pesava cerca de 130 kg e conseguiu perder 50 kg. Porém, voltou a ter novos problemas de saúde dois anos depois. No primeiro semestre de 2007 foi a vez de uma hepatite levá-lo de volta ao hospital. Após a cocaína e o excesso de peso, o consumo de álcool era o vilão do momento.

Maradona decidiu logo depois fazer um tratamento psiquiátrico para combater o alcoolismo. Em maio de 2007, declarou que havia conseguido parar de beber e havia interrompido o uso de drogas.

Depois de mais de uma década longe dos graves problemas, Maradona cuidava bastante das articulações, em especial do joelho esquerdo. O argentino passou a caminhar com dificuldade e evitava ficar muito tempo de pé para não sentir mais dores. Nos trabalhos mais recentes como treinador, na maior parte do tempo via os jogos sentado em uma cadeira colocada à beira do gramado.

Um novo susto veio em janeiro de 2019. Maradona teve um sangramento estomacal causado por uma hérnia e foi submetido a nova cirurgia em Buenos Aires. Meses depois, em julho, o argentino foi operado de novo, mas dessa vez para colocar uma prótese no joelho direito, que não tinha mais cartilagem. Em 2020, ele retomou um plano rígido de exercícios físicos e de alimentação regrada. Chegou a emagrecer 11 kg.

Entre filhos reconhecidos e outros não, Maradona deixa oito descendentes.

 

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